Crossfit mania A modalidade de treino que mistura atletismo, ginástica olímpica e disciplina militar se espalha pelas academias e torna-se a atividade preferida do verão brasileiro. Ela promete grande perda de peso e músculos mais definidos. Tudo isso em pouco tempo

Crossfit mania

A modalidade de treino que mistura atletismo, ginástica olímpica e disciplina militar se espalha pelas academias e torna-se a atividade preferida do verão brasileiro. Ela promete grande perda de peso e músculos mais definidos. Tudo isso em pouco tempo

Mônica Tarantino e Rogério Daflon
As atrizes Giovanna Antonelli e Bruna Marquezine fazem. Os atores Reynaldo Gianecchini e Bruno Gagliasso, também. E, como eles, um número cada vez maior de praticantes de atividade física pelo Brasil afora. O crossfit, método de condicionamento que mistura, entre outras coisas, elementos do atletismo e da ginástica olímpica, tornou-se a modalidade de treino preferida do verão brasileiro. Criado por Greg Glassman, 58 anos, um treinador da Califórnia, nos Estados Unidos, o crossfit contagia e se espalha pelas academias com uma força impressionante. De acordo com a Crossfit Inc., empresa de Glassman detentora da marca e treinadora oficial de professores de todas as nacionalidades, já são mais de 300 as salas – chamadas de boxes – destinadas à prática por aqui. Há dois anos, não passavam de 80. A técnica se dissemina também por mais de 30 países, entre eles a Argentina, a África do Sul, a Alemanha e a Nova Zelândia. Isso fora as academias que oferecem a modalidade, mas não têm licença da empresa de Glassman para usar o nome crossfit.
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EFEITOS
Força, concentração e precisão de movimentos estão
entre as habilidades desenvolvidas no treinamento
Por que a modalidade está fazendo tanto sucesso agora a ponto de levar as pessoas a abandonarem outras práticas, como a musculação? A razão principal reside no fato de ela ser resultado de uma combinação inteligente de fatores que vai ao encontro dos desejos das pessoas que há muito tempo praticam exercícios físicos e também motiva os novatos. O crossfit promete entregar resultados rápidos – leia-se mais condicionamento respiratório e muscular –, queima calórica considerável e quebra da monotonia no dia a dia dos exercícios. “Pelo método, não se pode repetir as aulas”, diz Antonelli Nicole, professora de crossfit e atual campeã brasileira da modalidade. O depoimento da atriz Giovanna Antonelli – praticante apaixonada e dona de um corpo escultural – corrobora a tese da professora. “É um esporte dinâmico, sem rotina”, diz.
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Esse eterno sabor de novidade a cada vez que se vai à academia só é possível porque as aulas se baseiam em uma variedade significativa de fontes. Estão presentes em seus fundamentos movimentos típicos de esportes olímpicos – os executados nas argolas são um exemplo –, do treinamento militar, como a escalada na parede, e do treino funcional. Este último embute o conceito mais moderno de treinamento hoje, que consiste na realização de exercícios que preparam o corpo para continuar apto a fazer o que lhe é exigido durante atividades rotineiras, como subir escadas ou sentar e levantar de uma cadeira. Com tantas possibilidades – são pelo menos 300 exercícios à disposição –, fica fácil planejar uma aula diferente a cada dia. “Em geral, a pessoa só fica sabendo como será seu treino daquele dia quando a aula começa”, explica André Turatti, professor da Cia. Athletica, uma das redes pioneiras no oferecimento do crossfit.
E é justamente dessa união de movimentos tão distintos em uma única aula que advém parte dos benefícios para a manutenção da boa forma. “É um treino que mexe com todo o corpo”, afirma Eduardo Netto, diretor-técnico da BodyTech, rede que acaba de abrir salas de crossfit em unidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. Aliada a essa capacidade está a proposta de que as séries de repetições sejam feitas com intensidade e velocidade. Segundo os treinadores, o resultado de se mexer com grupos musculares distintos, de forma intensa e rápida, é o desencadeamento de uma cascata de adaptações fisiológicas no organismo que exigem mais do metabolismo e do sistema nervoso.
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Os ganhos se traduzem em algo que todos almejam da prática de exercícios: músculos mais fortes, melhor função cardiorrespiratória, coordenação motora e flexibilidade apuradas e emagrecimento. Estima-se que a perda calórica seja da ordem de 500 calorias por aula. Trata-se, obviamente, de uma média. Como se sabe, a resposta metabólica de cada um é o que determina a perda de peso. “Para gastar, por exemplo, mil calorias em uma sessão de treino, o indivíduo precisa ser um atleta altamente treinado”, explica Turíbio Leite de Barros, professor de pós-graduação em fisiologia do exercício da Universidade Federal de São Paulo.
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Um item da receita de sucesso do crossfit está fora da esfera física, mas para muita gente tem grande importância para que a adesão aos exercícios se consolide. A modalidade incentiva o espírito competitivo e a superação de desafios. “O aluno é encorajado a dar o melhor de si”, diz Fábio Agrela, da Toro Gym, em Santo André (SP), que obteve seu certificado de professor de crossfit em cursos na Argentina. Para acentuar esse aspecto, toda sala tem um placar para registrar os tempos de cada adepto devidamente cronometrados pelo treinador. Tudo é controlado, anotado e conferido.
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Essa espécie de ranking doméstico serve de base para a classificação nos campeonatos nacionais e para o mundial, realizado anualmente nos Estados Unidos. “Mas nada disso é obrigatório. O aluno pode estabelecer que sua meta é superar a si mesmo e conquistar marcas melhores à medida que avança no treinamento”, garante Eduardo Netto, da BodyTech.
O estímulo à superação de metas é algo que o praticante muitas vezes pode transpor para sua vida além da academia, como um combustível extra para ter sucesso, por exemplo, na vida profissional. Mas é preciso ter cuidado para que o incentivo não vire uma armadilha. A obstinação em superar as próprias marcas e as dos outros dentro das salas de treino pode conduzir o corpo a uma fadiga desastrosa. Alguns adeptos querem levar ao limite uma máxima que já permeou o treinamento físico e hoje se mostra superada: a de que sem dor não há ganho – no pain, no gain. “Não respeitar suas próprias condições físicas e biológicas é uma falha crucial, que pode levar ao surgimento de lesões”, alerta Wesley Olivar, da Academia Reebock.
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Entre as séries que requerem mais cuidado estão as envolvidas no levantamento de peso. “Mal executadas, elas podem gerar graves lesões ao ombro, à coluna vertebral, ao quadril e aos joelhos”, diz João de Abreu, treinador da Crossfit Brasil, em São Paulo. Na opinião do fisiologista Turíbio Barros, os riscos são ainda maiores se a pessoa era sedentária até recentemente e está acima do peso. “O resultado pode ser muito preocupante se ela vai além dos seus limites”, afirma. “Pode acabar em lesões como tendinite e sérios problemas musculares.”
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O segredo, portanto, é acertar os pesos usados e a intensidade dos exercícios de acordo com o corpo e a etapa de condicionamento de cada um. “Quem estudou e compreendeu direito o método sabe que o aprendizado da mecânica correta está em primeiro lugar. Depois vem o aumento da carga e da velocidade”, explica Eduardo Netto, da BodyTech. O grande problema é que já existem academias sem o certificado da matriz americana e, portanto, sem treinadores com a formação suficiente não só para corrigir erros como também estar atentos a quem, por exemplo, apresenta uma limitação muscular ou doença cardiovascular – casos que exigem mais atenção para não acentuar os problemas.
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Essas razões reforçam a necessidade de o praticante e os interessados na modalidade se certificarem de que estão sendo muito bem orientados. “Independentemente de sua condição física, o indivíduo precisa atingir uma excelente condição técnica para a execução do exercício”, afirma Eduardo Netto. Fazendo corretamente, o indivíduo ganhará somente os benefícios. Não ajudará a aumentar a estatística da Ihrsa – organização que reúne academias de todo o mundo – dando conta de que cerca da metade das pessoas que se propõem a treinar abandona a prática depois de, em média, três meses. As queixas principais são a monotonia do exercício e a falta de resultados rápidos.
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Foto: Shutterstock, Rafael Hupsel, João Castellano – Agência Istoé, Divulgação 

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