PEDOFILIA-Tenente ligado ao caso Isabella se mata após ser acusado de integrar rede de pedofilia
Tenente ligado ao caso Isabella se mata após ser acusado de integrar rede de pedofilia
SÃO PAULO - O tenente da Polícia Militar Fernando Neves Brás, de 34 anos, que atendeu o caso da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, arremessada de um edifício na zona norte da cidade, se matou com um tiro nesta sexta-feira após ser acusado de integrar uma rede de pedofilia. O tenente chegou ao edifício London minutos após o crime e comandou as buscas a um possível ladrão que teria invadido o apartamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá e assassinado Isabella. A Corregedoria da PM informou que não existe ligação do militar com a morte de Isabella.
Segundo a Corregedoria, há registro que o tenente chegou ao local do crime 15 minutos após a menina ter sido jogada. Ele estava de serviço em outra área, na companhia de outros três policiais, quando recebeu um chamado pelo rádio, informando sobre o crime. Os dois primeiros PMs a chegar ao local foram Jonaldo Santos de Almeida e Josenilson Nascimento. Eles estavam numa base da Corregedoria no mesmo endereço do edifício London, na Rua Santa Leocádia, e seguiram a pé até o prédio.
Num relatório reservado feito a pedido da delegada Renata Pontes, que comandou as investigações, o coronel João Santos de Souza Ambos, comandante da área, informou que os policiais Jonaldo e Josenilson foram a pé até o prédio porque estavam próximos. O policial Josenilson, confirmou em depoimento, que não havia no local policiais militares quando ele chegou. Os PMs só chegaram alguns minutos depois.
A Polícia Civil descobriu a rede de pedofilia após ter pedido autorização judicial para realizar escutas telefônicas. A investigação mostrou que o operador de telemarketing Marcio Aurélio Toledo, de 36 anos, usava sua casa em Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, para intermediar encontros entre pessoas que ele conhecia em chats de bate-papo da internet com crianças de 7 a 12 anos. Márcio foi preso na última sexta-feira após três meses de investigações do setor de inteligência da 5ª Seccional da Polícia Civil (Leste).
De acordo com o delegado André Pimentel, o operador de telemarketing primeiro ganhava a confiança dos interessados pela internet e só depois telefonava marcando os encontros em sua residência. Márcio montou uma espécie de 'brinquedoteca' para atrair as crianças. Foram apreendidos na casa dele diversos ursinhos de pelúcia, carrinhos e bonecas, além de um DVD contendo imagens de crianças nuas, uma espécie de 'book' que ele apresentava aos clientes. Não se sabe se Márcio cobrava pelo serviço. A polícia ainda está investigando como ele aliciava as crianças. Existe, segundo a polícia, a suspeita de que até sobrinhos e amigos deles tenham sido cooptados pelo operador de telemarketing.
A Corregedoria da Polícia Militar informou que não existe envolvimento do policial militar com a morte de Isabella Nardoni
- Recebemos uma denúncia do esquema e pedimos à Justiça quebra do sigilo telefônico. Através de interceptações telefônicas chegamos ao operador de telemarketing, que intermediava os encontros - disse o delegado André Pimentel.
As escutas telefônicas, segundo Pimentel, apontaram que uma das pessoas interessadas em manter relações sexuais com menores de idade era o tenente Fernando Neves Brás, do 5º Batalhão da Polícia Militar.
A polícia cumpriu nesta sexta-feira três mandados de busca e apreensão em residências visando apreender material que comprove a ligação dessas pessoas com a rede de pedofilia. Um dos mandados era para que os policiais entrassem no apartamento do tenente, localizado na Avenida Nova Cantareira, 599, zona norte de São Paulo.
Por volta de 9h, após conversarem com o policial no quartel onde ele trabalhava, policiais civis juntamente com o oficial superior de Brás, foram até a residência dele para apreender o computador. Antes de chegarem ao apartamento, o tenente foi desarmado. Mas, chegando à casa, os policiais foram surpreendidos quando o militar pegou um revólver que estava escondido na casa e deu um tiro na cabeça. Segundo a polícia, estava na residência também a esposa do tenente.
- Foi uma surpresa para a polícia, já que o tenente tinha sido desarmado - disse o delegado Pimentel. A morte aconteceu por volta de 9h30.
Uma vez confirmado o crime de pedofilia, o tenente seria expulso da corporação. Além disso, ele seria responsabilizado pelo crime de pedofilia, cuja pena vai de 2 a 6 anos de prisão, segundo o delegado André Pimentel, da Seccional Leste.
O capitão Marcelino Fernandes, porta-voz da Corregedoria da Polícia Militar, descartou envolvimento do tenente com a morte de Isabella. Ele disse que há registro de que o tenente estava de serviço desde o início da tarde de 29 de março (quando Isabella morreu) acompanhado de outros três policiais.
- O tenente estava em uma viatura na Avenida Júlio Buono com outros três policiais quando recebeu, às 23h55m, o chamado para atender o incidente no Edifício London. O carro dele foi o terceiro a chegar ao local, às 0h05m. O policial Fernando Neves estava trabalhando desde às 17h30m naquele dia - disse o capitão Marcelino.
O capitão confirmou que dois policiais que estavam numa base da Corregedoria, que fica bem ao lado do prédio, foram os primeiros a chegarem ao local, logo após Isabella ter sido arremessada pela janela. Em seguida, chegou uma viatura com um sargento e um auxiliar e depois o tenente Fernando Neves. Os avós paternos da menina já estavam no prédio.
- Ele não tem qualquer envolvimento com o caso, a não ser que a defesa da família Nardoni queira colocá-lo como suspeito. O tenente estava na polícia há 11 anos e nunca se envolveu em problemas, tanto que era o comandante da Força Tática Noturna do 5º Batalhão - disse.
Um outro mandado foi cumprido no interior do estado de São Paulo, na residência de parentes do policial militar. Um terceiro mandado foi cumprido na capital paulista.
O setor de inteligência da Polícia Civil ainda não sabe precisar quantas pessoas estariam envolvidas no esquema. As investigações continuam e a prisão preventiva do operador de telemarketing, que está detido no 77º Distrito Policial (Santa Cecília), já foi solicitada.
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