O pacto entre Collor e Renan A parceria política entre os dois políticos atravessa décadas e agora trabalha para tumultuar as investigações da Operação Lava Jato

O pacto entre Collor e Renan

A parceria política entre os dois políticos atravessa décadas e agora trabalha para tumultuar as investigações da Operação Lava Jato

Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
Nos últimos 25 anos, a relação entre o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teve altos e baixos. Aliados na eleição de Collor para o Planalto em 1989, os dois romperam no ano seguinte por divergências na política estadual. A reaproximação começou timidamente há uma década e se consolidou em 2014, quando o ex-presidente integrou a chapa que elegeu Renan Filho (PMDB) para o governo de Alagoas. Atingidos pelas investigações da Lava Jato, eles decidiram agora renovar os votos do velho casamento. Na quarta-feira 4, cinco dias depois de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ter apresentado a lista dos envolvidos no escândalo da Petrobras, Collor e Renan almoçaram juntos na residência oficial do Senado. O encontro, que durou três horas, serviu para que definissem as estratégias que serão adotadas daqui por diante. A dupla, afinada como nos velhos tempos, concordou em culpar o Palácio do Planalto pela inclusão de seus nomes na lista de pedidos de inquérito enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF).
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CASAMENTO
Os dois parceiros juntos em 1990 (abaixo), quando Collor era presidente,
e hoje em dia, no Senado: para a dupla, o Palácio do Planalto é o
culpado pela inclusão de seus nomes na lista de Janot 
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Collor e Renan tiveram um almoço tenso. Partiu do ex-presidente a ideia de colocar em prática algumas ações políticas. Ele propôs a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Ministério Público. Segundo Collor, a procuradoria foi tomada por um “grupelho” que dita a condução dos casos. Sugeriu, também, a realização de uma campanha pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, que concede às polícias o direito de atuar em investigações criminais e retira dos procuradores o poder de apurar crimes.
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A ofensiva de Collor, que deixou a Presidência em decorrência de um processo de impeachment, não é novidade. Nos últimos dois anos, ele propôs oito representações contra o antecessor de Janot, Roberto Gurgel, nas instâncias de controle do Ministério Público. Nenhuma surtiu efeito. Segundo o ex-presidente, Gurgel tentou interferir na eleição do Senado há dois anos, quando apresentou uma denúncia contra Renan na semana da eleição para a presidência da Casa. Collor garante que reúne estudos e documentos sobre a procuradoria, seus grupos e seus gastos. O presidente do Senado aceitou entrar na briga, mas com ressalvas. Ele é contra a instalação da CPI, pois daria margens para que adversários o acusassem de revanchismo pela inclusão do seu nome na Operação Lava Jato. Renan, porém, disse a Collor que fará as articulações necessárias para evitar a recondução de Janot ao cargo, em setembro, e para tentar limitar os poderes que o Ministério Público detém em processos de investigações.
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As associações ligadas aos procuradores e juízes federais prometem fazer a defesa do procurador-geral. Será uma batalha difícil, pois o poder de Renan e as articulações de Collor nos bastidores podem transformar a ofensiva numa causa perdida para os procuradores. Longe de ser tratado como unanimidade nos meios políticos e jurídicos, o Ministério Público conseguiu a proeza de restaurar a cumplicidade política entre os dois senadores.
Fotos: Joel Rodrigues/Frame/Folhapress; Luciano de Andrade 

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