A infelicidade do prefeito Raul Filho-Pode ser eleito e não ser prefeito-Mamãe não quero ser prefeito pode ser que eu seja eleito

A infelicidade do prefeito Raul Filho
Flagrado em conversa com Cachoeira pedindo ajuda pra campanha, o petistas será indiciado por envolvimento com o contraventor, o que pode ser o fim de uma carreira política promissora
Ruy Bucar
O prefeito de Pal­mas, Raul Filho, do PT, ainda não se deu conta do enorme desafio que tem pela frente para continuar na vida pública, ou sair pelas portas da frente como entrou. Sobre­tudo depois que deixar o po­der. Enfrenta novamente um processo de expulsão do partido, sua mulher corre o risco de perder o mandato de deputada e ele deve ser indiciado pela Comissão Parla­mentar Mista de Inquérito (CPMI) do Ca­choeira, por envolvimento com o contraventor.


“Minha infelicidade foi ser filmado”, declarou o prefeito Raul Filho aos deputados du­rante depoimento à CPMI do Cachoeira. A frase, dita com certa ingenuidade, provocou os parlamentares e intrigou a opinião pública. Se não tivesse o vídeo não teria havido o encontro? Sem perceber,  Ra­ul Filho, que se antecipou para depor pensando em se defender do que considerava equívoco e maldades de ad­versários, passou a ser visto como suspeito.



Raul está convicto que não fez nada de ilegal. Argumenta que procurou o empresário em busca de doação de campanha, mas sustenta que nada recebeu. Acredita que o julgamento não é por ter recebido ajuda de campanha de Cachoeira, mas por ter aparecido no ví­deo em conversa com o contraventor. A gravação é de 2004, antes de se eleger prefeito, portanto, não tinha nenhuma ligação com o governo.



O prefeito, que alimentava o sonho de conquistar o Pa­lácio Araguaia ou, na pior das hipóteses, uma cadeira no Senado — o que abriria caminho para sua mulher, Solange Duailibe, chegar à prefeitura da Capital —, agora obrigatoriamente terá que mudar de planos e dar tempo ao tempo. Não tem certeza sequer se poderá ser candidato em 2014, quanto mais reunir prestígio político para se eleger.



Não há vácuo na política. A queda de Raul coincide com surgimento de um novo líder, no seu colégio eleitoral, em Palmas e que chega com a força de um fenômeno eleitoral que pode conquistar o Estado rapidamente. O empresário Carlos Amastha, eleito prefeito da Capital, meio por acaso, sem fazer muito esforço, na esteira da bandeira da renovação. Não deu tempo nem de formar um grupo político. Saiu candidato quase sozinho. E só precisou dizer que era contra tudo e contra todos para derrotá-los. Alguns empresários fizeram o mesmo e, depois, fracassaram — por não entenderem que a gestão pública é diferente da privada. Amastha, na verdade, é uma incógnita. Não se sabe direito nem quem ele é. O eleitor votou meio no escuro.



Raul, vetado, não pôde aparecer nos programas eleitorais e subir no palanque de sua candidata (Luana Ribeiro). Suas obras foram exibidas à exaustão, quer dizer, ele tem o que mostrar poitivamente. Raul, antes um fator decisivo na eleição, pois tinha vencido dois pleitos na Capital, em disputas estadualizadas, dividiu com o governador Siqueira Cam­pos a responsabilidade pela derrota dos seus candidatos.



Pior, Raul passou a ser tratado como um prefeito incompetente, ausente, com pouco zelo pela cidade. Passadas as eleições, Pal­mas se evidencia com o verdadeiro canteiro de obras. Até o prefeito eleito Amastha se rende aos resultados da administração do petista. Admite que tem muita coisa boa na gestão do Raul que ele pretende aproveitar, inclusive secretários que, frisa, vem realizando um “ótimo trabalho”. Mas o petista jogou fora sua história. Aliados afirmam que ele é uma espécie de Fênix.

Ascensão e queda


No PT Raul sempre foi um líder diferenciado. Não veio da militância de esquerda tradicional. Ao contrário, começou a carreira no velho PDS de Ary Valadão, no início dos anos 1980, em Goiás. Na CPMI foi renegado pelos petistas. Disseram que não era petista, estava no PT, depois de ter passado pelo PDS, PFL, PSDB e PPS. Mas foi Raul quem levou o PT ao governo da Capital e ser referência em gestão. E é um político qualitativo.



Em 30 anos de carreira construiu um patrimônio político invejável. Foi prefeito de Ara­guaçu, três vezes deputado estadual e duas vezes prefeito da Ca­pital. Mos­trou capacidade de gestão e visão de futuro. Ama­du­receu politicamente no duro confronto com o siqueirismo.



Sua queda desfalca a oposição e aprofunda a crise de liderança no Estado. Raul diz que sua infelicidade foi ter sido filmado. Sua infelicidade talvez seja pensar assim.  Raul, se quisesse, poderia ter sido candidato a governador em 2010, tudo indica que teria vencido as eleições e estaria no comando do Palácio Araguaia, talvez repetindo um pouco do bom desempenho à frente do Paço Municipal nos primeiros anos de governo.



O petista não quis arriscar, trocar o certo pelo duvidoso. O embate raivoso entre Carlos Ga­guim e Siqueira mostrou que a terceira via tinha chances reais de vencer as eleições. Ele poderia ter sido o Amastha de 2010. Raul errou na previsão. Ele poderia também, em vez de ser candidato, ter apoiado o candidato da sua base (Carlos Henrique Gaguim, PMDB), que tinha um petista (Paulo Mourão, candidato a senador) na chapa majoritária. Raul se deu ao luxo de apoiar um candidato a senador (João Ribeiro, PR) da oposição contra o candidato do seu partido. Resultado: contribuiu para a derrota do petista e para a eleição do adversário, Siqueira Campos, ao governo. E comprou uma briga desnecessária com o próprio partido.



A posição do prefeito, caracterizada como infidelidade partidária, foi duramente criticada por correligionários e terminou provocando a sua expulsão do PT. Raul recorreu à direção nacional e conseguiu se manter. Mas o estrago na sua imagem já estava feito, o que contaminou o governo. Raul, que sempre flertou com figuras influentes do governo, passou a ser visto como adversário que impedia o avanço do siqueirismo na Capital. Pre­cisava ser combatido.



O governo ganhava um apoio importante neste combate, a ala do PT anti-Raul. Em 2011 a deputada Solange Duailibe (PT), primeira-dama de Palmas, se candidata a presidente da Assembleia Le­gislativa pela oposição, que contava com 15 dos 24 parlamentares que integram o Par­lamento. A deputada perdeu a eleição para o tucano Rai­mundo Moreira, que obteve 13 votos, dois dos quais de petistas que preferiram acompanhar o governo do que a mu­lher do prefeito. Solange obteve 11 votos.

Em 2012, Raul poderia ter optado pela neutralidade — já que havia disputa interna pela indicação do nome da base. Seu governo enfrentava desgaste e ele já não era um no­me indispensável na campanha. Raul preferiu apoiar um nome de fora da base (Lu­ana Ribeiro, filha do senador João Ribeiro). Mas ficou fora da campanha.

Além do prefeito Raul Filho,  o escândalo Cachoeira respingou ainda em figuras importantes do cenário político do Estado, como o governador Siqueira Campos (PSDB), que recebeu doação de campanha do contraventor; a deputada Solange Duailibe (PT), que tenta explicar que nada tem a ver com o aparecimento de depósitos feitos por empresas ligadas a Cachoeira na conta de uma assessora; o suplente de senador Athaíde Oliveira (PSDB), que também recebeu doação do amigo Cachoeira.

O processo de renovação varreu Palmas se espalhou pelo Estado. Terá avanços e retrocessos. Mas é irreversível. O escândalo Cachoeira pode ter ajudado a derrotar alguns líderes que ainda tinham muito a contribuir com o Estado, mas também se encarregou de apressar o fim de um esquema político que vem perpetuando o atraso no Tocantins, a tentativa de transferência do poder de pai (Siqueirão) para filho (Siqueirinha). O que prova que, no Tocantins, o moderno ainda é obrigato a conviver com o coronelismo dinástico.

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