Rodrigo Maia: O dilema de ser aliado ou algoz

POLÍTICA

Rodrigo Maia: O dilema de ser aliado ou algoz

O presidente da Câmara vive a incômoda posição de poder definir o impeachment de Michel Temer e, ao mesmo tempo, ser beneficiário dele

26/05/2017 - 18h32 - Atualizado 26/05/2017 21h31
Rodrigo Maia presidente da Câmara (Foto:   Sérgio Lima / Editora Globo)
A reunião na residência oficial da Presidência da Câmara, em Brasília, começou na noite da agitada quarta-feira, dia 24, e se estendeu até as 4h30 de quinta-feira. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM, conversava com representantes da turma que o elegeu ao cargo – PT, PDT, PCdoB, PP, PR e outros. “Só vou me mexer junto com vocês”, afirmou. De diferentes formas, em vários momentos, todos disseram que ele deveria exercer sua autoridade. “O poder não tem vácuo. Exerça o poder, ou você será atropelado”, disse um dos petistas presentes. Pragmático, o PT não alimenta ilusões de uma eleição direta. Quer a queda de Michel Temer, fazer confusão e barulho no plenário para isso, ter espaço político na Câmara e brigar pela eleição de 2018. Não havia ninguém do DEM no encontro. Não havia ninguém do Palácio do Planalto, nem o sogro de Maia, o ministro Moreira Franco, um dos mais próximos assessores do presidente Michel Temer. Rodrigo Maia estava com sua turma.
>> O ato de força que expôs a fragilidade de Michel Temer

Na quinta-feira, Maia recebeu colegas do DEM. Apesar de ser seu partido, do qual já foi presidente, não é sua turma e ele estava pouco à vontade. Ouviu mais do que falou, diante da indecisão do DEM sobre o que fazer em relação a Temer. A casa de Maia virou ponto de encontro daqueles que buscam uma saída para a crise. O cargo lhe dá a prerrogativa de poder acelerar, atrasar ou derrubar os 14 pedidos de impeachment do presidente da República já protocolados. Maia pode manter-se fiel a Temer, pode ser o presidente da Câmara que conduzirá a eleição indireta caso Temer deixe o cargo e, eventualmente, pode ser candidato e ser eleito por seus pares para ser presidente da República até o fim de 2018. A conjuntura excepcional colocou um poder ímpar nas mãos de Maia – mas acarreta um risco da mesma proporção e um dilema doloroso. Maia não pode romper com Michel Temer, mas também não pode apoiá-lo incondicionalmente.  
Rodrigo Maia,de jeans e camiseta,acompanha Michel Temer,de terno e gravata.O dilema de quem pode acelerar o impeachment de Temer e ser beneficiário dele (Foto:  Eduardo Anizelli/Folhapress)
Rodrigo Maia era um parlamentar bastante desgastado pela oposição aos governos Lula e Dilma quando foi alcançado por Eduardo Cunha do PMDB, em sua tentativa de eleger-se presidente da Câmara, no final de 2014. Seu partido encolhia, podia até perder parte do espaço físico privilegiado que sua liderança tem na Câmara. Rodrigo ajudou e tornou-se aliado de Cunha. A Lava Jato tirou Cunha do cargo no ano passado. Contra a vontade dele, Rodrigo elegeu-se presidente da Câmara. Assumiu o compromisso de segurar quanto pudesse o processo de cassação do aliado. Quando não tinha mais alternativas, colocou em votação a cassação e Cunha perdeu. Às 16h57 da quarta-feira, Brasília ardia. A Esplanada dos Ministérios explodia em bombas de gás lacrimogêneo, tiros, fogo em prédios públicos e indignação. O Congresso implodia em bofetões entre deputados da oposição e da base do governo. Os oposicionistas, inconformados com a decisão do cambaleante presidente Michel Temer de convocar as Forças Armadas para controlar o confronto entre manifestantes e polícia. “Calma, calma, calma”, evocou Maia. E explicou sua parte no episódio. “Eu quero deixar claro que meu pedido ao governo foi da Força Nacional. Do apoio da Força Nacional (para reforçar a segurança na Esplanada). A decisão tomada pelo governo (de chamar as Forças Armadas) certamente tem relação com aquilo que o governo entendeu relevante para garantir a segurança tanto dos manifestantes quanto daqueles que trabalham na Esplanada.”
Rodrigo Maia nasceu no Chile porque o pai, César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, vivia como exilado em virtude da perseguição imposta pela ditadura militar que conduzia o Brasil naquele início da década de 1970. Chamar militares não estava no cardápio de Rodrigo Maia. Assim, pouco depois de falar, Maia divulgou em uma rede social uma cópia do ofício que enviara ao presidente. Se Michel Temer chamara as Forças Armadas, não fora por culpa sua. Sua atitude deixou o presidente da República arcar sozinho com a responsabilidade por uma decisão ruim. Sinal claríssimo de que desembarcou de Temer. Assim como fez com Eduardo Cunha no ano passado, Maia demarcou um limite a sua fidelidade: ajudará, mas não afundará publicamente com Temer. Quando um presidente da República está forte, coisas assim não acontecem. Rodrigo Maia quer preservar seu futuro político. Temer, como se sabe, pode não ter um.
No episódio das Forças Armadas, Rodrigo Maia demarcou um limite: ajudará, mas não afundará junto com Temer
Quem vê Maia de forma simplista, como um almofadinha, confunde aquele ar de bebezão que o rosto redondo lhe confere com fraqueza, equivoca-se. Maia não é um parlamentar conservador intransigente. Ao contrário: como mostra a reunião em sua casa, não só dialoga bem com aqueles que são seus adversários e o venceram seguidamente nos governos Lula e Dilma, como é respeitado e apoiado por eles. Subestimar Maia tem se mostrado um erro. Foi com a ajuda dessa turma que ele derrotou Rogério Rosso na eleição para o mandato-tampão, no ano passado, e ganhou de novo no início deste ano. Maia começou na política com a ajuda do pai, no Rio de Janeiro, mas se fez sozinho. Junto com ACM Neto, hoje prefeito de Salvador, ele puxou a troca de gerações no DEM e promoveu a troca do nome da sigla, enterrando o antiquado PFL.
Até a delação da Odebrecht, Maia planejava disputar o governo do Rio de Janeiro em 2018. Mas os arquivos da Odebrecht revelaram que ele era o Botafogo, referência a seu time do coração, nas planilhas do setor de propinas. Com a delação, acabou a paz. O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, abriu dois inquéritos para investigar Maia. Em um, ele é acusado de receber R$ 350 mil em 2008 para financiar campanhas do DEM. Dois anos depois, mais R$ 600 mil para a candidatura do pai ao Senado. O segundo inquérito investiga se ele recebeu R$ 100 mil em 2013 para colaborar na aprovação da Medida Provisória 613, que desonerou a aquisição de matéria-prima para a indústria química, área de atuação da Braskem, um dos braços da Odebrecht. É dor de cabeça para os próximos meses.
Rodrigo Maia entendeu que quem fica no caminho da Lava Jato é esmagado. Por isso, ao contrário de vários outros investigados, tem o cuidado de não se opor à operação em público. Apesar da habilidade política, ele sabe também que nem de longe controla o plenário como Eduardo Cunha controlava. A confusão da quarta-feira à tarde, quando deputados ficaram em bate-boca e quase se estapearam, mostra isso. Episódios assim não estão no fim. O caminhar do impeachment e o enfraquecimento de Michel Temer vão aumentar a pressão sobre Maia. Em determinado momento ele será forçado a decidir, como fez no caso de Eduardo Cunha.
Ele é o único que está na delicadíssima posição de poder acolher o impeachment e, ao mesmo tempo, ser um beneficiário da decisão que pode ser obrigado a tomar. É uma armadilha constitucional. Rodrigo Maia tem se aconselhado constantemente com o pai, César Maia. Sintomaticamente, tem falado menos com o sogro, Moreira Franco, de quem nem é tão próximo assim.
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