FOI MESMO A ELITE QUE XINGOU DILMA?

Da série "Deixando de Ser Esquerdopata"
Talvez não nesse caso, mas poderia ser de outra série: Esquerdopata traindo os esquerdopatas
FOI MESMO A ELITE QUEM XINGOU DILMA? (é longo, só para fortes)
Em política, há uma grande diferença entre o que se sabe o que se diz. Por exemplo, sabe-se que a galera que sustentou o coro do VTNC para Dilma no Itaquerão foi formada, principalmente por pessoas de classe média. Infere-se pelo preço dos ingressos, pela aparência física dos que xingavam e, principalmente, porque sabemos que o antipetismo tem crescido e ficado mais ousado nas classes médias.
Aparentemente, na classe média vêm se formando ambientes sociais em que as pessoas se sentem encorajadas a expressar, de maneira hiperbólica e sem filtros nem peias, todo o seu desgosto (ódio?) pelo PT e pelo lulismo. Como se sabe, um sujeito teme a sanção social e examina o próprio ambiente social antes de se decidir a expressar publicamente uma opinião sobre assunto controverso. Se sente que não haverá punição se manifestar a opinião X - porque considera que a maioria naquele ambiente não só não vai puni-lo como, antes, vai recompensá-lo - ele se joga. Quanto mais ele se considerar maioria, mais radical ele será. Para arriscar um VTNC para presidente da República, precisa achar que: a) "todo mundo" vai estar do seu lado; b) não haverá naquele ambiente uma contraposição capaz de produzir uma reação consistente, na forma de vaias ou de tapas na orelha. Pois, convenhamos, não é banal o sujeito se encher de coragem para engrossar, cheio de energia e verdade, um corinho de VTNC para uma senhora de quase 70 anos; nem é banal, em qualquer latitude, sentir-se garantido para dizer algo desta natureza ao presidente da República. Quando alguém ousa, é porque se sente garantido e confia que aquele ambiente social é favorável e recompensará atrevimentos deste calão.
É claro que nem todos ambientes sociais autorizam bravatas e brutalidades desta espécie. E é claro que a classe média provê provavelmente a maior parte deles (mas não se iludam, o fundamentalismo evangélico é igualmente antilulista e não é classe média). Mas há realmente uma vantagem tática, para os petistas ou para os que simplesmente desaprovam o radicalismo antipetista, o meu caso, em dar a esta gente o privilégio de se sentir representando toda a classe média e falar em nome da elite?
Aparentemente, Lula e mais uma legião de petistas, acha que sim. Foi o que ele expressou em recente comício, não foi? "Dilma, você viu que no estádio não tinha ninguém com cara de pobre, só você?! Não tinha ninguém, ninguém pelo menos moreninho. Era a parte bonita da sociedade, que comeu a vida inteira e chegou ao estádio para mostrar que educação a gente aprende em casa, vem de berço". E muitos amigos passaram esta semana apontando o dedo para "as elites" (só mesmo a esquerda para tratar de "elite" a escória), a "elite branca", a "classe média", achando que, com isso, evitavam a disseminação da ideia de que o povo está abandonando Dilma. "Não, é só azelite aprontando mais uma das suas", dizem.
Na minha opinião, é um erro grosseiro. Sei que faz parte da carga ruim do DNA da esquerda brasileira produzir esta degradação moral e política da classe média e da elite, mas eu queria lembrar aos petistas que ninguém ganha eleições sem a classe média nem governa sem ela. Não somos a Venezuela. Para quebrar o encantamento que lhe impedia de ganhar eleições, Lula precisou conquistar a classe média (não era isso o "Lulinha paz e amor"?). Permitir que radicais antipetistas se sintam "a classe média" é tudo o que desejam. Isso lhes permite deixar, ao menos discursivamente, a condição de sectários de direita, radicais ultraconservadores, fundamentalistas homofóbicos, adversários sanguíneos de programas de amparo social, racistas geográficos e outras quitandeiras do ódio, para aparecer limpinhos e engomadinhos como "a classe média" ou, o que é ainda pior, "a elite". Não são. Eles são os antipetistas radicais, são os feios, sujos e malvados ganhando força social e atrevimento político. Dar a eles o argumento de que falam pela classe média é a coisa mais estúpida que se pode fazer. Mas a esquerda... bem, a esquerda continua sendo a sua pior inimiga, principalmente porque não controla os conceitos, nem a língua.

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