Tenho síndrome de herói', diz Batman do Leblon Eron Morais de Melo, protético que sai às ruas para protestar como o super-herói, fala sobre o bate-boca no bairro carioca que virou viral na internet

Tenho síndrome de herói', diz Batman do Leblon

Eron Morais de Melo, protético que sai às ruas para protestar como o super-herói, fala sobre o bate-boca no bairro carioca que virou viral na internet

Mariana Zylberkan
Eron Morais de Melo e Dodô Brandão discutem no Leblon
Eron Morais de Melo e Dodô Brandão discutem no Leblon (Reprodução)
"O prefeito Eduardo Paes apareceu, logo nas primeiras manifestações de junho, em montagens nas redes sociais fantasiado de Coringa. Se ele é o Coringa, o inimigo público, eu vou chamar o Batman"
O protético Eron Morais de Melo está acostumado aos holofotes. Desde junho do ano passado, ele diz ter ido a mais de vinte manifestações no Rio de Janeiro vestido de Batman, o que atrai a atenção da imprensa e até de alguns manifestantes ilustres, como o ator Marcelo Serrado, que posou para uma foto ao seu lado numa passeata. Com o fim da onda de manifestações pelo país, o carioca resolveu aderir ao evento da moda, os chamados "rolezinhos" em shoppings centers organizados por adolescentes funkeiros. Porém, como os "rolezinhos" não têm a mesma aprovação popular – nem bandeiras muito claras – que os protestos de 2013, Batman acabou se envolvendo em uma confusão no último final de semana. Com diálogos inusitados e roteiro de comédia, o bate-boca com o cineasta Dodô Brandão, morador do Leblon, na Zona Sul do Rio, virou hit na internet, com milhares de visualizações no Youtube. Passada a confusão, o "Batman do Leblon", como ficou conhecido nas redes sociais, explicou ao site de VEJA porque sai às ruas fantasiado aos 32 anos: "Sou um idealista, tenho síndrome de herói".
Como começou a confusão? A discussão foi antes de começar o rolezinho, parei para dar uma entrevista na calçada e aquele senhor veio para cima. Eu não sei de onde aquele pessoal veio e em qual teoria de conspiração acredita, mas agora, vendo o vídeo, eu até acho engraçado. No momento foi tenso, quase rolou uma agressão. A gente não foi lá para roubar, causar confusão, foi um ato simbólico, uma oportunidade de fazer uma crítica social para mostrar a desigualdade social e o preconceito. Rico que vai à favela é turista, agora favelado que vai ao shopping de luxo é vândalo.
Reprodução
Página do Facebook de Eron Morais de Melo, o Batman do Leblon
Por que sai às ruas para protestar vestido de Batman? Eu sou um idealista, acredito que podemos mudar o mundo. O objetivo é chamar atenção. Se eu fosse [sic] de Eron, nem seria notado, mas de Batman, as pessoas vão sempre querer saber o porquê da fantasia. É a minha chance de denunciar tudo que está errado. É uma arte performática que tem dado certo.
Você fez a fantasia? Fiz tudo menos a máscara, que eu comprei de um colega meu, que comprou na internet. Antes das manifestações, eu usava só no Carnaval e em alguns eventos nerds de cosplay. No primeiro protesto, até tirei foto com o ator Marcelo Serrado e nem sabia que era ele, depois que eu fui ver em um site. Pensei: Pô, legal, vou guardar para a minha coleção.
Por que escolheu o Batman? Eu sempre gostei dele. O Batman é um herói humano, ele não tem poderes especiais, o maior poder dele é a mente e a persistência. É um cara comum que decidiu lutar contra o sistema. Outro motivo foi o prefeito Eduardo Paes ter aparecido, logo nas primeiras manifestações de junho, em montagens nas redes sociais fantasiado de Coringa. Se ele é o Coringa, o inimigo público, eu vou chamar o Batman. Dei uma de Latino [cantor de funk], chamei o Batman para resolver isso aí.
Você se sente diferente quando veste a roupa do Batman e vai às manifestações? O Batman faz parte da cultura ocidental e é um símbolo muito forte de heroísmo, de luta pela justiça. Quando eu visto o manto do morcego, sinto o peso da responsabilidade. Até tomo cuidado com as minhas atitudes e com o que eu falo quando estou vestido de Batman. Eu encarno uma missão. Fui pacífico até durante a minha detenção. Adoto uma postura pacífica, mas nunca passiva.
Você consegue conciliar a agenda das manifestações e o seu trabalho? Eu trabalho em casa, sou protético, meu laboratório é em casa. Se vou a manifestação em um dia, trabalho dobrado no outro. Viro a noite, depois no dia seguinte eu estou arrasado, mas tudo bem.
Seus clientes sabem que você é o Batman ou você preserva sua identidade secreta? No geral, os meus clientes sabem. Algumas pessoas que passam por aqui não sabem, algumas levam na gozação e outras apoiam.
O que sua mulher pensa disso? Ela diz que ainda não temos filhos porque eu sou marido e filho ao mesmo tempo. Quando fui preso, ela quase enfartou, me xingou de tudo quanto era nome. Fiquei com medo de voltar para casa e apanhar, tive que esperar ela dormir para voltar. Ela apoia, mas tem medo de eu sofrer alguma agressão. Ela sabe que eu tenho síndrome de herói.
Você se considera um manifestante profissional? Não é um trabalho, é um dever. Eu cansei de só reclamar e fui para a rua. Não dá para ficar nos domingos, com a família, reclamando que o político roubou e a lei é errada. Se não cobrar, sufocar governante, não vai rolar. Para mim é um dever, uma missão. 


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