A cartada de Aécio Na eleição mais imprevisível desde o fim da ditadura, o candidato do PSDB à Presidência mostra seu plano para virar o jogo e chegar ao segundo turno, convencendo o eleitorado de que tem a melhor estratégia para conduzir o país

A cartada de Aécio

Na eleição mais imprevisível desde o fim da ditadura, o candidato do PSDB à Presidência mostra seu plano para virar o jogo e chegar ao segundo turno, convencendo o eleitorado de que tem a melhor estratégia para conduzir o país

Sérgio Pardellas (sergiopardellas@istoe.com.br)
Mineiro como o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, o ex–presidente da Câmara e tetraneto do patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada, costumava repetir pelos corredores do poder em Brasília: “A combinação entre o fato novo e o fato consumado embalou as maiores reviravoltas da história”. Numa ofensiva a menos de um mês das eleições presidenciais, Aécio se dedica a impedir a consumação dessa alquimia política, que levaria Marina Silva (PSB), o grande fato novo da disputa eleitoral, para o segundo turno. Em caminhadas pelas ruas do País, o tucano demonstra otimismo, mesmo diante do cenário desfavorável das pesquisas, e insiste que o fenômeno Marina ainda não é um fato consumado. Nos debates e em entrevista à ISTOÉ concedida na quarta–feira 3, Aécio adotou o mantra: “Estarei no segundo turno. O desejo de mudança irá prevalecer. Quem concorrer contra Dilma vence as eleições. E nós temos o time mais qualificado”, afirmou.

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A tarefa não é simples. Mas, tratando–se de uma eleição marcada pelo imponderável, é prudente não arriscar prognósticos definitivos. Quem ousou fazer vaticínios intempestivos se estrepou mais adiante. Foi o caso do marqueteiro de Dilma, João Santana. Segundo ele, a presidenta seria reeleita no primeiro turno devido a um fenômeno denominado por ele de “antropofagia de anões”. Atualmente, são remotíssimas – quase nulas – as chances de Dilma liquidar as eleições no primeiro turno. Nem o mais abnegado militante petista leva fé nessa variável. Ou seja, além de ofensiva aos concorrentes, a declaração emitida no ano passado por João Santana revelou–se uma precipitação. No meio político, todos concordam que o tucano vive a situação mais delicada desde o início da pré–campanha. Mas quem descartaria com 100% de convicção uma nova mudança na eleição mais imprevisível desde o fim da ditadura?
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Na tentativa de virar o jogo eleitoral, Aécio promoveu uma inflexão na campanha. As novas diretrizes foram ditadas em reunião, na semana passada em São Paulo, com a participação do marqueteiro do PSDB, Paulo Vasconcelos, da equipe de comunicação do candidato e do staff político. No encontro realizado no comitê do PSDB instalado na capital paulista, decidiu–se subir o tom contra Marina Silva, reforçar o discurso da “mudança com segurança”, mobilizar as bases e lideranças políticas e intensificar o corpo a corpo com o eleitorado em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – os três maiores colégios eleitorais do País. Segundo as últimas pesquisas, Marina disparou no Rio, tomou a dianteira em São Paulo e encostou em Aécio em seu reduto eleitoral. Em São Paulo, os tucanos assistiam impassíveis até a semana passada ao crescimento do voto apelidado de “Geraldina” – Geraldo Alckmin para governador e Marina para presidente. Segundo recentes levantamentos, 43% dos eleitores de Alckmin dizem votar na candidata do PSB. O fenômeno lembra o ocorrido em 2006, em Minas, só que em benefício de Aécio. Consistiu no voto conhecido como “Lulécio” (Lula presidente, Aécio governador). Para recuperar o terreno perdido em São Paulo, o candidato do PSDB ao Planalto acertou com o ex–presidente Fernando Henrique Cardoso a ampliação de sua participação na campanha. Na avaliação dos estrategistas tucanos, FHC imprime uma marca de credibilidade à candidatura, no momento em que Aécio quer se distinguir de Marina apresentando–se como a opção da “mudança com segurança”. Não por acaso, FHC concedeu entrevista coletiva ao lado de Aécio na terça–feira 2 no comitê tucano. “Por que foi possível domar a inflação? Porque tinha uma equipe. Eu não sou economista. Mas tinha capacidade de juntar um time. Não se governa sozinho”, salientou FHC. “Aécio simboliza a competência e a experiência para poder governar”, acrescentou.
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NOVA ESTRATÉGIA 
Em São Paulo, Aécio Neves intensificará as caminhadas ao lado de Geraldo Alckmin,
em primeiro no Estado. FHC (abaixo) aumentará sua participação na campanha
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No Rio, a aposta de Aécio para voltar a crescer é intensificar as viagens ao Estado. Em Minas, o PSDB passará a defender o legado do senador e ex–governador mineiro. O sentimento entre os tucanos mineiros é de que a equipe de comunicação da campanha nacional equivocou–se ao formular propostas de forma genérica, esquecendo–se de regionalizá–las. Um dos efeitos dessa estratégia malsucedida seria um distanciamento dos eleitores do discurso de Aécio. “Houve uma passividade. A nossa campanha não foi na linha correta, mas o erro já está sendo corrigido”, reconheceu Marcus Pestana, presidente do PSDB de Minas Gerais.
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Convencido de que a presidenta Dilma Rousseff perde a eleição para qualquer adversário no segundo turno, Aécio vai passar as próximas semanas tentando convencer o eleitor que para mudar o País não basta apear o PT do Palácio do Planalto. “A mudança começa no dia da posse do novo presidente e não no dia da eleição”, prega o tucano. “Nós temos as melhores propostas para o futuro do Brasil e vamos mostrar isso às pessoas”, afirma. Aécio concorda com a imprevisibilidade do pleito. É a marca indelével desta eleição presidencial. Para o senador mineiro, uma das poucas certezas em relação ao eleitorado é o desejo de mudança. Outra, é que ela estará consagrada a partir do dia 1º de janeiro de 2015.
Fotos: Pedro Dias/Ag. Istoé, Orlando Brito/PSDB; Rafael Hupsel/Ag. Istoé; Ailton de Freitas/Ag. o Globo; Wellington Pedro/Imprensa MG; JEFFERSON BERNARDES/PREVIEW.COM; Igo Estrela/Coligação Muda Brasil

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