COMUNISTAS E DITADORES CORRUPTOS.

Filhas e amigos de Putin enriquecem na Rússia de presidente modesto

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Desde que Vladimir Putin começou a cimentar seu controle da Rússia, nos anos 90, muitos de seus amigos se tornaram fabulosamente ricos.
Mas o mesmo não se aplica ao presidente, dizem seus simpatizantes, que insistem que Putin está acima da busca feroz por dinheiro que caracteriza seu reino.
As declarações de renda do presidente retratam um homem de meios modestos. Em abril, Putin declarou renda de 7,65 milhões de rublos (US$ 119 mil) em 2014, e mencionou como propriedades dois apartamentos e uma participação em um estacionamento.
Jakub Dabrowski - 12.abr.2014/Reuters
Katerina Tikhonova (esq.), filha de Vladimir Putin dança durante competição de dança na Polônia
Katerina Tikhonova (esq.), filha de Vladimir Putin dança durante competição de dança na Polônia
Já Katerina, filha de Putin, está se saindo consideravelmente melhor, com a ajuda de alguns dos ricos amigos do presidente russo, constatou uma investigação da Reuters.
Depois de especulações não confirmadas na mídia sobre a identidade de Katerina, uma figura importante na Rússia informou à Reuters que ela usa o sobrenome Tikhonova.
Andrey Akimov, vice-presidente do conselho do Gazprombank, uma instituição financeira russa, disse que conhece Katerina desde pequena, e mais recentemente acrescentou que ela é filha de Putin.
A Reuters também descobriu, alguns meses atrás, que Katerina, 29, descreve-se como "cônjuge" de Kirill Shamalov, filho de Nikolai Shamalov, velho amigo do presidente.
Nikolai é acionista do Bank Rossiya, que autoridades dos EUA descreveram como o banco preferencial da elite da Rússia.
Como marido e mulher, Kirill e Katerina deteriam ativos empresariais da ordem de US$ 2 bilhões, de acordo com estimativas fornecidas à Reuters por analistas financeiros.
A riqueza deriva principalmente de uma grande participação, declarada publicamente, em uma importante companhia de gás natural e petroquímica adquirida por Kirill de Gennady Timchenko, mais um dos velhos amigos de Putin.
Outra das propriedades do jovem casal é uma casa de verão no litoral da França em Biarritz, com valor estimado em cerca de US$ 3,7 milhões. Trata-se de mais um ativo adquirido por Kirill de Timchenko, operador de commodities que conhece o presidente desde pelo menos os anos 90.
Regis Duvignau - 20.jun.2015/Reuters
Casa de Kirill Shamalov em Biarritz, sudoeste da França
Casa de Kirill Shamalov em Biarritz, sudoeste da França
VIDA ACADÊMICA
Katerina também está prosperando na vida acadêmica e comanda projetos bancados por verbas públicas na Universidade Estatal de Moscou.
Uma investigação de documentos públicos feita pela Reuters mostra que a filha mais jovem do presidente assinou contratos em valor de milhões de dólares com organizações estatais para trabalhos de organizações que ela dirige na universidade. Não existe qualquer indicação de que ela tenha extraído ganhos financeiros pessoais desses trabalhos.
Katerina detém uma posição elevada na hierarquia da universidade e ajuda na direção de um plano de US$ 1,7 bilhão para a expansão de seu campus.
Os conselheiros oficiais de Katerina na Universidade Estatal de Moscou incluem cinco membros do círculo mais próximo de assessores de Putin —entre os quais dois ex-agentes do KGB (o serviço secreto da antiga União Soviética) que a conhecem desde que era menina.
Os dois serviram com o pai de Katerina quando ele era agente do KGB estacionado em Dresden, Alemanha Oriental, nos anos 80.
A filha mais velha de Putin, Maria, também tem conexões com a Universidade Estatal de Moscou. Ela se formou pelo Departamento de Medicina Fundamental da instituição e está fazendo carreira no campo da endocrinologia, de acordo com documentos disponíveis publicamente.
Katerina, Maria e Kirill Shamalov se recusaram a fazer comentários para este artigo. Questionado sobre a casa em Biarritz, um porta-voz de Timchenko disse que não comentaria sobre assuntos pessoais.
As aquisições de ações, o envolvimento em negócios com participação do Estado, a propriedade na França e as conexões com oligarcas oferecem um raro vislumbre sobre a vida das filhas de Putin.
O presidente sempre foi muito protetor quanto à privacidade de suas filhas, que raramente aparecem na mídia.
ASCENSÃO ECONÔMICA
As transações também oferecem um vislumbre sobre as finanças familiares do homem mais poderoso da Rússia e da elite que se formou ao seu redor.
Katerina e Kirill, 33, são parte de uma nova geração de russos que desfrutam de rápida ascensão facilitada pelos relacionamentos de seus pais com os poderosos.
O fenômeno tem pontos em comum com o dos "principezinhos" da China —filhos e netos de líderes do Partido Comunista que vieram a adquirir posições de poder e a acumular grandes riquezas.
Olga Kryshtanovskaya, socióloga e antiga integrante do Rússia Unida, o partido político de Putin, disse à Reuters que uma "nova aristocracia" estava emergindo na política e nas companhias estatais, e que uma segunda geração já estava começando a herdar o status do círculo mais próximo a Putin no momento.
"Muita gente na sociedade tem a opinião de que eles não trabalharam para merecer suas posições, e questiona quem realmente são essas pessoas", declarou.
Entre os filhos de amigos de Putin que conquistaram influência crescente estão:
- Boris Kovalchuk, filho de Yuri Kovalchuk, o maior acionista do Bank Rossiya e associado muito próximo de Putin;
- Gleb Frank, filho do antigo ministro dos Transportes Sergei Frank e genro de Timchenko, o bilionário das commodities;
- Igor Rotenberg, filho do bilionário Arkady Rotenberg, que costumava treinar judô com Putin;
- Sergei S. Ivanov, filho de Sergei B. Ivanov, o chefe da Casa Civil do Kremlin.
Alexey Nikolsky - 6.nov.2012/AFP
Presidente Putin (dir.) conversa com chefe da Casa Civil, Sergei B. Ivanov, durante evento em Moscou
Presidente Putin (dir.) conversa com chefe da Casa Civil, Sergei B. Ivanov, durante evento em Moscou
Em entrevista à Reuters, o líder oposicionista russo Alexey Navalny descreveu o que define como um "sistema neofeudalista", que ameaça dominar as instituições de Estado e as grandes empresas.
"Hoje, na Rússia, é completamente normal que os conselhos dos grandes bancos estatais sejam formados por filhos de oficiais dos serviços de segurança, apontados para essas posições antes de chegarem aos 30 anos", disse.
"É mais que uma sucessão dinástica. Os filhos não herdam apenas os postos de seus pais, mas o direito de escolher qualquer outro posto que desejem. O perigo é que muito em breve todos os recursos terminem sob o controle de cinco a sete famílias."
A Reuters perguntou ao Kremlin se Katerina Tikhonova era filha de Putin e se ela é casada com Kirill Shamalov, e outras questões.
Dmitry Peskov, secretário de imprensa da Federação Russa, respondeu que "não temos qualquer informação sobre a vida pessoal, conexões familiares, situação marital, atividades acadêmicas, envolvimento em projetos particulares ou árvore genealógica de Tikhonova ou de outros indivíduos mencionados em sua carta".
"Nos últimos anos, tem havido imenso volume de fofocas sobre o assunto das relações familiares de V. Putin, e especialmente sobre suas filhas. A proporção de informações precisas publicadas sobre esse assunto é risivelmente pequena", o porta-voz acrescentou.
PESQUISADORA TALENTOSA
Katerina em geral escapou à atenção pública desde que seu pai se tornou presidente, em 2000. Em 2011, Putin declarou à TV russa que Katerina havia se formado em estudos orientais, e se especializado na história e idioma do Japão, pela Universidade de São Petersburgo.
Pouco mais se sabia sobre a vida adulta dela até que Oleg Kashin, um blogueiro russo, reportasse em janeiro que a filha mais nova do presidente tinha participação ativa na Universidade Estatal de Moscou e que usava o sobrenome Tikhonova, derivado do sobrenome de sua avó, Yekaterina Tikhonovna Shkrebneva.
Além de Akimov, do Gazprombank, duas fontes acadêmicas importantes —uma na Universidade Estatal de Moscou e outra um cientista com bons contatos na instituição— também confirmaram à Reuters que Tikhonova era filha de Putin.
Ela conquistou progresso rápido desde seu bacharelado em estudos orientais.
De acordo com o site da Universidade Estatal de Moscou, Katerina é parte do corpo docente da Escola de Mecânica e Matemática.
Sob o nome Tikhonova, é citada como autora, em companhia de outros acadêmicos, de um livro didático de matemática e de pelo menos seis estudos científicos, de 2011 para cá.
Os temas incluem estudos sobre medicamentos e viagens espaciais; um deles é descrito como um estudo sobre a maneira pela qual o corpo humano reage à gravidade zero.
A maioria dos estudos foi escrita em parceria com Viktor Sadovnichy, o reitor da universidade. Ele não respondeu diretamente a pedidos de comentário, mas a universidade divulgou um comunicado.
O texto afirma que Tikhonova havia provado ser uma "pesquisadora talentosa", que "reportou os resultados de suas pesquisas em seminários e conferências científicas muitas vezes", acrescentando que "não temos informações sobre a vida privada de nossos funcionários".
Tikhonova também é diretora de duas iniciativas conectadas à universidade, a Fundação Nacional para o Desenvolvimento Intelectual (FNDI) e o Centro Nacional de Reserva Intelectual (CNRI).
Ela se tornou diretora da FNDI, uma organização sem fins lucrativos, em 2013, e posteriormente assumiu a diretoria do CNRI.
As duas organizações criaram e dirigem um projeto chamado Innopraktika, na universidade, também comandado por Tikhonova, que patrocina e apoia jovens cientistas.
Sergei Karpukhin/Reuters
Diretor-geral da estatal russa "Rostec" Sergei Chemezov, assiste à conferência em Moscou
Diretor-geral da estatal russa "Rostec" Sergei Chemezov, assiste à conferência em Moscou
O Innopraktika conta com uma longa lista de consultores e parceiros próximos a Putin, entre os quais Sergei Chemezov e Nikolai Tokarev.
Os dois eram membros do KGB e trabalharam com Putin na época em que este espionava em Dresden, Alemanha, e viviam no mesmo conjunto de apartamentos que o futuro líder russo e sua jovem família.
Chemezov agora comanda a gigante estatal da tecnologia Rostec e Tokarev preside a estatal Transneft, que opera gasodutos. Tokarev não respondeu a pedidos de comentário.
A Rostec, de Chemezov, afirmou em comunicado que auxilia no desenvolvimento da indústria estatal, e que o envolvimento de Chemezov com a Innopraktika era portanto "natural e lógico".
Também entre os conselheiros da Innopraktika, de acordo com o seu site, estão Igor Sechin, presidente da estatal petroleira Rosneft, e Andrey Akimov, vice-presidente do conselho do Gazprombank. A Rosneft e Sechin se recusaram a comentar.
Tradução de PAULO MIGLIACCI 

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