Petrobras foi indelicada, diz economista excluído de conselho
Petrobras foi indelicada, diz economista excluído de conselho
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O economista Sérgio Quintella, 80, vice-presidente da FGV (Fundação Getulio Vargas), considerou uma "indelicadeza" e "desnecessário" não ter sido comunicado previamente sobre a súbita exclusão de seu nome da lista de indicados para uma das sete vagas da União no conselho de administração da Petrobras."Não sou criança, tenho uma biografia a zelar", disse, em entrevista à Folha sobre o episódio. "Era só ligar antes".
Quintella, no conselho desde 2009, disse ter pedido para não constar da nova lista, mas que, atendendo a apelo de Aldemir Bendine, presidente da estatal, manteve-se na chapa.
Leo Pinheiro - 2.jun.2009/Folhapress | ||
O economista Sergio Quintela, durante o seminário no Rio de Janeiro; considerou uma "indelicadeza" não ter sido comunicado sobre a exclusão |
No momento em que os membros do conselho seriam apresentados, inesperadamente foi comunicado que a União havia retirado os nomes de Quintella, do general de reserva Francisco Albuquerque e o diretor de Finanças da empresa, Ivan Monteiro.
O governo, Bendine e o presidente da Vale, Murilo Ferreira, vinham buscando outros nomes para compor o conselho.
Quintella ainda afirma que, em nenhum momento, foi informado de que seu nome seria removido.
Ele conta ainda que os dias mais difíceis foram depois de a PwC ter dito que não assinaria o balanço do terceiro trimestre e a reunião da aprovação do último balanço, que durou cerca de nove horas.
Procurados pela reportagem para comentar as declarações de Quintella, Petrobras e Bendine não responderam até o momento.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha.
FOLHA – Como o senhor soube de sua exclusão da lista de conselheiros de administração da Petrobras?
SÉRGIO QUINTELLA – Eu soube por volta das 19h, quando recebi um telefonema de uma pessoa que estava na assembleia de acionistas. Pensei "não é possível, eu nunca fui avisado". Isso foi completamente desnecessário. Eu já tinha pedido para sair. Mandei uma carta para o Guido Mantega [na época, presidente do conselho de administração da Petrobras] no dia 15 de março, dizendo que eu não queria constar da lista que seria apresentada na assembleia para ocupar o conselho no próximo mandato.
Por que o senhor não queria permanecer no conselho?
Já estava desde 2009, e acho que a renovação é sempre benéfica. Além disso, o volume de trabalho, com todas as comissões de auditoria interna criadas para investigar os desvios, umas dez só com a Lava Jato, que geravam documentos de 300 páginas confidenciais Estava começando a inviabilizar minhas funções na FGV, em que cuido, com o presidente [Carlos Ivan Simonsen Leal], da parte gerencial.
E por que seu nome constava da lista publicada pela empresa no dia 27 de março?
Mantega encaminhou minha carta ao Bendine, que me procurou uma semana depois. Ele fez um apelo para que eu mudasse de opinião, que ele reconhecia minha contribuição. Eu disse "você não se preocupe. Eu ficarei, vou assinar o balanço". Ficaria até mal para mim porque eu acho que o balanço está bem feito. Como eu tinha enviado uma carta pedindo para não continuar, pedi que ele me mandasse uma carta dele, para ficar. E foi o que ele fez.
O que dizia a carta?
Pedia que eu revisse meu pedido de não ir à eleição, em função da fase de transição da empresa.
O senhor acha que ele agiu assim só para aprovar o balanço, ou que o pedido para ficar valesse só até a aprovação?
Se eu tinha mandado uma carta para não compor a lista que seria submetida à assembleia, e ele pediu para eu rever isso, é evidente que estávamos falando da lista. O direito de promover mudanças eu não questiono. Mas se tratou de uma indelicadeza. Eu havia pedido para sair e deveria ter sido comunicado da exclusão do meu nome. A substituição vinha sendo construída. O Roberto Castello Branco [um dos novos conselheiros eleitos] me comunicou há três semanas que havia sido chamado pelo Murilo Ferreira [presidente da Vale e eleito presidente do conselho da Petrobras]. No dia da assembleia, 11h da manhã, eu estava lá na empresa, orientando áreas de controle a revisar as demonstrações contábeis de acordo com as regras americanas, revendo alguns pontos críticos.
O senhor espera um pedido de desculpas?
Não precisa Simplesmente reflito sobre o desconforto de um assunto que havia sido tratado por nós por correspondência escrita. É evidente que não fiquei satisfeito. A forma como foi feita foi completamente desnecessária. Era só ligar dias antes e dizer "olha, Sérgio, houve alterações, o governo decidiu mudar", e eu diria "ótimo, era o que eu queria mesmo". Não estou chateado porque não integro mais o conselho da Petrobras. Estou pessoalmente aborrecido porque ou foi um ato impensado ou não deram importância ao fato de um conselheiro contribuir por seis anos com a companhia.
O Ivan Monteiro me ligou depois, pediu desculpas, disse que a culpa era dele. Eu disse que achei aquilo uma falta de consideração, e ele respondeu que tomaria uma providência. Eu lhe disse que a providência a ser tomada deveria ser um comunicado. Como esse comunicado não veio, decidi falar. Não sou criança e tenho uma biografia a defender. Quando as pessoas souberam [que seu nome havia sido retirado da lista], amigos, professores da fundação, todos me ligaram, querendo saber o que havia ocorrido. Não posso deixar de tornar isso público.
Quais foram os dias mais difíceis nesses seis anos de conselho?
Os dias depois de a PwC ter dito que não assinaria o balanço do terceiro trimestre, porque continha assinatura do Sérgio Machado [ex-presidente da Transporto, citado em depoimentos do ex-diretor da Petrobras como tendo recebido propina], foram bem difíceis. A reunião mais difícil foi a da aprovação do último balanço, que durou umas nove horas, porque eram muitas dúvidas, muitos questionamentos por parte de todos os conselheiros.
Qual era o principal ponto?
A questão de tratar as refinarias como algo único, uma unidade geradora de caixa. Os conselheiros independentes discordam, acham que o cálculo de valor recuperável deve ser feito em cada refinaria. Mas há exemplos no mundo todo em que se veem as unidades em conjunto, considerando as sinergias [três conselheiros de administração e dois fiscais criticaram a metodologia, porque consideram que superavalia o parque de refino. Quatro deles votaram contra a aprovação do balanço]. Tecnicamente, a companhia está segura. Acho que a PwC, nesse aspecto, teve comportamento que merece ser ressaltado e pela forma como cooperaram. Eles ajudaram no processo de encontrar caminhos legais dentro da legislação, dentro da CVM [Comissão de Valores Mobiliários], da SEC [equivalente à CVM nos Estados Unidos], dentro do que pudessem aceitar, e estou certo de que aceitarão.
O senhor acha que a empresa tem condições de sair da crise?
A Petrobras está no momento correto para sair desse embrulho. Tanto Bendine quanto o Ivan têm muito conhecimento técnico. Foi uma solução boa levar gente do mercado financeiro para a empresa, porque ela não tem problemas operacionais. Tem enormes reservas. O que faltava era mecanismo de controle que funcionasse, porque, se funcionasse, não teriam ocorrido os desvios. Hoje, a empresa tem um diretor para fiscalizar os processos de governança [João Elek, contratado em janeiro], com mandato blindado, pois só pode sair com voto de dois terços do conselho, sendo um voto obrigatoriamente de um conselheiro representante dos minoritários.
O que o senhor achou dos novos conselheiros?
Não conheço todos. O Castelo Branco, que é professor nosso, tem experiência de uma grande empresa, já que foi diretor na Vale. Os outros são profissionais experientes. A vantagem principal é que não tem alguém de natureza política. Eu estava na vaga da União, mas não era indicação política. Eu cheguei lá porque o governo pediu uma sugestão da FGV para compor o conselho, e o Carlos Ivan me propôs.
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