"Eu sou um perseguido político", diz empresário sobre condenação à revelia por corrupção na Bolívia
"Eu sou um perseguido político", diz empresário sobre condenação à revelia por corrupção na Bolívia
Exilado nos Estados Unidos, Humberto Roca conta como um enviado de Evo Morales tentou suborná-lo no exterior
O empresário Humberto Roca comandava um dos principais grupos empresariais da Bolívia, sendo responsável pela geração de 3% do PIB de seu país. Entre as suas empresas estava a Aerosur, que operava voos nacionais e internacionais, para o Brasil e para a Europa. Na semana passada, Roca se tornou o primeiro opositor boliviano a ser condenado à revelia por um tribunal de La Paz. Acusado de sonegação de impostos, Roca teve a prisão pedida pelo governo de Morales. Além da sentença de 5 anos de prisão, ele teve todos os seus bens confiscados pelo governo. De Miami, onde vive desde 2010, Roca dá a sua versão para o que ele define como um "crime de Estado".
Como o senhor recebeu a notícia da condenação? Sem surpresa, mas com muita consternação. A sentença emitida contra mim revela muito sobre o que a Bolívia se transformou hoje. Um país liderado por um governo sem escrúpulos que usa o aparato de Estado para perseguir quem ele julga que o ameaça.
Que tipo de ameaça o senhor representava? Acho que nenhuma, mas na cabeça de Evo Molares qualquer um que ouse criticar seu governo e denunciar a estrutura corrupta que o cerca e da qual ele faz parte se transforma em alvo. Veja o caso dos perseguidos de Santa Cruz de La Sierra e dogovernador Leopoldo Fernández. A minha desgraça foi a de meu nome ter aparecido entre os mais cotados como possível candidato a presidência. Embora eu jamais tivesse aspirado um posto político, Evo não quis arriscar. Transformou-me em um alvo.
O governo o acusa de sonegação. O que o senhor tem em sua defesa? O processo nasceu ilegal. Fui indiciado por uma lei que deveria ser aplicada em relação a servidores públicos. Além disso, fui imputado em um crime que em tese teria ocorrido antes da lei. Ainda que eu tivesse culpa, jamais poderia ser condenado por uma lei que não existia na ocasião do suposto crime. Mas declaro que sou inocente. Sempre pedi que auditassem a minha companhia aérea. Mas o governo sempre recusou, porque o objetivo não era fazer justiça, mas o de me condenar.
Por que o senhor fugiu da Bolívia? Nunca fugi. Sai do país para tratar de um câncer. O governo sabia disso e aproveitou para iniciar o processo nesse momento. Durante o período em que passei internado na Espanha fui convencido por minha família a não mais voltar. E hoje acho que fiz a coisa certa, pois eu não estaria vivo para lhe contar essa história.
O senhor teve seus bens confiscados e sua companhia aérea foi levada à falência pela ação do governo. Nem assim o senhor não fez um acordo com o governo? Que acordo se não devo nada? O governo da Bolívia chegou a enviar para Miami um emissário que me pediu 30 000 dólares de propina para cancelar o processo. Eu o denunciei ao FBI e ele foi preso em flagrante em uma operação em que ele foi gravado dizendo que sabe que sou inocente e que o processo havia sido montado para me neutralizar.
Como foi essa operação? O que aconteceu aqui foi algo sem paralelo. Em 2013, Mario Ormachea, que na ocasião era chefe da divisão de combate à corrupção em meu país, veio até mim para me extorquir. Aceitei falar com ele, mas denunciei o encontro ao FBI, que instalou câmeras em minha casa eregistrou tudo.
O governo Morales comunicou que pedirá a sua extradição... É pura forma de pressão. Quer passar um recado para os possíveis novos opositores para que eles pensem duas vezes antes de incomodar o governo. Minha situação nos Estados Unidos é de asilado. O governo reconheceu a partir das provas apresentadas que eu sou um perseguido político.
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