Governo federal estuda possibilidade de usar águas do Rio Tocantins para abastecer o São Francisco

Segundo reportagem do jornal O Globo, projeto prevê retirada da água na altura do município de Palmeirante, interior do Estado

Da Redação

O governo federal analisa a possibilidade de levar águas do Rio Tocantins para ajudar a abastecer o megaprojeto de transposição para a Bacia do São Francisco, diante da redução de águas no semiárido, agravada pela seca nas nascentes em Minas Gerais. A informação foi destaque em reportagem da versão online do jornal O Globo desse sábado, 27. O projeto prevê a retirada da água na altura do município de Palmeirante, interior do Tocantins. A água sairia pelo Maranhão até o reservatório de Sobradinho, na Bahia, onde estão as principais barragens do Velho Chico.

Foto: Flávio Tavares/Hoje em Dia/Agência O Globo

Seca da principal nascente do Rio São Francisco na Serra da Canastra, em  Minas Gerais

Segundo o jornal, é no reservatório de Itaparica que começa a transposição para o São Francisco. O projeto evita a região do Jalapão, já que foi considerado ambientalmente inviável, por atingir as nascentes do Tocantins.

Em setembro, começou a tramitar na Câmara dos Deputados como parte do “Plano Nacional de Viação” um projeto do deputado Gonzaga Patriota (PSB/PE). Ele afirmou ao Globo que não há outra alternativa para concretizar a transposição do Rio São Francisco senão usando águas do Tocantins. O objetivo desse projeto é fazer uma hidrovia, mas o texto diz que “no caso de escassez de água no rio São Francisco, teremos condições de reserva de parte das águas do rio Tocantins, para o rio São Francisco”.

Ainda de acordo com a matéria, o Ministério da Integração Nacional confirmou que analisa, no Programa Nacional de Segurança Hídrica, “alternativas para garantir ainda mais segurança hídrica aos moradores do semiárido, entre elas a de integrar a Bacia do Tocantins à Bacia do Rio São Francisco”, porém não deu mais detalhes.

Seca na Bacia do São Francisco
Conforme a reportagem, a seca tornou urgente a discussão sobre o rio São Francisco, pois a tendência é que o semiárido fique ainda mais seco. Em vista disso, o governo federal iniciou estudos para mapear e acompanhar áreas de desertificação no Nordeste. 

Para o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Wagner Soares Costa, é preciso repensar os usos das águas do rio, que já perdeu de 30% a 40% de seu caudal. "A nascente secou e isso fez cair a ficha de todos, mas a Bacia do São Francisco está castigada", disse. Segundo ele, 146 municípios da Bacia já decretaram situação de emergência e calamidade pública devido à seca em Minas.

O Comitê vai pedir redução da vazão no reservatório de Três Marias, para evitar que ele atinja o volume morto em outubro. Para isso, os municípios terão que alterar sistemas de captação de água e o custo deverá ser arcado pela Defesa Civil.

A Articulação São Francisco Vivo ressalta que “a crise hídrica se deve também e principalmente aos múltiplos, crescentes e conflitantes usos de suas águas, matas, solos e subsolos, decorrentes do modelo econômico predatório; agravou-se de tal forma que os danos e riscos aumentam e assustam”. Nessa semana, a entidade pedirá moratória para o rio São Francisco aos Ministérios Públicos dos Estados cortados por ele, com o objetivo de rever usos antes que seja iniciada outra megaobra.

Para o ambientalista da Articulação São Francisco Vivo, Roberto Malvezzi, todos os programas do governo só ampliam a demanda de água no rio, mas sem pensar na conservação."Temos que evitar uma obra em cima da outra", destaca.

Transposição
Segundo o jornal O Globo, as obras de transposição do São Francisco, que deveriam ter terminado em 2012, já custam R$ 8,2 bilhões e ainda falta cerca de um terço (64,6% estão prontas). A água correu menos de 10 km em cada canal e não passou das estações de bombeamento.