Falar Brasileiro: Mitos jogados no lixo

Falar Brasileiro: Mitos jogados no lixo

MARCOS BAGNO
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Mitos jogados no lixo
Por Marcos Bagno
A nossa ínfima camada dominante sempre se alimentou de mitos, de superstições fantasiosas criadas e difundidas ao longo do tempo por ideólogos que têm procurado fornecer à oligarquia um discurso capaz de ocultar, disfarçar e mascarar o elemento que de fato constitui a espinha dorsal da formação histórica da sociedade brasileira: o ódio de classe.
Uma série de mitos culturais foram produzidos e disseminados por essa produção ideológica para que a “elite” pudesse dissimular suas práticas autênticas, que se verificam no dia a dia da sociedade brasileira na forma de violência simbólica e violência física contra tudo e contra todas as pessoas que não pertencem a essa pequena camada de privilegiados: mulheres, negros, índios, mestiços, camponeses, homossexuais e por aí vai, e vai longe...
Que mitos são esses? O mito da “democracia racial”, o mito da “tolerância” do brasileiro, da “convivência harmoniosa” das diferenças, da “alegria de viver”, da “hospitalidade”, da “humildade”, do “milagre linguístico”, porque todo mundo aqui fala “uma só língua” e todo mundo “se entende”, da “índole pacífica” do nosso povo, herdeiro da “assimilação amorosa” praticada pelos portugueses...
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As manifestações contra o governo da presidenta Dilma Rousseff foram promovidas por essa mesma oligarquia, insufladas por empresas de comunicação acintosamente mentirosas e que apoiaram alegremente o regime militar, estimuladas por membros do poder judiciário descaradamente partidarizados e por parlamentares representantes do que há de mais abjeto e criminoso na sociedade.
Essas manifestações têm servido ao menos para uma coisa positiva: desmascarar aqueles mitos e expor, nua e crua, a carranca ideológica da nossa oligarquia dominante, que é o ódio de classe, talvez o mais perverso do planeta. A oligarquia branca escravocrata odeia falar como o “povão”, como o resto da “gentalha”, e por isso se desespera em aprender a língua mais certa possível. Odeia ver filhas e filhos de pessoas pobres “invadindo” as universidades públicas, até há pouco tempo espaço reservado à prole dos “bem nascidos”. Odeia ter de dividir os aeroportos e aviões com suas empregadas domésticas, com seus porteiros, suas faxineiras, com essa gente pobre, preta e mestiça que deixa os aeroportos parecidos com “rodoviárias”. Odeia ter de cumprir os direitos trabalhistas das domésticas, que sempre foram tratadas como quase escravas (e, em certas regiões, como escravas de fato, inclusive sexuais). Odeia (e manda matar) os milhões de camponesas e camponeses sem-terras que lutam por seus direitos ao trabalho digno e se organizam em movimentos sociais de luta.
Vai ser muito difícil, senão impossível, reconstruir esses mitos e querer voltar a iludir a imensa maioria da população, secularmente espoliada. A violência, marca registrada da nossa sociedade desde sempre, aparece agora, nua e crua, sob o sol. Fora, Temer!

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