Ameaça real Um teste bem-sucedido com míssil de longo alcance mostra que a Coreia do Norte não é só bravata. A ditadura de Kim Jong-un tem mesmo poder de fogo para atacar os EUA, seus aliados e iniciar uma guerra
Ameaça real
Um teste bem-sucedido com míssil de longo alcance mostra que a Coreia do Norte não é só bravata. A ditadura de Kim Jong-un tem mesmo poder de fogo para atacar os EUA, seus aliados e iniciar uma guerra
TENSÃO O líder norte-coreano escolheu o dia da Independência dos EUA para fazer o teste. O governo de Trump mantém-se em alerta (Crédito: Reprodução)
Raul Montenegro07.07.17 - 18h00
“Os bastardos americanos devem ter ficado muito infelizes depois de ver o presente que mandamos para eles no Dia da Independência.” Com essas palavras, o excêntrico líder norte-coreano, Kim Jong-un, comemorou, às gargalhadas, o teste balístico mais bem-sucedido da história da ditadura comunista. Em pleno 4 de julho, o regime declarou que lançou com sucesso o míssil intercontinental Hwasong-14, capaz de chegar até o território dos Estados Unidos. A informação foi confirmada por Washington, que descreveu o exercício como uma “nova escalada” que ameaça todo o mundo. O armamento é perigoso porque pode ser capaz de levar uma bomba atômica a boa parte do planeta em questão de minutos. Ou seja, as declarações dadas pelo histriônico mandatário deixaram de ser bravata e viraram realidade. “O risco de guerra entre EUA e Coreia do Norte ficou alto”, diz Gunther Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco. “Para os militares americanos, é inaceitável que os coreanos tenham mísseis intercontinentais e ogivas nucleares.”
A Coreia do Norte declarou, exageradamente, que o novo foguete pode alcançar qualquer parte do globo. Não restam dúvidas, porém, que o dispositivo pode cobrir uma distância de 6,7 mil quilômetros. O teste feito na terça-feira não chegou tão longe, mas o míssil foi a 2,8 mil quilômetros de altura, subindo mais do que avançando. Caiu a 930 quilômetros do local de lançamento, no mar do Japão. Essa trajetória permite saber que o mesmo foguete, fazendo um caminho mais horizontal, chegaria ao estado do Alasca. Os mísseis servem para carregar bombas atômicas, que Pyongyang já possui. É impossível saber quantas. No entanto, o Instituto dos EUA para Ciência e Segurança Internacional estimou em junho de 2016 que o número está entre 13 e 21. Ainda há incerteza se eles seriam capazes de fabricar armas nucleares compatíveis com os foguetes, mas uma fronteira foi claramente quebrada.
Os EUA possuem poucas opções. Uma delas é manter a política de “paciência estratégica”, que consiste em sanções econômicas e pressões diplomáticas. A tática vinha dando certo porque os norte-coreanos não representavam uma ameaça real. O cenário mudou desde o teste, porém. Até 2020, é provável que eles sejam capazes de atacar a costa oeste americana, que inclui cidades como Los Angeles e São Francisco. A outra possibilidade dos EUA é partir para o ataque, caminho que pode causar pelo menos 1 milhão de mortes. O regime não possui chances de derrotar os americanos, que desfeririam um assalto avassalador. Porém, só a artilharia comunista voltada para a metrópole de Seul, na Coreia do Sul, causaria centenas de milhares de baixas em poucos dias. É improvável que os EUA usem armamento atômico sem que sejam agredidos dessa forma primeiro. “Autocontrole é a única coisa separando o armistício da guerra”, afirmou o comandante das tropas americanas na Coreia do Sul, general Vincent Brooks, na quarta-feira 5.
A reunião do G20, iniciada na sexta-feira 7 na Alemanha, reuniu os líderes dos países mais ricos do mundo, incluindo duas nações diretamente relacionadas ao conflito, Rússia e China. Ambas fazem fronteira com a Coreia do Norte e condenaram os testes, mas possuem uma relação de antagonismo com os EUA. Apesar disso, é pouco provável que tomem medidas concretas. Os chineses possuem forte relação comercial com Pyongyang e não parecem interessados em enfraquecer o regime comunista e deixar a região para ser tomada pela Coreia do Sul, consolidando um aliado americano no quintal de casa.
O MMA de Trump
Do esperado encontro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, com o da Rússia, Vladimir Putin, pouco deve sair para aliviar a tensão. Pelo contrário, é muito provável que o estilo boquirroto do republicano coloque mais lenha na fogueira. Na mesma semana da crise, o presidente arranjou uma briga com o canal de notícias CNN após publicar um vídeo com uma montagem em que ele aparece socando um homem com o logotipo da emissora no lugar do rosto. A mensagem foi vista como um ataque a toda a imprensa, além de uma apologia à violência contra jornalistas. “Trump adiciona essas falas intempestivas”, diz Geraldo Zahran, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). “No entanto, os principais problemas permaneceriam com qualquer outro presidente.”
Se de um lado há Trump, do outro está Kim Jong-un, dono de uma reputação ainda pior do que a do colega americano. Suas atitudes são baseadas na frágil posição internacional da Coreia do Norte. O país é inimigo da única potência global da atualidade, mesmo sendo paupérrimo e com poucas fontes de influência externa. Parece improcedente, porém a saída encontrada foi ladrar o mais alto possível para garantir a sobrevivência. O plano vem dando certo, e Pyongyang pode ter se tornado um risco muito grande para ser ignorado. “Kim Jong-un não abrirá mão das armas atômicas por causa do exemplo de Muammar Gaddafi”, diz Rudzit. “O líder líbio abriu mão de seu programa nuclear para não ser o próximo Saddam Hussein, mas, quando o Ocidente achou que precisaria removê-lo, assim o fez.” A memória está fresca na mente de Kim. Ainda não se sabe se isso será sua salvação ou seu fim.
O fim do Estado Islâmico?Reprodução
Enquanto os novos inimigos dos Estados Unidos ganham poder, outros, velhos, dão mostras de que estão chegando perto do fim. É o caso do Estado Islâmico, grupo terrorista que anunciou a instalação de um “califado” no Iraque e na Síria em 2014, mas que no período de pouco mais de dois anos encolheu 80%, de acordo com uma pesquisa feita pela consultoria internacional IHS Markit. O número se refere às perdas financeiras dos radicais, que viram desaparecer suas principais fontes de renda, a venda de petróleo e o contrabando de antiguidades, como consequência de uma perda territorial de 60% no mesmo período. O faturamento caiu de US$ 81 milhões em janeiro de 2015 para apenas 16 milhões em junho de 2017. Infelizmente, é provável que os terroristas aumentem o número de atentados na Europa, com integrantes que vivem no continente, para compensar a derrocada. “O Estado Islâmico provavelmente vai quebrar antes do fim do ano, reduzindo seu projeto de governo a uma série de áreas isoladas que serão retomadas no curso de 2018”, diz Columb Strack, analista para o Oriente Médio da IHS Markit.
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