O desalento, o desprezo e o desencanto


O desalento, o desprezo e o desencanto



Carlos José Marques, diretor editorial07.07.17 - 18h00

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A putrefação do sistema político vem acompanhada de uma repulsa, quase revolta, dos brasileiros para com todo e qualquer assunto ou personagem curtido nas platitudes do poder. Abarca de líderes partidários, parlamentares em geral e ícones dos palanques a sindicalistas pelegos que tentam a qualquer custo badernar a rotina das cidades para chamar atenção. Nenhum senador, deputado, governador, ninguém da ala dos ditos de oposição, representantes dos intitulados “movimentos sociais”, agitadores contumazes – e mesmo os controladores do sistema – perceberam ainda: o povo cansou. Está enojado com o circo de horrores. Descrente. Desmotivado. Combalido pelo escracho da corrupção endêmica que tomou do Legislativo ao Executivo e comprometeu até algumas decisões do Judiciário. Vai daí, certamente, o rotundo fracasso da autoproclamada (sem nenhuma razão para assim ser chamada) greve geral convocada na sexta, 30, pelas centrais de sempre, CUT, MTST e quetais. Deprimente desempenho é quase um elogio diante do que se viu. Ruas vazias. A Esplanada dos Ministérios completamente às moscas, com um batalhão de 2.800 policiais a monitorar – imagine só – contados 30 sindicalistas que faziam fuzarca sem plateia. Virou mero feriadão sem causa. A isso ficou resumida a indignação dos protestos. E a mais alguns amontoados de pelegos País afora, com seus carros de som a fazer barulho, pneus queimados, ônibus incendiados e quebra-quebras. Restou a prática da bandidagem por várias praças, tal qual nas plenárias do Congresso. Os líderes dão o exemplo. O mau exemplo. A imoralidade grassa com fervor por essas paragens e vem colocando de ponta-cabeça princípios e questionamentos de uma geração inteira. Muitos batem em retirada. Há um índice crescente de famílias deixando o País. Buscando outros destinos, novos ambientes, mais dignos, onde a lei, a retidão e o direito prevaleçam, como parâmetros a ajudar na criação de seus filhos e netos. Quem consegue educar decentemente no Brasil diante dessa cambada de salafrários odiosos? Ladrões de gravata tomaram Brasília, a Capital Federal, e arrotam cinismo e valentia, como se ainda pudessem impor uma nova ordem. Com que moral eles convocam o povo para reclamar de seus desígnios? Falta-lhes vergonha na cara. Sequer assumem erros ou culpa direta na cumbuca de malfeitos. Vagabundos sem redenção. Outro dia, no maleável conceito de defesa dos interesses públicos, um grupo de parlamentares sedento de desgraça ameaçou barrar as reformas estruturais e quaisquer outras medidas, mesmo que construtivas, enviadas pelo Executivo – como a dizer: vamos implodir com a governabilidade para nos fartar, de novo, mais adiante, nas sobras e carniça do Estado. Riem como hienas da tragédia que se abateu sobre os cidadãos, pagantes de impostos e verdadeiros financiadores (naturalmente a contragosto) da farra congressual. Os quase 14 milhões de desempregados deixados de legado por uma gestão petista tão estúpida como irresponsável não interessa a essa gente. O que conta, o que prevalece, é o retorno de cada um no esquema da vez. Larápios de carteirinha, mancomunados com um bloco de empresários da pior espécie – para quem a ideia de levar vantagem soa como mantra das orações -, os próceres de Brasília perderam o pudor. São quase dois mil corruptos na lista da propina de apenas uma empresa, a JBS, segundo revelou em delação o “rei do gado”, Joesley Batista. No curral dos irmãos Batista, o icônico ex-presidente Lula puxa o rebanho, alimentado por US$ 150 milhões em contas na Suíça. Dá para imaginar? Meio bilhão na moeda local para fartar as necessidades do petista e de sua cambada. Insuficiente, mesmo assim, diante do apetite de um réu detentor de folha corrida com cinco processos nas costas. Só no tresloucado ambiente dos políticos sem caráter um sujeito com tamanho plantel de ocorrências ainda sonha em voltar à Presidência. Seria a coroação dos desaforos à Nação. Assistir na TV, ouvir no rádio ou ler em jornais e revistas sobre os desmandos e desvios do dia já vem sendo um suplício interminável. Os políticos, a quase totalidade deles, depravaram o País. Sendo pragmáticos, os brasileiros irão notar que a solução plausível, real, factível encontra-se nas eleições de 2018. Ali, nas urnas, a depuração pode e deverá ser feita a contento. Como já ocorreu nos pleitos municipais do ano passado, quando se varreu do mapa dogmas sedimentados e ilusões com promessas vãs dos oportunistas. Para a reformulação da velha e carcomida política o papel de cada eleitor será fundamental. Não é o momento para omissões. Players tidos como outsiders começam a despontar e é bom prestar atenção neles e evitar, a qualquer custo, o retorno daqueles que fizeram do Estado um balcão de negócios insidiosos para as suas gatunagens.

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