"Meu filho agora é pai e eu o perdoo por tudo", diz mãe de brasileiro que se uniu ao Estado Islâmico A brasileira Ozana Rodrigues conta que seu filho Brian de Mulder se casou com uma marroquina e acabou de ter uma criança na região controlada pelo grupo terrorista famoso por decapitar seus inimigos e queimar pessoas vivas
"Meu filho agora é pai e eu o perdoo por tudo", diz mãe de brasileiro que se uniu ao Estado Islâmico
A brasileira Ozana Rodrigues conta que seu filho Brian de Mulder se casou com uma marroquina e acabou de ter uma criança na região controlada pelo grupo terrorista famoso por decapitar seus inimigos e queimar pessoas vivas
Ana Carolina Nunes
Brian de Mulde, o brasileiro nascido na Bélgica que se tornou um combatente do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, virou pai. Casado com uma marroquina, o jovem de apenas 21 anos que aparece em fotos empunhando um rifle AK-47 e em roupas camufladas, possivelmente na cidade síria de Raqqa, ganhou uma menina, há pouco mais de um mês. A bebê, batizada de Aisha, continua com Brian e sua mulher no território comandado pelos extremistas islâmicos que chocam o mundo com vídeos recorrentes de decapitações e assassinatos bárbaros.
Antes de se juntar ao Estado Islâmico, o sonho de Brian
era ser jogador e atuar pela seleção brasileira de futebol
era ser jogador e atuar pela seleção brasileira de futebol
A pouco mais de 4 mil quilômetros da área controlada pelo EI, a fluminense Ozana Rodrigues passa as noites a sonhar com o dia em que irá reencontrar o filho e, agora, conhecer a neta. “Tudo que eu queria era ver minha netinha, tudo que eu peço pra Deus “, diz ela aos prantos, por telefone, de Antuérpia, na Bélgica, onde mora atualmente. Brian é filho de Ozana e do belga Stephen de Mulder, e fugiu de casa em direção à Síria há mais de dois anos. Durante todo este tempo, ligou apenas uma vez para a mãe. Disse que estava bem e trabalhando em uma escola. As últimas informações que teve do filho Ozana conseguiu com a família da mulher de Brian.
Natural da cidade de Silva Jardim, na região Norte do Estado do Rio, Ozana não está bem. Desde que o filho seguiu para o Oriente Médio, entrou em depressão, deixou de trabalhar e, por pouco, não perdeu a guarda da filha mais nova, de 14 anos. Intercalando momentos de calma, euforia e desespero, Ozana contou à ISTOÉ como têm sido os dias em busca de informações sobre Brian e a expectativa de reencontrá-lo um dia. “O meu filho é a coisa mais preciosa que eu tenho na vida, eu perdoo ele, independentemente do que ele tenha feito”, diz.
Istoé: A senhora tem tido notícias do seu filho? Sabe em que situação ele está?
Não sei dizer...mas eu falei com a família da esposa dele, uma marroquina, porque eu queria saber se eles tinham notícias dele e a família dele me contou que ele agora é pai. Ele tem uma filha, chama Aisha. Nasceu tem um mês.
Não sei dizer...mas eu falei com a família da esposa dele, uma marroquina, porque eu queria saber se eles tinham notícias dele e a família dele me contou que ele agora é pai. Ele tem uma filha, chama Aisha. Nasceu tem um mês.
Istoé: A senhora espera conhecê-la?
Sim, tudo que eu queria era ver minha netinha, tudo que eu peço pra Deus.
Sim, tudo que eu queria era ver minha netinha, tudo que eu peço pra Deus.
Istoé: Se o seu filho retornar a senhora acha que é possível ter uma vida normal aí na Bélgica?
Vida normal não vai ter mesmo, meu filho está sendo condenado que nem Jesus Cristo, está sendo apedrejado na cruz.
Vida normal não vai ter mesmo, meu filho está sendo condenado que nem Jesus Cristo, está sendo apedrejado na cruz.
Istoé: E a senhora vai perdoá-lo mesmo que ele tenha matado alguém?
O meu filho é a coisa mais preciosa que eu tenho na vida, eu perdôo ele sim, independentemente do que ele tenha feito. Por que eu sei que uma hora ele vai ter que matar alguém lá, mas não porque ele quer, vão fazer ele matar alguém lá. Ele não foi porque quis, levaram meu menino.
O meu filho é a coisa mais preciosa que eu tenho na vida, eu perdôo ele sim, independentemente do que ele tenha feito. Por que eu sei que uma hora ele vai ter que matar alguém lá, mas não porque ele quer, vão fazer ele matar alguém lá. Ele não foi porque quis, levaram meu menino.
Ozana está na Bélgica desde 1991. Na Europa, conheceu o pai de Brian
Istoé: A senhora planeja sair da Bélgica?
Eu não vou sair daqui enquanto não tiver meu filho. E depois, se o Brasil permitir minha entrada no país com o meu filho, eu posso voltar. Senão, só se for quando estiver bem velhinha.
Eu não vou sair daqui enquanto não tiver meu filho. E depois, se o Brasil permitir minha entrada no país com o meu filho, eu posso voltar. Senão, só se for quando estiver bem velhinha.
Istoé: A senhora acha cometeu algum erro com seu filho? O que teria feito diferente?
Eu não teria nunca vindo morar em Antuérpia. É uma cidade que é mais pra estrangeiro que para os próprios belgas, me arrependo muito de ter vindo morar aqui.
Eu não teria nunca vindo morar em Antuérpia. É uma cidade que é mais pra estrangeiro que para os próprios belgas, me arrependo muito de ter vindo morar aqui.
Istoé: Como foi a infância e a adolescência de Brian?
O Brian era uma criança muito levada, mas sempre maravilhosa. Levada, mas que você amava, sempre gostou de rir, sempre foi divertido, era querido por todo mundo. Sempre uma criança muito dada, lia a Bíblia, era muito católico. O Brian foi o filho mais perfeito que Deus poderia ter me dado. Nunca bebeu, nunca fumou. Sabe qual música meu filho gostava mais: Jesus Cristo, do Roberto Carlos. Ele era muito obediente e muito carinhoso. Apegado à mãe e à família. Ele conversava as coisas comigo. Por exemplo, me contou que perdeu a virgindade aos 17 anos, nunca teve vergonha, a relação era aberta e é bom acostumar seu filho a isso. Eu cuidava do meu filho como uma galinha que cuida dos pintinhos. Eu não vou deixar ninguém, nem Ala, nem Mohamed, tirar meu filho de mim de jeito nenhum.
O Brian era uma criança muito levada, mas sempre maravilhosa. Levada, mas que você amava, sempre gostou de rir, sempre foi divertido, era querido por todo mundo. Sempre uma criança muito dada, lia a Bíblia, era muito católico. O Brian foi o filho mais perfeito que Deus poderia ter me dado. Nunca bebeu, nunca fumou. Sabe qual música meu filho gostava mais: Jesus Cristo, do Roberto Carlos. Ele era muito obediente e muito carinhoso. Apegado à mãe e à família. Ele conversava as coisas comigo. Por exemplo, me contou que perdeu a virgindade aos 17 anos, nunca teve vergonha, a relação era aberta e é bom acostumar seu filho a isso. Eu cuidava do meu filho como uma galinha que cuida dos pintinhos. Eu não vou deixar ninguém, nem Ala, nem Mohamed, tirar meu filho de mim de jeito nenhum.
Istoé: Quais eram os interesses do Brian quando vivia na Bélgica?
Ele era um ótimo jogador de futebol, fazia aulas de dança, ótimo dançarino. Participava de um grupo de dança, dessas danças tipo Michael Jackson . Era estudioso, lia muito. Gostava muito de ler romance. Era carinhoso, gostava muito do amor e acreditava no amor. Quando esse povo entrou na nossa vida ele tinha uma namorada brasileira. Ele queria ser jogador de futebol, queria jogar no Barcelona e o maior sonho dele era jogar na Seleção Brasileira.
Ele era um ótimo jogador de futebol, fazia aulas de dança, ótimo dançarino. Participava de um grupo de dança, dessas danças tipo Michael Jackson . Era estudioso, lia muito. Gostava muito de ler romance. Era carinhoso, gostava muito do amor e acreditava no amor. Quando esse povo entrou na nossa vida ele tinha uma namorada brasileira. Ele queria ser jogador de futebol, queria jogar no Barcelona e o maior sonho dele era jogar na Seleção Brasileira.
Istoé: Percebeu o momento em que ele passou a mudar?
Sim, ele sempre falava sobre Ala, sobre Mohamed, dizia que eu iria para o inferno se eu não me convertesse. E eu falava “deixa disso menino, larga esse povo”. O Brian já não era mais aquele filho. Roubaram meu filho.
Istoé: E como aconteceu essa mudança dele? Quando a senhora se deu conta de que ele havia mudado?
Quando ele se converteu em fevereiro de 2011. Ele queria muito ser jogador futebol, quando ele tinha 17 anos, ele foi participar de uma seleção, mas eles queriam meninos mais velhos, de 19 anos, 21 anos. Então ele não foi selecionado. E ele ficou muito triste. Foi quando ele conheceu uns marroquinos, que jogavam futsal, eles levaram o Brian pra jogar futsal e ele foi se envolvendo com esse povo. Sumia, ficava até de madrugada na rua.
Istoé: E a senhora sabia aonde ele ia nessas madrugadas?
Não sei. Os terroristas o procuravam de madrugada. Ele sumia por dois ou três dias. Eu ia à polícia e a polícia ria da minha cara. A Bélgica tentou detonar comigo, como detonaram a vida do meu filho. Eu tinha meu apartamento. Quando ele começou a se envolver com esse povo eu fugi pra Limburgo (cerca de 80 km ao leste de Bruxelas). Fiquei escondida por um ano e seis meses até o fim de 2012, usando dinheiro da poupança. Os terroristas descobriram onde eu tinha ido e foram atrás. Chegaram de madrugada e levaram ele.
Istoé: Como acharam vocês?
Esse povo tem pacto com o demônio. Localizam todo mundo. Eles mandaram meu filho pra Síria como bucha de canhão. Eles entregaram meu filho para os terroristas, eles têm medo deles. O governo e a polícia da Bélgica sabiam que eu era mãe sozinha, eles me vigiavam. São 30 mil euros por cabeça que pagam.
Istoé: Quem paga e para quem?
Dizem que um sheik do Petróleo paga para os terroristas.
Istoé: Qual foi a última coisa que ele fez ou falou antes de ir partir, a senhora lembra?
Eu estava na cozinha, a gente tinha tido uma briga, uma discussão. Porque ele tinha recebido uma ligação e eu falei pra ele “pelo amor de deus, deixa essa gente” e então a gente começou a brigar.
Era dia 22 de janeiro de 2012, eu estava fazendo jantar, ele estava tão lindo, ele era muito vaidoso, cheiroso, o cabelo dele era lindo...você abraçava ele e...(começa a chorar).
Istoé: Como tem sido seus dias após a partida de Brian?
Se o inferno realmente existe, eu estou nele. Eu perdi tudo. Meu filho, minha casa, meu emprego, tudo. Morei na rua. Tive que mandar minha filha mais nova morar com uns amigos. O governo quis mandar ela para um abrigo, mas eu não deixei. Falaram que eu era louca. Não tem um segundo, uma noite, um dia em que eu não pense no meu filho.
Istoé: Por que a senhora perdeu seu emprego?
Eu era vendedora em uma loja de móveis e com esse problema do Brian eu ia dormir tarde, às vezes às 4h da manhã, vigiando o Brian ou esperando ele chegar de madrugada. Então eu comecei a faltar ou chegar muito atrasada no trabalho e meu patrão me demitiu. Eu tentei suicídio ano passado. Fiquei internada cinco meses e meio. Cortei os pulsos. Me mandaram pra psiquiatria.
Istoé: E hoje a senhora tem algum acompanhamento médico ou psicológico?
Não.
Istoé: A senhora mora sozinha?
Moro com minha filha mais nova, de 14 anos. A outra filha, mais velha, de 26 anos, mora aqui perto. Eu já tenho uma netinha filha dela.
Istoé: O pai de Brian tem participado ao seu lado?
Ele tem acompanhado à distância. Ele também entrou em depressão e foi demitido do lugar que ele trabalhava, tipo um Detran daqui. Ele não pode nem ver e ouvir falar de mulçumano e marroquino, ele fica muito nervoso. Ele vai comigo no tribunal e briga muito. Então ele não se envolve muito, pois ele perde a cabeça. Ele também perdeu um filho. Eles se viam bastante, a cada 15 dias o Brian ficava sexta, sábado e domingo com ele, normal.
Istoé: De onde a senhora é no Brasil e como foi morar na Bélgica?
Eu sou de uma cidade pequena no Rio de Janeiro, Silva Jardim. Fui para Bélgica em 1991 visitar uns amigos que moravam lá. Fiquei dois meses. Foi quando eu conheci o pai do Brian, Stephen de Mulder. Voltei para o Brasil e continuamos nos correspondendo. Então retornei à Bélgica, casamos e eu engravidei do Brian.
Sim, ele sempre falava sobre Ala, sobre Mohamed, dizia que eu iria para o inferno se eu não me convertesse. E eu falava “deixa disso menino, larga esse povo”. O Brian já não era mais aquele filho. Roubaram meu filho.
Istoé: E como aconteceu essa mudança dele? Quando a senhora se deu conta de que ele havia mudado?
Quando ele se converteu em fevereiro de 2011. Ele queria muito ser jogador futebol, quando ele tinha 17 anos, ele foi participar de uma seleção, mas eles queriam meninos mais velhos, de 19 anos, 21 anos. Então ele não foi selecionado. E ele ficou muito triste. Foi quando ele conheceu uns marroquinos, que jogavam futsal, eles levaram o Brian pra jogar futsal e ele foi se envolvendo com esse povo. Sumia, ficava até de madrugada na rua.
Istoé: E a senhora sabia aonde ele ia nessas madrugadas?
Não sei. Os terroristas o procuravam de madrugada. Ele sumia por dois ou três dias. Eu ia à polícia e a polícia ria da minha cara. A Bélgica tentou detonar comigo, como detonaram a vida do meu filho. Eu tinha meu apartamento. Quando ele começou a se envolver com esse povo eu fugi pra Limburgo (cerca de 80 km ao leste de Bruxelas). Fiquei escondida por um ano e seis meses até o fim de 2012, usando dinheiro da poupança. Os terroristas descobriram onde eu tinha ido e foram atrás. Chegaram de madrugada e levaram ele.
Istoé: Como acharam vocês?
Esse povo tem pacto com o demônio. Localizam todo mundo. Eles mandaram meu filho pra Síria como bucha de canhão. Eles entregaram meu filho para os terroristas, eles têm medo deles. O governo e a polícia da Bélgica sabiam que eu era mãe sozinha, eles me vigiavam. São 30 mil euros por cabeça que pagam.
Istoé: Quem paga e para quem?
Dizem que um sheik do Petróleo paga para os terroristas.
Istoé: Qual foi a última coisa que ele fez ou falou antes de ir partir, a senhora lembra?
Eu estava na cozinha, a gente tinha tido uma briga, uma discussão. Porque ele tinha recebido uma ligação e eu falei pra ele “pelo amor de deus, deixa essa gente” e então a gente começou a brigar.
Era dia 22 de janeiro de 2012, eu estava fazendo jantar, ele estava tão lindo, ele era muito vaidoso, cheiroso, o cabelo dele era lindo...você abraçava ele e...(começa a chorar).
Istoé: Como tem sido seus dias após a partida de Brian?
Se o inferno realmente existe, eu estou nele. Eu perdi tudo. Meu filho, minha casa, meu emprego, tudo. Morei na rua. Tive que mandar minha filha mais nova morar com uns amigos. O governo quis mandar ela para um abrigo, mas eu não deixei. Falaram que eu era louca. Não tem um segundo, uma noite, um dia em que eu não pense no meu filho.
Istoé: Por que a senhora perdeu seu emprego?
Eu era vendedora em uma loja de móveis e com esse problema do Brian eu ia dormir tarde, às vezes às 4h da manhã, vigiando o Brian ou esperando ele chegar de madrugada. Então eu comecei a faltar ou chegar muito atrasada no trabalho e meu patrão me demitiu. Eu tentei suicídio ano passado. Fiquei internada cinco meses e meio. Cortei os pulsos. Me mandaram pra psiquiatria.
Istoé: E hoje a senhora tem algum acompanhamento médico ou psicológico?
Não.
Istoé: A senhora mora sozinha?
Moro com minha filha mais nova, de 14 anos. A outra filha, mais velha, de 26 anos, mora aqui perto. Eu já tenho uma netinha filha dela.
Istoé: O pai de Brian tem participado ao seu lado?
Ele tem acompanhado à distância. Ele também entrou em depressão e foi demitido do lugar que ele trabalhava, tipo um Detran daqui. Ele não pode nem ver e ouvir falar de mulçumano e marroquino, ele fica muito nervoso. Ele vai comigo no tribunal e briga muito. Então ele não se envolve muito, pois ele perde a cabeça. Ele também perdeu um filho. Eles se viam bastante, a cada 15 dias o Brian ficava sexta, sábado e domingo com ele, normal.
Istoé: De onde a senhora é no Brasil e como foi morar na Bélgica?
Eu sou de uma cidade pequena no Rio de Janeiro, Silva Jardim. Fui para Bélgica em 1991 visitar uns amigos que moravam lá. Fiquei dois meses. Foi quando eu conheci o pai do Brian, Stephen de Mulder. Voltei para o Brasil e continuamos nos correspondendo. Então retornei à Bélgica, casamos e eu engravidei do Brian.
Istoé: A senhora parece bastante religiosa, sua fé ficou abalada após tudo isso?
Olha, tem momentos em que eu questiono sim, ‘por que o meu filho?’, mas só o que eu tenho pra me ajudar é a minha fé e tenho certeza que Deus vai me ajudar. Mas a minha filha mais velha já disse que perdeu a fé.
Olha, tem momentos em que eu questiono sim, ‘por que o meu filho?’, mas só o que eu tenho pra me ajudar é a minha fé e tenho certeza que Deus vai me ajudar. Mas a minha filha mais velha já disse que perdeu a fé.
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