Em barco, milionários procuram imigrantes com problemas no Mediterrâneo

Em barco, milionários procuram imigrantes com problemas no Mediterrâneo 

Mario Cacciottolo
Da BBC News
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  • BBC
    A italiana Regina Catrambone e seu marido, o americano Chris, com a filha, Maria Luisa; eles lançaram o que disseram ser o primeiro barco privado para ajudar imigrantes com problemas no mar Mediterrâneo
    A italiana Regina Catrambone e seu marido, o americano Chris, com a filha, Maria Luisa; eles lançaram o que disseram ser o primeiro barco privado para ajudar imigrantes com problemas no mar Mediterrâneo
Um casal de milionários italianos lançou o que disse ser o primeiro barco privado para ajudar imigrantes com problemas no mar Mediterrâneo.

Durante o verão passado, a italiana Regina Catrambone e seu marido, o americano Chris, estavam a bordo de um iate no Mediterrâneo, quando a cena idílica foi interrompida ao verem algo estranho no mar.

"Meu marido e eu estávamos no deque quando vimos um casaco flutuando na água como um fantasma", disse Regina à BBC.

Eles perguntaram ao capitão como aquilo foi parar ali. "Sua expressão ficou sombria e ele disse que a pessoa que usava o casaco provavelmente não estava mais entre nós. Isso chamou a nossa atenção."

Eles perceberam que a roupa provavelmente pertencia a um dos milhares de imigrantes que tentam cruzar o Mediterrâneo para chegar à Europa - cerca de 1.900 pessoas morreram nestas águas desde o início do ano, 1.600 delas desde o início de junho, de acordo com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).

A decisão definitiva foi tomada pelo casal quando eles viram o papa Francisco na televisão pedindo a empreendedores que ajudassem os necessitados.

"Eu e meu marido nos olhamos e dissemos: 'Vamos fazer alguma coisa'. A partir daí tivemos a ideia de comprar um barco e fazer algo no Mediterrâneo, onde pessoas estão morrendo todos os dias."

Em outubro de 2013, quando os Catrambone souberam que mais de 360 imigrantes se afogaram perto da ilha italiana de Lampedusa, eles decidiram transformar os planos em ações.

Desde então, o casal investiu recursos próprios em um barco, o Phoenix, que fica baseado em Malta, onde eles vivem. Ele tem barcos salva-vidas e dois drones sofisticados usados para encontrar e ajudar imigrantes que tentam entrar na Europa de barco, vindos principalmente da África. 
BBC
Drones de alta definição podem ler um pedaço de papel na mão de uma pessoa, segundo equipe que faz parte do projeto

A operação recebeu o nome de Estação Oceânica de Ajuda a Migrantes (Moas, na sigla em inglês).

Bênção católica

Em vez da pancada de uma garrafa de espumante em seu casco, no entanto, o Phoenix foi inaugurado com gotas de água benta.

Durante uma missa católica, realizada dentro do navio um dia antes de sua primeira patrulha, um padre disse à tripulação que eles estavam em uma missão de Deus.

Ele entregou a cada um uma pequena garrafa de água benta do santuário de Lourdes e um crucifixo dourado para ser colocado no navio. 
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O navio Phoenix fica atracado em Malta


O convés do barco foi especialmente customizado para abrigar os pequenos drones que capturam imagens em alta definição, têm visão noturna e câmeras infravermelhas.

Segundo Chris, o equipamento consegue até ler, em pleno ar, um pedaço de papel na mão de uma pessoa.

"Estamos fazendo história de muitas maneiras ao sermos o primeiro barco civil a usar uma tecnologia tão grandiosa. Estamos tentando fazer algo que ninguém mais conseguiu fazer. Transformamos nossas palavras em prática", diz Chris Catrambone.

Quando o Phoenix encontrar uma embarcação migrante em águas internacionais, a tripulação entrará em contato com as autoridades mais próximas. "Comunicaremos a posição do barco em apuros às autoridades e esperaremos as instruções deles", diz Regina.

Enquanto aguardam as instruções, os tripulantes do Phoenix usaram os botes para se aproximar dos imigrantes e entregar comida, água potável e coletes salva-vidas, além de oferecer assistência médica. O barco também tem um paramédico e uma área equipada para atendimento médico.

"No entanto, se o barco estiver naufragando ou o número de pessoas [a bordo] for maior do que deveria, diremos isso às autoridades e faremos o que precisa ser feito. Podemos trazer pessoas a bordo, até que Malta e a Itália possam recebê-las, e levá-las à terra."


Assunto espinhoso

Regina e Chris se revezarão para viajar com o Phoenix. Parece ingênuo pensar que uma operação do tipo pode ser organizada por civis, mas o diretor do projeto era, até pouco tempo atrás, comandante das Forças Armadas de Malta e membros da equipe têm experiência nas Forças Armadas, em resgates marítimos e na medicina.

O casal diz que o custo total da primeira missão de 60 dias do barco é de 2 milhões de euros (cerca de R$ 6,9 milhões), que eles dizem ser o orçamento total disponível até o momento.

Os Catrambone têm um grupo de empresas em Malta, que oferecem seguro e serviços para pessoas que trabalham em zonas de conflito. Eles pretendem levantar mais fundos para o projeto, além de recursos próprios, e transformá-los em uma operação que dure todo o ano.

De acordo com a Acnur, cerca de 19 mil imigrantes chegaram a Malta vindos da Líbia desde 2002. Em 2013, cerca de 30% deles ainda estavam na ilha, que tem uma população de 417 mil pessoas.

O governo maltês não respondeu a pedidos de entrevista sobre o Moas - a imigração é um assunto espinhoso para autoridades locais, e o primeiro-ministro, Joseph Muscar, já afirmou que o país tem dificuldades de lidar com o influxo de pessoas.

No ano passado, Muscat foi forçado pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos a cancelar dois voos que levavam imigrantes de volta para a Líbia.

Regina Catrambone diz que o casal mantém um "diálogo em andamento" com as autoridades locais, mas revela que a embarcação navega com a bandeira de Belize porque o processo para conseguir o registro em Malta "estava demorando muito".

No entanto, a milionária se mostra irritada com as insinuações de que o dinheiro do casal poderia ser gasto de outra maneira, talvez para ajudar os imigrantes quando eles desembarcam. "Há ONGs fazendo isso em terra, mas não no mar", diz.
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