Como resolver a charada coreana? Os Estados Unidos iniciaram uma intensa pressão contra o programa nuclear da Coreia do Norte. Eles precisam da China para ter êxito, mas os chineses resistem a acompanhar Trump

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Como resolver a charada coreana?

Os Estados Unidos iniciaram uma intensa pressão contra o programa nuclear da Coreia do Norte. Eles precisam da China para ter êxito, mas os chineses resistem a acompanhar Trump

EVAN MEDEIROS E CHRISTOPHER GARMAN
22/04/2017 - 09h50 - Atualizado 22/04/2017 09h50
Kim Jong-un acena com oficiais do exército em evento militar.Fora do país,ele está cada vez mais isolado (Foto: KCNA Xinhua / eyevine/AFP)
Quando os presidentes Donald Trump e Xi Jinping se reuniram entre os dias 6 e 7 de abril no Mar-a-Lago, resort de Trump na Flórida, o risco de um atrito grave nas relações entre China e Estados Unidos era alto – bem alto. O presidente Trump disse em um de seus tuítes que a reunião poderia ser “muito difícil”, preparando o cenário para um possível confronto. Na cúpula, não houve retórica de confronto, mas muitos sorrisos, apertos de mãos e boas refeições. A filha de Jared Kushner e Ivanka Trump chegou a cantar uma canção para Xi. Uma das principais metas dessa cúpula era desenvolver um entendimento pessoal entre Xi e Trump – e, nisso, ela foi um sucesso.
Trump disse que foi uma “reunião excelente”. E Xi obteve algo fundamental para um líder chinês: o prestígio de ser tratado como um igual. Esse ambiente distensionado se deve ao fato de que os conselheiros mais moderados de Trump, os chamados “globalistas”, parecem ter mais influência (por enquanto) do que os “nacionalistas”, mais radicais, com relação à política para a China. Os“globalistas” são o genro de Trump, Jared Kushner, o secretário de Estado, Rex Tillerson, o presidente do Conselho Nacional Econômico, Gary Cohn, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. Os principais “nacionalistas” com relação à política chinesa são o estrategista-chefe da Casa, Steven Bannon, e o diretor do Conselho de Comércio da Casa Branca, o economista Peter Navarro.
Não é inconcebível uma ação militar direta dos Estados Unidos contra a Coreia do Norte se a estratégia da pressão não funcionar  (Foto: Sue-Lin Wong/Reuters)
Apesar da atmosfera agradável na reunião entre Trump e Xi, a falta de progresso concreto e os desacordos significativos em relação a questões fundamentais, principalmente o comércio e o programa nuclear da Coreia do Norte, significam a possibilidade de atritos e tensões ainda neste ano, que podem ter repercussões importantes para paí­ses como o Brasil. Na relação econômica,  a única área de progresso foi o anúncio de um “plano de ação” de 100 dias sobre questões comerciais (que termina em meados de julho). Mas esse plano de ação, proposto pela China, não deve resolver as profundas diferenças nas expectativas de ambos os lados. Só vai empurrar o problema para o futuro.
>> A Coreia do Norte errou ao deteriorar relações com a Malásia

Os Estados Unidos estão buscando mudanças na economia chinesa que facilitem mais exportações de bens e serviços americanos. Para a China, isso é pedir demais. Tais mudanças na estrutura de sua economia são politicamente difíceis e custosas. A alegação de Trump de que essas concessões chinesas evitarão sanções comerciais não é incentivo suficiente para a China abrir seus mercados. O que a China quer, Trump não está disposto a conceder. Pequim quer um tratado de investimento bilateral, status de economia de mercado, restrições menores a exportações de alta tecnologia dos Estados Unidos e o apoio do governo Trump ao Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura e à iniciativa One Belt, One Road (conhecida como Nova Rota da Seda). Nada disso está no topo da lista de prioridades de Trump, e todas as iniciativas são politicamente tóxicas para que Trump insista nelas junto a sua base política no Congresso e ao público americano.
Cenário e Aposta (Foto: Época)
Em Mar-a-Lago, durante seu jantar com Xi, Trump lançou os ataques contra a Síria. Os ataques enviaram uma mensagem à China de que os Estados Unidos estão dispostos a usar a força para resolver a questão do programa de armas nucleares da Coreia do Norte, que está rapidamente desenvolvendo mísseis balísticos intercontinentais com capacidade de atingir cidades na Costa Oeste americana. Trump quer aumentar a pressão econômica, diplomática e militar sobre a Coreia do Norte – e quer contar com a ativa participação da China, com quem os norte-coreanos fazem 90% de seu comércio. Apesar da mensagem transmitida em Mar-a-Lago, será um desafio para Trump convencer Xi a fazer mais pressão sobre a Coreia do Norte, de modo a levar o regime de Kim Jong-un a abandonar seu programa de armas nucleares. 
Há muitos desacordos entre China e Estados Unidos em relação à questão norte-coreana. A China quer que os Estados Unidos desenvolvam um mapa de retorno a negociações diplomáticas e que restrinjam suas atividades militares na região. As negociações envolveriam um acordo de paz na região. Os Estados Unidos não estão interessados num tratado de paz, mas sim na desnuclearização da Península da Coreia. Os chineses são céticos quanto a sanções econômicas terem o poder de fazer Kim Jong-un desistir de seu programa nuclear e temem um cenário de colapso na Coreia do Norte, crise humanitária em suas fronteiras ou mesmo uma reunificação das Coreias, alinhadas aos Estados Unidos.
A campanha de intensa pressão dos Estados Unidos em relação à Coreia do Norte está apenas no seu início, e é difícil saber agora qual será seu efeito. Além da China, é preciso acompanhar quais serão as reações de outros parceiros dos Estados Unidos na região, como o Japão e a Coreia do Sul. No próximo dia 9 de maio, haverá eleição presidencial na Coreia do Sul. Se as urnas confirmarem o favoritismo do candidato Moon Jae-in, que prefere uma política de engajamento diplomático com a Coreia do Norte à coerção e ao isolamento do país, os Estados Unidos terão um problema.
Atacar uma base aérea remota na Síria, que tem um governo incapaz de retaliar, é diferente de atacar a Coreia do Norte, arriscando um conflito em grande escala na Península da Coreia. Ninguém quer uma guerra – seria muito custosa. Dependendo da evolução dos acontecimentos, não é inconcebível, porém, que haja uma ação militar direta dos Estados Unidos. As consequências geopolíticas de um potencial conflito armado seriam desestabilizadoras para todos – inclusive o Brasil, que é muito exposto a instabilidades políticas e econômicas na Ásia. China e Japão são grandes investidores no Brasil. Um conflito poderia levar à interrupção de cadeias de fornecimento das empresas brasileiras, assim como afetar as exportações do país. Acompanhar a charada da Península da Coreia, e como ela afeta as relações entre os Estados Unidos e a China, virou uma questão de todo interesse também para o Brasil.
Evan Medeiros (Foto: Época)
Cristopher Garman (Foto: Época)





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