Famílias de jovens executados tinham esperança de dias melhores Com passado pobre, pais e mães dos cinco amigos viram o futuro ser fuzilado por policiais
Famílias de jovens executados tinham esperança de dias melhores
Com passado pobre, pais e mães dos cinco amigos viram o futuro ser fuzilado por policiais
RIO — Jorge Roberto Lima da Penha, de 50 anos, olha para frente e leva às mãos à cabeça quando algo que fala sobre o filho dói mais de ser dito. Nesses momentos, parece lembrar que Roberto de Souza, de 16 anos, está morto. Desde o último sábado, o assassinato brutal do garoto, ao lado de quatro amigos em um dos acessos ao Morro da Lagartixa, em Costa Barros, mergulhou Jorge em um périplo por órgãos públicos, munido de pasta e mochila preta, onde acumula os documentos e laudos que o crime o fez colecionar.
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Nessas andanças, está ao lado dos pais e mães dos jovens mortos junto com seu filho. Desde o fim de semana, quando o caso veio a público, esses pais comovem a cidade. Criados na comunidade, tentam exaltar o quão estudiosas e trabalhadoras eram as vítimas, como se a morte na favela lhes tirasse, de antemão, a inocência.
Jorge, que ainda trabalha como soldador, gradou-se em direito em 2013, com uma bolsa integral oferecida por uma universidade de Nova Iguaçu. Sonhava em pegar a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Com a nova profissão, teria mais condições para criar “Beto”, com quem morava sozinho desde que se separou de Joselita, mãe do menino, há dez anos.
O taxista Carlos Henrique do Carmo, de 34 anos, pai de Carlos Eduardo Sousa, de 16 anos, também entrou na profissão para ajudar a criar os três filhos, além dos dois enteados do segundo casamento. Começou a trabalhar com 16, como motoboy, um ano antes de saber que seria pai do menino.
Não é a primeira vez que a violência machuca a família. No dia 11 de novembro, a enteada de Henrique, Thalia, de 8 anos, foi atingida na perna por uma bala perdida na casa da família, em Rocha Miranda. Até agora, a criança ainda não conseguiu voltar a andar.
Márcia Ferreira de Oliveira, de 38 anos, é a mais cabisbaixa do grupo. Desde sábado, sair da Lagartixa tornou-se seu sonho. Mãe de Wilton Júnior e mais três filhos, essa é a segunda perda que enfrenta no ano. Em outubro do ano passado, despediu-se do pai de Wilton, Wilton Domingos, que morreu por problemas de saúde oito dias antes do aniversário do jovem, no dia 24 de outubro.
Ao contrário de Márcia, Rosileia Rodrigues, de 46 anos, perdeu o único filho, Wesley Rodrigues, de 25 anos. Mãe solteira, criou o garoto sozinha, com a ajuda da mãe. Ela própria, admite, o menino só conheceu o pai “por foto”.
Rosi começou a trabalhar com 16 anos, ajudando a mãe, que era costureira. Ainda lembra de sentir as dores do parto na fábrica têxtil onde trabalhava. Wesley, o nome “bonito” que escolhera para o bebê, era o do seu então patrão.
DESESPERO COM PRISÃO
Agora, ela tem outro bebê para criar sem pai: Luiz Henrique, filho de Wesley, de dois anos de idade.
Já a mãe de Cleiton Corrêa, morto aos 18 anos, a dona de casa Mônica Aparecida Santana, de 39 anos, criou sete “anjos”, como costuma chamar os filhos.
Separada do pai de Cleiton, já teve de levá-los para catar comida rejeitada no Ceasa, há “alguns anos". Era a única opção à fome.
Quando Cleiton foi preso por furto, em agosto deste ano, desesperou-se. Em 27 dias, ele teve a inocência provada e foi recebido com angu e feijão em casa:
— Eu nem consegui curtir meu filho. Vieram eles (os policiais) de novo e tiraram a vida dele.
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