ATENÇÃO RICARDO RIBEIRINHA:Essa ‘novinha’ é uma criança!
Essa ‘novinha’ é uma criança!
Segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), mais da metade das vítimas de estupro no Brasil são menores de 13 anos,representando 50,7% do total dos casos.
Mais da metade das vítimas de estupro no País inteiro tem menos de 13 anos.
Sim, é isso mesmo que você leu.
Nos casos em que o agressor é conhecido, a maior parte deles acontecem dentro de casa, independentemente da idade da vítima. Entre as crianças, as residências foram o cenário do abuso em 78% dos casos. Já nos casos em que o agressor é desconhecido, vejam bem, as crianças continuam sendo vítimas dentro de casa na maior parte dos casos, ou 31,3% do total. Entre adolescentes e adultos, as vias públicas predominam.Ou seja, as crianças são mais abusadas dentro de suas próprias casas.
No ano passado, mulheres criam a hashtag #MeuPrimeiroAssédio para compartilhar relatos de seus primeiros assédios sexuais. A ideia surgiu após uma enxurrada de comentários pedófilos dirigidos a uma participante do Masterchef Júnior. Valentina, uma das concorrentes do programa, foi alvo de inúmeros comentários de teor obsceno no Twitter. E ela tinha apenas 12 anos.
Muitos dos relatos, tanto no Twitter quanto no Facebook (que somaram mais de 82 mil),revelaram situações naturalizadas por muitos brasileiros, como a cantada de rua, escancarando uma realidade que muitos desconheciam: o assédio sexual não se limita apenas às mulheres adultas.
Lembro que, na minha história, contei algo que aconteceu comigo aos 8 anos. Na maioria dos depoimentos que foram compartilhados, a primeira experiência que mulheres tiveram sobre assédio foi vivida antes dos 12 anos. O primeiro assédio que muitas mulheres sofrem é quando elas ainda são crianças. Com as hashtags, muitas mulheres conseguiram tirar suas histórias que viviam embaixo de um tapete de culpa e de vergonha e expuseram uma realidade que muitos preferem não enxergar.
O casamento infantil, segundo uma reportagem escrita por Patrícia Zaidan, na revista Claudia, ocorre na maior economia brasileira, São Paulo, na região metropolitana de Curitiba, no Tocantins, em Minas Gerais, no Pará e Maranhão. Não falo de um retrato de 20 anos atrás, falo do presente: é difícil encontrar um lugar no país onde isso não aconteça.
Hoje, 554 mil garotas de 10 a 17 anos são casadas no Brasil, segundo um estudo do Instituto Promundo, publicado em setembro de 2015. Como a lei considera crime o sexo com menores de 14 anos, a maioria das uniões acaba sendo informal, já que muitos dos homens seriam presos se tentassem fazer isso legalmente. Então, acaba sendo difícil controlar, e passamos naturalizando este tipo de crime que passa batido sem punição nenhuma.
E quantas vezes já ouvimos o termo “novinha”? Homens se referindo à atração por “novinhas” e as sexualizando como se fossem adultas e já fossem “maduras”. Essas novinhas são crianças, meninas, adolescentes. Não se trata de uma doença chamada pedofilia, mas sim de uma cultura que adultiza crianças e hiperssexualiza meninas. Uma das buscas mais feitas em sites de pornografia é com o termo “teen”, ou seja, adolescente. Isso não significa nada? Isso não diz nada sobre a cultura em que vivemos?
De acordo com um estudo realizado pela University of Portsmouth, 83% do tráfego na chamada “deep web” (que não faz parte da “internet da superfície”, como se fosse a parte imersa de um iceberg que é a rede), são conteúdos relacionados com pornografia infantil. A web oculta requer outros meios de acesso, já que seu conteúdo não é indexado pelos mecanismos de busca padrão, tornando-se assim um terreno fértil para que crimes e violações cibernéticas sejam cometidos. Nesse meio, contrabando de armas e drogas ficam também escondidos.
Não basta falarmos dessas 554 mil garotas de 10 a 17 anos que são esposas, cuidam de filhos, marido, casa e estão perdendo oportunidades. Meninas que muitas vezes ainda são crianças e geram outras crianças. Vai ter sempre gente relativizando esse tipo de coisa e falando que meninas amadurecem mais cedo do que os homens. Meninas amadurecem antes porque são forçadas a isso, porque precisam cuidar da casa, da família, dos filhos, tem que ter responsabilidade pra cuidar dela e do mundo. Se um menino de 16 anos faz algo questionável, é porque ele é imaturo. Mas se uma menina de 16 anos faz qualquer coisa, é porque “ela sabe muito bem o que faz”.
Pra mulher, entrar na puberdade já é escutar:
“Ela engravidou cedo porque quis”;
“Casou com 14 anos porque quis”;
“Ela tem 15 anos e se relaciona com homem 35 anos mais velho porque quer”;
“Largou os estudos pra cuidar da casa porque escolheu assim”;
“Tava com aquela roupa pra ser assediada mesmo”;
“Saiu sozinha a noite, tava pedindo”.
É culpabilização atrás de culpabilização de meninas, sem levar em conta a sociedade e cultura em que estamos inseridos, há séculos.
Apenas peço: parem de adultizar nossas crianças e adolescentes.
Mas quem veio primeiro: o ovo, a galinha, ou o machismo? A sociedade é machista há séculos. Tudo sempre foi feito pra atender ao bem estar e à vontade de homens. As leis, os estudos, as teorias, tudo. A prostituição medieval (baseada na exploração dos corpos femininos foi aceita, apesar do intenso domínio católico no período histórico, como maneira de aliviar os casos de estupro para satisfazer a libido dos homens (porque nesse caso, a religião abriu uma excessão).
Neste exato momento em que escrevo, existem países no mundo que não permitem que mulheres dirijam ou estudem, porque são consideradas incapazes e inferiores. As leis não foram feitas para que os direitos humanos das mulheres fossem assegurados, vide ausência dos direitos reprodutivos sobre nossos próprios corpos e criminalização do aborto. Tudo o que conquistamos foi com muita luta, e continuamos lutando pra sermos vistas como humanas. Não faz nem 85 anos que as primeiras mulheres conseguiram votar aqui no Brasil, ou seja, minha bisavó não podia votar quando era jovem. Na Grécia Antiga, em pleno berço da “democracia” ateniense, o voto era proibido para as mulheres.
Vocês, que no alto de suas opiniões vem argumentar que a lei não criminaliza e penaliza homens adultos que se envolvem com meninas de 14 anos “com consentimento”, e que por isso ESTÁ TUDO BEM, eu gostaria apenas de dizer que é muita falta de análise histórico-social.
Tem um trecho do filme As Sufragistas em que um homem vira para uma mulher na prisão e diz: “Meu trabalho é aplicar a lei”. Ela responde: “Isso não significa nada pra mim, eu não ajudei a criar as leis”. Espero que as pessoas ABRAM SEUS OLHOS e parem de enxergar o que vai até a pontinha de seus narizes apenas.
LEIA MAIS:
Comentários
Postar um comentário
TODOS OS COMENTÁRIOS SÃO BEM VINDOS.MAS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DE QUEM OS ESCREVE!