Não era trote: era o Temer mesmo

Não era trote: era o Temer mesmo

Autor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, o jurista Hélio Bicudo desconfia ao receber telefonema do presidente que ele ajudou a colocar no cargo

ALINE RIBEIRO
31/08/2016 - 19h08 - Atualizado 31/08/2016 20h24
O jurista Hélio Bicudo durante entrevista (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)
A ex-secretária do jurista Hélio Bicudo, herança dos tempos em que ele ainda era filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), aproximou-se na tarde desta quarta-feira (31) com o telefone na mão e ares de incredulidade: “É o dr. Michel Temer. Quer falar com o senhor”. O julgamento que afastou Dilma Rousseff acabara de acontecer no Senado, e o novo presidente da República ligava para cumprimentá-lo – Bicudo é o autor, junto dos advogados Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior, da petição que desaguou no impeachment de Dilma. “Você não está indo para a China?”, perguntou um Bicudo desconfiado, em menção à viagem que Temer fará nesta noite para participar da Cúpula de Líderes do G20. “Mas quem é que está falando mesmo?” De outro cômodo da casa, a ex-secretária tentou remediar. “É ele sim, dr. Hélio. Reconheci pela voz.” Mas Bicudo continuou cético. Ao desligar o telefone, depois de uma fala lacônica, deu seu veredicto. “Não é o Temer. É alguém que está passando trote”, disse a ÉPOCA.

A negação de Bicudo tem duas explicações possíveis. A mais óbvia delas é que um de seus filhos, José Cristiano, o Tite, costuma passar trotes em Bicudo. Sexto de uma família de sete irmãos, Tite mora na Holanda e hoje mesmo ligou fingindo ser o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). Suas investidas são tão frequentes que Bicudo, já ciente das travessuras do filho, está acostumado a sair na defensiva. A explicação menos explícita é que Bicudo esperou tanto por esse telefonema de agradecimento que, ao recebê-lo, nem conseguiu acreditar. “Esperava essa ligação porque, como o Temer deve saber, só recebeu a Presidência por causa do nosso pedido”, afirma. “Nós pusemos a Presidência da República numa bandeja e demos a ele.”
Não é exagero dizer que, ao emprestar seu nome à peça jurídica que pediu o afastamento de Dilma, Bicudo conferiu o prestígio necessário para que o pedido de impeachment tivesse o desfecho de hoje. Bicudo foi petista por 25 anos. Como promotor de justiça, investigou os assassinatos promovidos pelo Esquadrão da Morte durante a ditadura militar (1964-1985). A repressão jogou Bicudo nos braços da esquerda. Ele entrou para o PT cerca de dez meses depois da fundação, em 1980, a convite de um dos filhos. Era amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, por motivos nunca trazidos a público, Bicudo deixou o partido em 2005. Sua trajetória política – de petista fervoroso a crítico ferrenho – o consagrou como o homem que os partidos de oposição queriam.
A costura para colocar o simbólico Bicudo como o protagonista de um possível impeachment começou em 11 de agosto. Num almoço no Edifício Itália, no centro de São Paulo, o jurista Flavio Flores da Cunha Bierrenbach, ex-ministro do Superior Tribunal Militar, leu um manifesto a favor da renúncia da presidente para cerca de 300 ex-alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Na mesa dos formandos de 1997, Janaína Paschoal, professora de Direito Penal da USP, se destacava pelo comportamento inflamado.Cinco dias depois, estava em cima de um caminhão pedindo mais engajamento da oposição. Ao sair de lá, convidou “três juristas importantes”, cujos nomes ela não menciona, para abrirem um pedido de impeachment. Todos se negaram. Até que um amigo em comum a apresentou a Bicudo. “Entrei nesse terremoto sem querer. Não fui buscar, fui buscado”, afirma.
Ao final do julgamento no Senado, nesta quarta-feira, Bicudo foi tomado por um misto de sentimentos. Na sala de seu apartamento no Jardim Paulista, estava satisfeito com afastamento de Dilma. Mas um tanto raivoso com a decisão dos senadores de manterem os direitos políticos da ex-presidente. “É um impeachment que não é impeachment”, disse. Sobre os rumos futuros do país e a atuação do agora presidente, Michel Temer, mostrou-se um tanto bélico. “Li pelos jornais que ele estava preocupadíssimo com o resultado da votação de hoje porque tinha uma viagem à China. Ora, o que é mais importante? A política brasileira ou a viagem à China? Ele começa o mandato já deixando um vácuo. Quem vai ser o presidente do Brasil nesse tempo? Um deputado federal [o presidente da Câmara,Rodrigo Maia]?”
Mais tarde, um pouco mais calmo, Bicudo recebeu a ligação de Temer. Depois da conversa desastrada, reconsiderou seu ceticismo e pediu que retornassem para o número de celular gravado no aparelho. Era mesmo Temer. Ao telefone com o próprio, suavizou. “Tudo bem, presidente? Um grande abraço para você. Que tenha o maior sucesso possível na condução deste país que é nosso. E boa viagem à China.”
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