ESCÂNDALOS NA CASA DE DEUS

A Revista Eclésia deste mês trouxe como matéria de capa o tema: “Escândalos em nome de Deus”. O artigo fala sobre o caso envolvendo um determinado apóstolo, líder de uma igreja com mais de dois mil membros, que convenceu uma menina de 13 anos, participante do grupo de coreografia da igreja, a manter relações sexuais com ele. A menina tinha declarado que gostava do filho dele. O referido pastor procurou a menina e disse tivera um sonho profético com ela, e se a mesma quisesse ficar com o seu filho, teria que fazer um sacrifício como o de Abraão na Bíblia. O sacrifício seria entregar-se para o próprio apóstolo por três vezes. A menina ao concordar foi levada pelo apóstolo a um motel. Depois do ato, ele perguntou-lhe: O senhor tem certeza que o sonho e tudo que fizemos é de Deus?” Ele respondeu: “Eu jamais brincaria com o nome de Deus”.
Após a denúncia ser aceita pelo Ministério Público e o julgamento concluído, o apóstolo foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado. A juíza qualificou os crimes como “gravíssimos e hediondos”.

Na década de 80, escândalos do púlpito sacudiram a igreja nos Estados Unidos. Nos anos 1980, ele era considerado um paladino da moral e dos bons costumes. O pastor Jimmy Swaggart, um dos mais importantes televangelistas americanos, fazia de seus programas, transmitidos para mais de 40 países – inclusive o Brasil –, uma verdadeira trincheira na luta contra a carnalidade. Pregador eloqüente e carismático, Swaggart reunia famílias inteiras diante da TV e era crítico contundente da pornografia. Ironicamente, caiu justamente por causa dela, num episódio rumoroso envolvendo prostitutas e uma disputa pessoal com o também pregador televisivo Jim Bakker. Proprietário do canal de televisão PTL (Praise the Lord), com 12 milhões de telespectadores apenas nos Estados Unidos, Bakker acabou se tornando um rival de Swaggart. Tudo ruiu quando fotos suas, acompanhado de garotas de programa, chegaram à imprensa. Na época, atribuiu-se o vazamento das imagens a Swaggart.

O troco não demorou. Um detetive particular contratado por Bakker não teve muito trabalho para fotografar Swaggart diante de um motel, com o carro cheio de prostitutas. Sem saída, ele confessou que pagava para que elas fizessem strip-tease para ele. Perdoado pela mulher, Francis, ele foi à tevê, chorou e confessou-se arrependido pelo ato. Contudo, sua reputação e ministério foram irremediavelmente abalados.

No fim de 2006, outro escândalo sexual abalou a Igreja Evangélica dos Estados Unidos. Eleito pela revista Time como um dos 25 principais líderes cristãos do país, Ted Haggard admitiu consumir material pornográfico e o envolvimento sexual com um garoto de programa, que o denunciara publicamente. O caso provocou maior espanto porque Haggard era uma das principais vozes contra o homossexualismo.

Quem recentemente também admitiu problemas com o chamado mercado de “conteúdo adulto” foi o pastor australiano Mike Guglielmucci, do ministério Hillsong. Ele confessou, após dois anos declarando-se vítima de um câncer terminal – chegou até mesmo cantar com o auxilio de um tubo de oxigênio –, que sua única doença era o vício em pornografia. A farsa gerou um tremendo mal-estar no badalado grupo de louvor australiano. “Eu sou assim, viciado nesta coisa. Ela consome minha mente”, disse, em entrevista a um canal de tevê.
Jesus ao advertiu os discípulos, disse que o escândalo viria, mas aí daquele por quem viesse o escândalo, era melhor pendurar uma pedra ao pescoço e atirar-se ao fundo do mar, que causar dano à fé das pessoas. Infelizmente, muitos líderes parecem que arrancaram as páginas da Bíblia que trazem estas advertências.
Segundo o pastor Paulo Romeiro, pesquisador da Universidade Mackenzie, em São Paulo: “Basta uma rápida pesquisa na internet ou uma passagem pelo noticiário para ficar claro que nunca tivemos tantos escândalos e abusos na Igreja como agora. E muita coisa ainda é abafada dentro das próprias igrejas”.
Mas o que leva um líder cristão a derrapar de forma tão acintosa? A resposta não é simples, mas costuma estar relacionada ao trio: dinheiro, sexo e poder. Segundo o pastor e psicanalista Luiz Leite de Belo Horizonte, os escândalos surgem, porque os líderes não conseguem controlar o poder que detêm sobre um grupo sem abusar das prerrogativas que a posição lhe confere. Já segundo o professor Lourenço Stelio Rega, diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, adverte que é preciso ter cuidado na hora de julgar: “Não dá para generalizar. Assim como existem lobos em peles de ovelhas e líderes sem escrúpulos, também há uma grande parte ética e comprometida com os valores de Cristo. Estes não podem fechar os olhos para os abusos. Precisamos de uma nova reforma. Chega de ouvir palavras mágicas e de ver poucos frutos de caráter”. O resultado desses tristes episódios, tem sido muita gente afastada da igreja e outros tantos feridos na casa de Deus.

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