Ex-cafetina da Bahia desabafa: ‘Um dia resolvi me libertar e virar evangélica’

Ex-cafetina da Bahia desabafa: ‘Um dia resolvi me libertar e virar evangélica’

Por brasil
07/07/14 07:00
MÁRIO BITTENCOURT, EM JEQUIÉ (BA)
Após 38 anos no comando do “Bar da Amenade”, uma das casas de prostituição mais conhecidas da Bahia, a ex-cafetina Maria Amenade Coelho, 67, promoveu uma mudança radical em sua vida: abriu uma igreja evangélica no mesmo local onde funcionava o prostíbulo.
Localizado numa das entradas de Jequié (365 km de Salvador), a igreja Assembleia de Deus Madureira tem como slogan “onde abundou o pecado, superabundou a graça”, colocado justamente para lembrar os antigos frequentadores que ali era um “local de perdição transformado por Deus”.
A seguir, o depoimento da ex-cafetina à Folha.

Prostíbulo que virou igreja

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Mário Bittencourt/Folhapress
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A ex-cafetina Maria Amenade Coelho, 67, em frente à igreja evangélica aberta por ela onde funcionava um prostíbulo, em Jequié (BA)
Nasci e me criei em Jequié, na Bahia. Comecei nova na atividade de bar, com 22 anos. Já tinha três filhos, abri como meio de sobrevivência. Vendi umas coisas que tinha e mandei construir.
Na época, era tudo mato às margens da BR-116, quase não tinha diversão para viajantes. Então começaram a abrir prostíbulos, os bregas, como são mais chamados pelo povão.
Quando comecei com o meu brega, já tinha pelo menos uns oito por aqui. Sempre deu muita gente, a maioria de fora, mas muitos aqui da cidade.
No início, aqui não tinha dormitório, era só o bar mesmo. As moças vinham, se arranjavam com os homens e iam para outros locais. Eu permitia que elas ficassem no meu bar para, em troca, ganhar algo pelo programa.
Como dava muito movimento, comecei a ter lucro com o bar e construí os dormitórios para as mulheres fazerem os programas.
Elas vinham de várias partes do Brasil e moravam no dormitório. Tinha gente de Belo Horizonte, São Paulo, Fortaleza, Curitiba, Salvador. Daqui da Bahia, vinha de Maracás, Jaguaquara, Vitória da Conquista, Itagi, Ipiaú, Santo Antonio de Jesus.
VERGONHA
A garota de programa que entra para essa vida nunca faz seus trabalhos no local onde vive, pois não quer se expor, principalmente para a família. Muitas delas sentem vergonha do que fazem, não gostam nem de falar sobre o assunto e pensam em mudar de vida.
Eu sempre as tratava bem. Não permitia que trouxessem filhos para cá, pois não era correto. Pelo uso do quarto, elas me davam uma parte do dinheiro por cada programa.
Meu brega ficou famoso na região e isso causou ciúmes nos outros bregas. Chegaram a ter 22 no total. Eu sabia de cada um, pois precisava ter conhecimento da concorrência. Muitos deles eram precários.
Nos primeiros anos dava somente gente que bebia. Depois, nos anos de 1990, apareceram usuários de todos os tipos de drogas, sobretudo maconha e cocaína. Tinha gente que injetava álcool na veia, desmaiava, chamava ambulância, ia para o hospital, e eu nunca procurava saber que fim tinha.
Odiava esses viciados, só davam problema e, muitas vezes, batiam nas garotas, não queriam pagar o programa. Aí tinha de chamar a polícia para prender.
Os viciados em álcool e drogas eram os que mais arrumavam confusão no bar, brigavam entre eles. Já vi gente levando facada aqui na porta do bar. Os bêbados brigavam mais com as mulheres.
Fui presa uma única vez, mas por conta de adolescentes que vieram para cá em busca de diversão. Não permitia que garotas menores de idade viessem para o meu bar [segundo a polícia, Amenade foi presa porque havia três garotas de programa adolescentes no bar].
Meu bar era muito conhecido. Tinha o brega como meio de vida. Criei meus cinco filhos com a renda deles. Infelizmente, três dos meus filhos já morreram.
Dois foram assassinados porque se envolveram com coisas erradas, gente ruim, e um outro morreu porque bebeu demais [de cirrose].
MUDANÇA
Minha transformação começou há três anos, quando fiquei doente, em uma cama por três meses, por conta de problemas nas cartilagens dos joelhos.
Durante esse tempo, recebi a visita de evangélicos, que fizeram orações para mim, até que um dia eu resolvi me libertar e virar evangélica. E não quis mais saber de prostituição.
Mas, mesmo ainda depois de convertida, continuei com o bar. Aí os clientes vinham e ficavam dizendo que queriam beber no bar da pastora.
Até que um dia resolvi fechar de vez o bar e vender tudo que tinha nele. No início, quis por o salão do brega para alugar, só para me livrar dele mesmo. Mas logo veio a ideia de abrir a igreja, surgida de um pastor da Assembleia de Deus Madureira [cuja sede fica em Mogi das Cruzes, em SP]. Aceitei de pronto e começamos a mudar o local.
Minha vida e a da minha família mudou muito depois que me tornei evangélica. Não tinha vida social, ninguém vinha aqui na minha casa, a não ser gente da família mais próxima.
Hoje, vizinhos falam comigo, saio à rua de cabeça erguida, consciente das coisas que fiz, mas arrependida de tudo e firme na força de Deus.
Peço perdão às famílias que foram prejudicadas pela minha atividade. Faço orações por elas e peço que orem por mim também.
Minha vida hoje é louvar a Deus pela libertação que tive e contar minha história de conversão para outras pessoas. Nunca tinha pensado em ser religiosa, mas nada é impossível para a força e o amor de Deus, e eu estou aqui para mostrar isso.

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