Não tenho ligação alguma com Marcelo Miranda”, diz empresário preso com R$ 504 mil em Piracanjuba
Não tenho ligação alguma com Marcelo Miranda”, diz empresário preso com R$ 504 mil em Piracanjuba
Douglas Schimitt, que pertence ao grupo político do ex-governador do Tocantins Siqueira Campos, fala tudo sobre os últimos escândalos que atingiram as eleições daquele Estado em uma entrevista exclusiva ao Jornal Opção
Empresário do ramo da construção civil desde 1998, Douglas Marcelo Alencar Schimitt foi centro de um escândalo político, na semana passada. No dia 18 de setembro, ele e mais três pessoas — Lucas Marinho Araújo, Roberto Carlos Maya Barbosa e Marco Antônio Jayme Roriz — foram presas no aeroporto de Piracanjuba, em Goiás, portando R$ 504 mil em espécie em um avião. Os quatro são investigados por lavagem de dinheiro, associação criminosa e crime contra a ordem tributária.
Porém, todo o escândalo está associado ao fato de que, dentro do avião, a polícia encontrou material de campanha do candidato a deputado estadual pelo PMDB de Tocantins Carlos Gaguim. Nos santinhos, ao lado de Gaguim, aparece o primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto pelo governo do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB). A investigação da polícia trabalha no sentido de que o dinheiro apreendido serviria de Caixa 2 para a campanha do peemedebista, o que caracteriza crime eleitoral.
Marcelo Miranda, porém, se diz vítima de armação, que estaria sendo tramada por seu principal concorrente, o governador e candidato à reeleição, Sandoval Cardoso (SD). Douglas Schimitt, solto no dia 22 de setembro sob pagamento de fiança, não confirma que foi armação, embora diga que no dia em que foi preso estiveram em Piracanjuba o sogro do governador Sandoval Cardoso, o empresário Antenor Nogueira, e o advogado da coligação A Mudança que a Gente Vê, Juvenal Klayber. “Eles estão em todo o lugar. Estão sempre investigando minha vida. Me amedrontam com polícia. Minha vida virou um inferno”, relata.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Douglas explica como tudo ocorreu, desde o saque dos R$ 504 mil na cidade do interior de Goiás até seu envolvimento nas eleições estaduais do Tocantins.
Patrícia Moraes Machado – Especula-se que toda a situação de apreensão do avião, do dinheiro e dos santinhos foi armação política em Piracanjuba. O sr. confirma isso?
Acredito que não tenha havido armação, mas que estão se aproveitando de uma situação para transformá-la em fato político. O dinheiro apreendido é meu. Depositei na conta de um amigo e fui sacar. Porém, o gerente da Caixa Econômica Federal de Piracanjuba avisou a polícia do montante que eu estava sacando, porque estranhou a operação. Sacado o dinheiro, fui para o aeroporto. Chegando lá, fui surpreendido por policiais da Polícia Civil, uns três delegados e nove agentes, que perguntaram onde estava a droga. Revistaram a caminhonete e não acharam nada. Quando revistaram o avião, encontraram dois quilos de santinhos do candidato a deputado estadual do Tocantins Carlos Gaguim. Ele teria voado nesse avião poucos dias antes e esquecido o material. Então, quando os policiais encontraram os santinhos, mas não acharam as drogas que estavam procurando, começaram a ligar para Itumbiara e para Goiânia. Nessas ligações, alguém ligado ao Tocantins informou que o candidato era do PMDB. Assim, logo começaram a aparecer jornalistas. Então, não acho que tenha sido armação. Se não tivessem encontrado os santinhos no avião, não haveria ligação alguma com política.
Patrícia Moraes Machado – Como o sr. sabe que o gerente informou a polícia?
Ele confirmou para minha advogada.
Patrícia Moraes Machado – Por que os policiais que foram abordar o sr. eram do Grupo Especial de Repressão a Narcóticos (Genarc), se o sr. não estava com drogas?
Dizem que Piracanjuba é rota de droga. Como estávamos em um avião e sacamos dinheiro, eles desconfiaram e fizeram uma megaoperação, com colete a prova de balas e, inclusive, chamaram reforços de Goiânia.
Marcos Nunes Carreiro – O avião está no nome da Construtora Alja Ltda., do empresário Ronaldo Alves Japiassú. O avião estava com o sr. emprestado ou alugado?
Emprestado. Eu iria colocar apenas o combustível.
Marcos Nunes Carreiro – O sr. e o Ronaldo Japiassú são amigos?
Sim. Ele é empreiteiro também. Moramos em Porto Nacional e somos colegas de profissão. E essa prática de emprestar avião é comum, tanto que o avião que o Sandoval voa é dele também. É comum. Eu mesmo já emprestei avião.
Patrícia Moraes Machado – O sr. foi buscar dinheiro em uma factoring de Brasília. Qual foi o motivo da transação?
Fui buscar um empréstimo destinado a mim pessoa física e à minha empresa, pessoa jurídica, pois não sou sozinho nela. A parte que cabia à minha empresa, eu depositei na conta dela, R$ 400 mil.
Patrícia Moraes Machado – Como a factoring passou o dinheiro para o sr.?
Em cheques.
Patrícia Moraes Machado – Quantos cheques?
Dez cheques de R$ 100 mil, um cheque de R$ 280 mil e outro de R$ 220 mil, eu acho. O total do empréstimo foi de R$ 1,505 milhão.
Marcos Nunes Carreiro – O que o sr. fez com esses cheques?
Depositei na conta de um amigo, que mora na mesma cidade que eu, Porto Nacional (TO).
Marcos Nunes Carreiro – O sr. Lucas Marinho Araújo?
Sim. Ele faz engenharia civil e somos amigos desde que chegou a Porto Nacional, há três anos. Ele estava passando o fim de semana comigo em Goiânia. Quando eu peguei os cheques, eu comentei com ele que, se eu tivesse uma conta na Caixa Econômica, os depósitos entrariam como dinheiro. Ele me disse, então, que tinha uma conta na Caixa e que, inclusive, seu tio era gerente da agência. Assim, eu disse que iria depositar o dinheiro na conta dele e perguntei se seu tio conseguiria fazer com que eu pudesse sacar uns R$ 500 mil. O Lucas falou com o tio dele, que respondeu que arrumaria a situação. Chegamos a Goiânia, ele foi à agência e o tio dele pediu o cartão e viu que a conta era de Piracanjuba. Ou seja, o saque só poderia ser feito em Piracanjuba. Dessa forma, o tio ligou para o gerente de Piracanjuba e informou que o sobrinho iria procurá-lo para fazer a operação. O Lucas chegou à cidade e o banco estava fechado. O gerente abriu para ele e perguntou do que se tratava. O Lucas, então, mentiu para o gerente dizendo que o dinheiro se tratava de uma corretagem que havia ganhado e que ele precisava dividir o montante. A mentira foi para justificar o dinheiro e para o gerente não fazer muitas perguntas. O gerente disse que estava tudo bem, mas informou que para realizar o saque precisaria de no mínimo 48 horas. Passadas as 48 horas, eu fui com o Lucas a Piracanjuba. Chegamos ao banco por volta das 15h30 e o gerente disse para esperar. Ele nos enrolou cerca de uma hora para dar tempo de a polícia chegar à cidade. Quando a polícia chegou, ele me liberou para ir ao aeroporto. Chegando lá, assim que desci da caminhonete, vieram vários carros a paisana e fizeram a abordagem.
Patrícia Moraes Machado – O sr. sacou R$ 500 mil. E o restante?
Depositei R$ 400 mil na conta da minha empresa, R$ 300 mil na conta da minha namorada, que eu usaria para comprar um carro, porque a caminhonete que eu estava usando era alugada. E os outros R$ 200 mil eu depositei em uma conta minha para quitar algumas dívidas.
Marcos Nunes Carreiro – Explique melhor como aconteceu a divisão do dinheiro. Segundo a polícia, o sr. depositou R$ 1,5 milhão na conta do Lucas Araújo, R$ 400 mil na conta da Triple Construtora, R$ 288 mil na conta de um homem chamado Jorge Schineder e R$ 310 mil na conta da sua namorada. Se somarmos essa quantia o valor extrapola e muito a do empréstimo que o sr. fez em Brasília.
Eu depositei R$ 1,5 milhão na conta do Lucas. Da conta dele é que foi feita a divisão do dinheiro. Na conta da minha empresa, na da minha namorada e para quitar uma dívida que eu tinha com o Jorge.
Marcos Nunes Carreiro – Então, foram R$ 998 mil divididos em contas mais os R$ 504 mil que o sr. sacou em espécie?
Não. Eu saquei R$ 500 mil. Esses outros R$ 4 mil apareceram não sei de onde.
Patrícia Moraes Machado – Seu encontro com o irmão do candidato ao governo do Tocantins Marcelo Miranda, em Goiânia, dias antes desses episódios, tem ligação com esse dinheiro?
Eu sou do grupo do Siqueira Campos, desde sua primeira eleição. Sempre fui ligado a esse grupo. Mas tem aproximadamente sete anos que eu sequer vejo o Marcelo Miranda. E nunca tive contato com o irmão dele, Júnior Miranda, na minha vida. Nós, realmente, nos encontramos no hotel. Agora, como alguém ligado a outro grupo político confia a mim R$ 1,5 milhão de dinheiro de campanha, se eu sou ligado a outro grupo? Não tem sentido.
Patrícia Moraes Machado – Mas não é muita coincidência?
Não. Não há coincidência alguma nisso. Eu estava em Goiânia resolvendo coisas minhas e meu encontro com Júnior foi por outras razões.
Marcos Nunes Carreiro – E quais foram as razões?
Nós temos um amigo em comum. Eu pedi a esse amigo para ele dissesse ao Júnior que eu queria falar com ele. Nos encontramos no hotel e eu disse a ele o seguinte: “Júnior, na factoring em que eu fui, em Brasília, buscar um dinheiro, me deram a informação de que o pessoal da campanha do Sandoval estaria pegando R$ 10 milhões emprestados e dando um prédio, em Goiânia, como garantia. O prédio seria do cunhado do Sandoval”.
Marcos Nunes Carreiro – Alvicto Nogueira, o Kaká?
Isso. Me passaram essa informação e eu passei para frente, sem saber se era verdade ou mentira. O Júnior agradeceu e só.
Patrícia Moraes Machado – E porque ele pagou sua conta no hotel?
Júnior passou no hotel e comentou comigo, ali em pé, que precisaria sacar um dinheiro para pagar alguma coisa, mas não estava conseguindo porque o limite de saque não permitia. Então, eu disse a ele que minha conta no hotel daria aproximadamente R$ 1 mil. Perguntei se ele queria passar minha conta no cartão e eu dava o dinheiro para ele. Ele aceitou e assim foi feito. Essa questão do hotel não tem nada a ver. Por exemplo, há vinte dias eu fiquei hospedado durante um mês no Hotel Munarte, em Palmas, e quem pagou foi o Eduardo Siqueira. Uma conta de aproximadamente R$ 3 mil. Então, isso não quer dizer nada.
Patrícia Moraes Machado – O sr. disse que sempre pertenceu ao grupo do Siqueira Campos e que nunca teve contato com Júnior Miranda. Por que, então, o sr. resolveu passar informações para ele, prejudicando o grupo ao qual o sr. pertence?
Liguei para o Júnior por eu estar descontente com o governo dos últimos quatro anos e por torcer para que o Sandoval perca essas eleições.
Patrícia Moraes Machado – Porque o sr. ficou descontente com o governo? Houve alguma promessa por parte do governo Siqueira Campos para ao sr.?
Não. Nenhuma promessa. E minha empresa, a Triple, nunca tirou uma nota para o Estado do Tocantins. Mas quando se trabalha em uma campanha, tem-se a expectativa de trabalhar ou ter algum benefício. E as minhas expectativas não foram atendidas.
Patrícia Moraes Machado – Qual sua relação com o governador do Tocantins, Sandoval Cardoso?
Não tenho relação nenhuma com ele. Não conheço.
Marcos Nunes Carreiro – Mas o sr. é amigo do Eduardo Siqueira.
Sim. Sou amigo pessoal dele.
Marcos Nunes Carreiro – Há quanto tempo?
Desde 2010. Eu fui um dos principais aliados dele durante a campanha de seu pai ao governo.
Patrícia Moraes Machado – E como o sr. está se posicionando nesta campanha?
Eu fiquei fora da campanha. Em 2010, eu trabalhei muito com campanha e me decepcionei com política. Por isso, fiquei fora. Porém, devido aos santinhos do Carlos Gaguim no avião que eu estava usando em Piracanjuba, eles fizeram um barulho muito grande e começaram a me prejudicar na imprensa do Tocantins. Chegaram até a enviar pessoas ligadas ao governo para me oferecer R$ 10 milhões para dizer que o dinheiro era do Marcelo Miranda. Eu disse que não faria isso e fiz uma carta explicando.
Patrícia Moraes Machado – Quem procurou o sr.?
Gente ligada a ele. Prefiro não citar nomes.
Patrícia Moraes Machado – O sr. tem como provar isso?
Provar, não. Se eu disser que fulano me falou algo e o fulano disser que não disse, como vai ficar provado? Por exemplo, na delegacia, um PM procurou o Lucas e fez a proposta para que ele afirmasse que o dinheiro era do Marcelo. E a presença desse PM está registrada em Piracanjuba. Ele chamou o Lucas na sala e fez a proposta, dizendo que ele teria benefícios com isso. O Lucas respondeu que não podia fazer isso, porque sua única participação foi que eu havia pedido sua conta emprestada.
Patrícia Moraes Machado – Onde foi o encontro?
Lá no presídio de Piracanjuba. Nesse mesmo dia eu escrevi uma carta explicando que o dinheiro era meu, que eu tinha o contrato e que não tinha envolvimento com política. Eu enviei esse dinheiro para a conta da minha empresa, que, se forem verificar no Serasa, verão que tem uns 60 protestos. Mas minha empresa tem margem para que eu possa pegar dinheiro emprestado, pois tenho contratos com a UFTO [Universidade Federal do Tocantins], que é uma instituição federal, com a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], entre outros. Então, não vejo o motivo de todo esse barulho por causa de R$ 500 mil.
Patrícia Moraes Machado – O sr. fala sobre uma carta. Para quem o sr. mandou essa carta?
Para a Roberta Tum, a jornalista. Escrevi a carta de punho e mandei para ela de dentro do presídio. Inclusive o delegado ligou para ela e fez muita pressão para saber como havia recebido uma carta minha.
Patrícia Moraes Machado – Se quebrarem os sigilos do sr. acharão algum vínculo com Marcelo Miranda?
Nenhum. Eu só liguei para o irmão dele no hotel. Só.
Marcos Nunes Carreiro – E com o grupo do Siqueira?
Acharão muitas ligações minhas com o Eduardo [Siqueira Campos]. Não apenas ligações telefônicas. Se perguntarem para o porteiro do prédio dele, ele vai dizer que quase todos os dias eu estava lá. Então, eu acho que ninguém do Marcelo iria confiar a mim uma operação de dinheiro desse tamanho. E se eu fosse fazer algo nesse sentido, eu não iria passar pelas contas da minha empresa e da minha namorada. Eu pediria na factoring que me dessem o dinheiro em espécie. Assim, eu colocava esse dinheiro na caminhonete e levava para o Tocantins.
Marcos Nunes Carreiro – E o sr. acha que isso é armação de quem?
Só existem dois grupos políticos. Se estão querendo atingir o Marcelo parte do grupo do Sandoval. Inclusive, o sogro do Sandoval esteve lá em Piracanjuba pessoalmente chefiando toda essa operação.
Patrícia Moraes Machado – Chefiando como?
Estiveram o sogro do Sandoval, Antenor Nogueira, e o advogado da coligação do Sandoval, Juvenal Klayber, querendo dar ordens na polícia. Eles estão em todo lugar. Inclusive, eles, juntamente com o Kaká, foram pessoalmente no hotel para saber quem pagou minha conta. Eles estão sempre investigando minha vida. Eu entro em um hotel de dia e preciso sair a noite, porque onde eu chego eles estão. Me amedrontam com polícia. Enfim, minha vida virou um inferno.
Patrícia Moraes Machado – O sr. está sofrendo ameaças?
Não, mas se você está em um hotel e tem gente ligando lá para verificar se está mesmo hospedado, é estranho. Eu não fui para minha casa até hoje com medo.
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