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O MINISTRO DA COCAINA-O avião de coca, o ministro e uma fazenda no meio
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O avião de coca, o ministro e uma fazenda no meio
Uma aeronave carregada com cocaína pousou em Goiás. O piloto disse ter partido de uma fazenda do ministro Blairo Maggi no MT. Mentiu e apimentou um enredo novelesco recheado de idas e vindas. O que pode estar por trás dessa história?
Eduardo Militão
A rocambolesca história de um avião carregado com 662 kg de cocaína foi responsável esta semana por uma profunda dor de cabeça ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Era tarde de domingo 25. O monomotor Piper com prefixo PT-IIJ, sobrevoava o Mato Grosso, na divisa com a Bolívia, quando os radares da Aeronáutica na Amazônia localizaram o aparelho. Logo, foi enviado para a região um Super-Tucano E-99 da FAB que costuma “farejar” aeronaves suspeitas na região, uma conhecida rota usada por traficantes de drogas. Contatos via rádio foram feitos e o piloto do monomotor suspeito Apoena Índio do Brasil Siqueira Rocha informou aos militares que havia decolado de uma pista de pouso na Fazenda Itamarati, de Blairo Maggi, em
Campo Novo do Parecis (MT) e pretendia aterrissar em Santo Antônio do Leverger (MT). Sem saber que o piloto blefava, ao envolver o nome do ministro no caso, os militares determinaram que a aeronave descesse no aeródromo de Aragarças (GO), entre Cuiabá e Goiânia, e uma tragédia quase aconteceu. O piloto desobedeceu a ordem e o Super-Tucano, por pouco, não “abateu” a tiros o monomotor. Essa postura levou o piloto do pequeno avião a ser considerado “hostil”. Uma lei de 1986 e um decreto de 2004 autoriza a Aeronáutica, em último caso, a atacar um avião suspeito até usar a “medida de destruição”.
Assustado, o piloto fez um pouso forçado no meio de uma área rural em Jussara (GO). Ele e o passageiro do monomotor fugiram, deixando no local o avião carregado com quase meia tonelada de cocaína. A Polícia Federal correu para o local, apreendeu a droga, e adiantou-se para informar a imprensa do ocorrido. Resultado: de uma hora para outra, o ministro virou suspeito de ter ligações com o narcotráfico. Mas o enredo, àquela altura ainda nebuloso, seria repleto de idas e vindas.
Integrante de um governo abalado por denúncias de corrupção, Blairo Maggi poderia constituir um novo embaraço para o ministério de Temer. Por isso, ele se apressou. Correu para as redes sociais, hoje o meio mais rápido de prestar um esclarecimento público. Disse que a fazenda Itamarati, em Campo Novo do Parecis (MT), estava arrendada pela empresa Amaggi, de sua família, mas explicou que a propriedade tinha 11 pistas de pouso, de difícil controle. “É extensa (a fazenda) e enfrenta, como o Mato Grosso, a ação vulnerável do tráfico”. Mas pontuou: “Nada tenho a ver com o avião repleto de cocaína”. A dúvida, no entanto, persistiu e povoou a mente de todos os que acompanhavam atentamente a história. A droga, avaliada em R$ 20 milhões, teria alguma ligação com o ministro e sua família?
FALSA SUSPEITA O ministro Blairo Maggi disse quepassou por vexame desnecessário. Ele nada tinha a ver com a droga
O avião carregado com cocaína quase foi abatido pela FAB, pouco depois de o piloto dizer que decolou de fazenda de ministro
Tudo só começaria a ficar esclarecido na segunda-feira 26. O piloto Apoena Índio do Brasil se hospedou num hotel em Itapirapuâ, a 30 kms de Jussara (GO), junto com seu acompanhante Fabiano Junior Silva. Os dois foram denunciados por uma ligação anônima. A PF prendeu os dois. Em depoimento ao delegado Bruno Gama, o piloto disse que, na verdade, o avião saiu da Bolívia e não parou na fazenda do ministro, como ele havia dito por rádio à FAB no domingo. Afirmou que o plano de vôo indicando que decolou da fazenda Itamarati era falso para “enganar” as autoridades, caso fosse pego. Um blefe. Índio do Brasil confessou que o avião saiu mesmo da Bolívia, onde foi carregado com a droga. A polícia constatou, mediante a análise do GPS da aeronave, que ele realmente havia decolado de território boliviano. Para o piloto, Fabiano, seu passageiro, se apresentou como dono da aeronave e lhe prometeu pagar R$ 90 mil para transportar a droga da Bolívia a São Paulo. Aliviado, Blairo Maggi divulgou nova nota. “É lamentável ter passado por um vexame público desnecessário”, disse o ministro na noite de terça-feira 27.
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