Desfecho melancólico Prisão de ex-ministro e devassa no diretório nacional do PT retratam a falência moral do partido
Desfecho melancólico
Prisão de ex-ministro e devassa no diretório nacional do PT retratam a falência moral do partido
A imagem à esquerda sintetiza a débâcle moral do PT – um partido nascido sob a insígnia da ética, mas que exala seus últimos suspiros com o carimbo de corrupção estampado nas cinco pontas de sua estrela. Na manhã da quinta-feira 23, três agentes da Polícia Federal, dois do grupamento especial, cercaram a sede do diretório nacional do PT no centro da capital paulista. É, indubitavelmente, uma cena emblemática. É bom sublinhar que não se trata de uma medida levada a cabo por um regime ditatorial, como aquele que os fundadores da legenda combateram na década de 80. Os policiais também não cometeram arbítrio algum, embora a narrativa petista tente vender a cada vez mais insustentável tese da perseguição. Os agentes estavam em frente à sede nacional da legenda em São Paulo para impedir que pessoas não autorizadas entrassem no escritório enquanto se cumpria um mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça. Deixaram o bunker petista horas depois com documentos e HDs de computadores, onde esperam encontrar novas provas para a Operação Custo Brasil.
A PF investiga milhões arrecadados pelo PT com propinas pagas em troca de contratos no ministério do Planejamento entre 2010 e 2015. Mais uma vez a legenda é acusada de perpetrar o crime que prometia exterminar do País ao ascender ao poder: a corrupção. O antigo discurso da ética petista era tão diferente dos demais partidos que sua saga parecia quixotesca. Ocorreu exatamente o contrário. O PT assumiu o Planalto em 2003 e se reelegeu três vezes, mas deixou o comando do País maculado indelevelmente pelos bilhões desviados, os escândalos recorrentes e os líderes condenados. O fato de seguidos pedidos de prisão pesarem sobre os ombros dos três últimos tesoureiros da legenda não é mera coincidência. É reincidência. No crime. Ligado a Lula e Dirceu, mais ao primeiro do que ao segundo, Delúbio Soares cumpriu pena no mensalão. João Vaccari Neto encontra-se preso no Petrolão e, na última semana, teve um novo pedido de detenção decretado. Seu antecessor Paulo Ferreira permanecia foragido atá a tarde de sexta-feira 24. Também para escapar da prisão.
Na manhã da quinta-feira, o desespero dos líderes petistas foi além da busca e apreensão na sede do partido. Souberam que Paulo Bernardo, ex-ministro de Lula e Dilma, também fora preso, e que a histriônica senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), linha de frente da defesa da presidente afastada no Senado, só escapou por causa do privilégio de foro. Ainda estava na lista o secretário de gestão da capital paulista, Valter Correia. Todos são acusados de terem participado de um esquema que desviou R$ 100 milhões dos cofres públicos. Pior: ocorreu a chamada propina descontada no contracheque. E de aposentados e servidores públicos beneficiários pelo crédito consignado. Ou seja, a política social como fachada para o malfeito. Pelo trabalho, a Consist responsável pela modalidade do crédito receberia R$1,00 por operação, quando o valor de praxe é R$ 0,30. Em troca, teria de colaborar com o caixa do partido e com os políticos envolvidos. O percentual exigido é de fazer inveja até aos números superlativos do Petrolão. A companhia pagou 70% de tudo que recebeu a título de suborno. “Cem milhões de reais foram desviados de funcionários públicos que se privaram de medicamentos e de suas necessidades básicas para abastecer os cofres públicos”, declarou o procurador da República Andrey Borges. É este custo da corrupção para se fazer negócios no País que levou os investigadores a batizarem a Operação de Custo Brasil.
A divisão dos valores da negociata com os recursos do crédito consignado teria sido discutida em reuniões, com direito a discussões, em que os ex-tesoureiros João Vaccari Neto e Paulo Ferreira representavam os interessem do partido. Outros como o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, idealizador do esquema, zelavam pela sua fatia. O ex-ministro da Aviação e da Previdência, Carlos Gabas, também teria participado destes encontros. Na quinta-feira 23, a Polícia Federal esteve na casa dele. Apreendeu, entre outros objetos, duas motos Harley-Davidson, Uma delas é a que a presidente afastada Dilma Rousseff costumava passear na garupa pelas ruas de Brasília.
A partir da delação do ex-vereador petista na cidade paulista de Americana Alexandre Romano, o Chambinho, foi possível concluir que milhões desviados abasteceram o caixa do PT. “Dos 70% repassados (como propina), havia diversos parceiros que iam alterando ao longo do tempo. O Alexandre Romano, que era um dos colaboradores, recebia por volta de 24%”, diz o procurador Andrey Borges. “Cerca de 80% da parte destinada ao Alexandre Romano ficava com o PT”, complementa. Na prática, isto quer dizer que o partido arrecadou, pelo menos, R$ 20 milhões só nesta fraude. Para evitar deixar rastros, o dinheiro saía das contas da Consist como se fosse para pagar fornecedores. Em seguida, circulava por empresas de fachada até chegar ao destino indicado pelos tesoureiros petistas. Uma das contas pelas quais os recursos transitaram pertencia ao empresário Carlos Roberto Cortegôso, próximo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é dono da Focal Comunicação, investigada pelo Tribunal Superior Eleitoral por serviços prestados para a campanha à reeleição de Dilma Rousseff.
Dirigentes petistas ainda estão preocupados com o alcance da delação de Chambinho. Temem que ele tenha envolvido mais nomes da legenda ou que os seus relatos originem novas investigações em efeito dominó como ocorre na Lava Jato. A já fragilizada imagem do partido dificilmente resistiria a uma nova enxurrada de acusações de corrupção, ainda mais agora que seus quadros estão alijados do governo. A própria Operação Custo Brasil mostra, segundo os investigadores, que as falcatruas do PT não se restringiram a Petrobras. Ocorreram, de forma generalizada e institucionalizada, em estatais, autarquias e ministérios. “Infelizmente, a corrupção não é um privilégio da Petrobras, ela está espraiada como um câncer em diversas instituições”, constatou o procurador. Uma mazela que o antigo PT prometeu combater, mas que o atual acabou se tornando protagonista.
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