CHAPECOENSE-Surge uma lenda

Surge uma lenda

A incrível história de um modesto time catarinense que saiu da quarta divisão para se tornar uma das mais cativantes equipes da América do Sul

Crédito: foto: REUTERS/Jaime Saldarriaga
HOMENAGEM Na Colômbia, torcedores do Atlético Nacional fortalecem a mística em torno do time (Crédito: foto: REUTERS/Jaime Saldarriaga)
Na saída do estádio Allianz Parque após a partida que deu ao Palmeiras o título de Campeão Brasileiro, no domingo 27, o ônibus da Chapecoense se viu em meio ao mar verde de torcedores palmeirenses que celebravam a vitória. Em um átimo, os gritos de comemoração cessaram, e o espectro sonoro foi preenchido por outro barulho: aplausos. Os jogadores do alviverde catarinense foram ovacionados pelos fãs do alviverde paulista. Sem pestanejar, o time retribuiu com o mesmo gesto, e estava feita uma dessas cenas que fazem a existência do futebol ter sentido. A disciplina, a energia e a paixão pelo esporte fizeram da Chapecoense não um rival, mas um grupo para se admirar. Pesava também o fato de a equipe disputar, dali a poucos dias, uma final da Copa Sul-Americana pela primeira vez. Era o “clube do Brasil” em uma importante competição internacional. Foi com esse epíteto que a formação de 2016 da Chape se despediu. Saiu de campo para entrar na história do futebol mundial. E se tornar uma lenda.
PARA A HISTÓRIA Último registro da equipe completa da Chapecoense: desaparecimento precoce de uma equipe que teve uma das ascensões mais rápidas do futebol brasileiro
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Clube relativamente novo, a Associação Chapecoense de Futebol foi fundada em 1973 e se tornou, em pouco tempo, a única sede do futebol da cidade de Chapecó, em Santa Catarina. “Houve um momento em que tínhamos quatro equipes, todas patrocinadas por empresas locais, principalmente do ramo da madeira e da construção”, afirma a historiadora Eli Maria Bellani, autora do livro “O Futebol e a Ocupação do Espaço Social em Chapecó”. Aos poucos, os times se enfraqueceram, mas, em uma tentativa de salvar o que ainda havia do esporte no município, eles se reuniram e criaram a associação.

Um começo difícil  

A trajetória inicial do time envolvia muita paixão dos torcedores, mas pouquíssimo prestígio no meio futebolístico. Tanto que a Chape via-se obrigada a pagar para que outros times jogassem em Chapecó. “Reclamavam que era longe e caro”, lembra Enir Hartmann, 65 anos, o Casquinha, atacante da primeira formação da equipe e ex-presidente do clube.
A sorte começou a mudar em 1977, e justamente diante de uma adversidade que poderia ter interrompido naquele momento a ascensão da representação catarinense. Sem dinheiro, a Chapecoense não tinha como bancar a viagem dos clubes para sua cidade-sede e nem era considerada importante o suficiente para os atrair espontaneamente. Aceitando as pressões dos grandes, a Confederação Brasileira de Desportos (atualmente Confederação Brasileira de Futebol) tirou a Chape do estadual. “Disseram que não poderíamos participar porque não tínhamos um estádio com a capacidade mínima”, conta Hartmann.
Em uma mobilização rápida, o ex-prefeito Milton Sander conseguiu reformar a Arena Condá, na época chamada de Índio Condá, em tempo recorde para que o clube pudesse jogar. A Chape fez jus ao esforço da prefeitura e foi campeã já na primeira participação no catarinense. O bicampeonato quase aconteceu no ano seguinte, não fosse o Joinville ter ganho no “tapetão” em uma dessas confusões futebolísticas ainda tão comuns. “Foi uma grande injustiça”, diz Hartmann.
Seis anos depois da fundação, o risco de fechar as portas estava próximo. Mais uma vez, a ajuda de Milton Sander foi essencial. Doou dinheiro para equilibrar as contas e disparou: “Comigo, a Chapecoense não fecha.” Não fechou, mas era um time se esforçando para sobreviver. O único título em um Catarinense aconteceu em 1996.
A maior crise aconteceu em 2005, quando a Chape acumulava derrotas e dívidas que chegavam a R$ 1,5 milhão. Teve que mudar sua razão social para não falir. Só não acabou porque, naquela altura, havia conquistado a alma de Chapecó. Contou para sua recuperação o dinheiro doado por empresários da cidade, uma das mais ricas de Santa Catarina e centro agroindustrial importante do Sul do País. Entre os patrocinadores está a Aurora, terceira maior indústria de carnes do Brasil. “Fiel apoiadora e parceira desde o tempo em que a Chapecoense era apenas uma promessa, a Aurora se orgulha de ter sido a principal patrocinadora privada dessa grande equipe”, afirmou a empresa em nota, lamentando a tragédia.
A injeção de recursos foi o combustível que faltava. No ano seguinte, a equipe foi Campeã da Copa Santa Catarina. Em 2007, conquistou pela terceira vez o título de Campeã Catarinense, após um jejum de 11 anos. Em 2009, ao disputar a Copa do Brasil, subiu para a série D do Campeonato Brasileiro de Futebol – até então, nunca havia disputado competições nacionais. Começou naquele ano a impressionante escalada que impulsionou o time a subir da série D para a principal, ficando lado a lado com os grandes do Brasil. Em 2010, chegou à terceira divisão. Três anos depois, pulou para a série B. Sob o comando do técnico Gilmar Dal Pozzo, em 2014 alcançou a primeira divisão.
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Em 2016, mais um título catarinense. O ano vitorioso estava sendo coroado com a inédita vaga na final da Sul-Americana, conquistada na quarta-feira 23. “Foi o momento mais emocionante que vivi na Arena Condá”, diz Fernando Kasper, 22 anos, presidente da Torcida Jovem. “Nunca estivemos tão felizes.” Desde o acidente, Kasper está acampado no estádio com outros torcedores da alviverde catarinense.
O jovem é fanático pela Chape desde criança, assim como o são os meninos e meninas da cidade. Os alviverdes catarinenses são para os moradores de Chapecó, desde cedo, o time que se vê no domingo, o treino que se acompanha em um sábado à tarde, o jogador com quem se conversa na fila do supermercado. A Chape é o time que joga no quintal de casa, na rua em frente. Por isso, impossível não se emocionar com a dor estampada no rosto de Richard Ferreira do Nascimento, sete anos, registrada em foto que virou símbolo do sofrimento na cidade depois do acidente. Sentado na arquibancada da Arena Condá, de braços cruzados e cabisbaixo, o menino perdeu seus companheiros de bola. “Já somos duas gerações que nasceram em Chapecó e cresceram sob a influência da Chape”, afirma a historiadora Eli Bellani, que desde 1975 tem carteira de sócia do clube.
Além da própria torcida da Chape, torcedores de outros clubes aderiram ao acampamento na Arenda Condá. Há criciumenses, colorados, gremistas e seguidores do argentino San Lorenzo, o time do papa Francisco, e do colombiano Atlético Nacional. Torcidas organizadas enviaram suas bandeiras para o estádio. Mesmo antes da tragédia, a Chapecoense já tinha se tornado “a queridinha do Brasil”. “Sempre sentimos o carinho das torcidas, e o clube conquistou isso por ter chegado onde chegou com muita força de vontade”, diz Kasper. Na página oficial do time no Facebook, torcedores de diferentes clubes brasileiros manifestaram sua solidariedade. Muitos disseram que a Chape era seu segundo time. Continuará sendo. O time de coração. O time do Brasil.
A reinvenção da Chapecoense
Time jovem com uma trajetória surpreendente, o “Furacão do Oeste” passou por uma quase falência e se reergueu com a ajuda financeira de empresários-torcedores
1973
Fundação a partir da fusão de outras duas equipes, o Atlético Chapecó e o Independente
1977
Ganha o título catarinense pela primeira vez. Só volta a alcançar o feito em 1996
2005
Com uma dívida de R$ 1,5 milhão, muda a razão social para evitar a falência. É salva por empresários locais e cria um plano de reestruturação financeira. Dois anos depois, ganha o campeonato catarinense após 11 anos de jejum

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