Um olho na TV, outro no celular
Um olho na TV, outro no celular
Pelas redes sociais, o público aplaude, critica e divulga os programas no momento em que eles vão ao ar. Como isso mexe com a televisão?
RAFAEL BARIFOUSE
22/11/2013 07h00
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Desde a estreia do The voice Brasil, no início de outubro, o programa tem lugar cativo nas noites de quinta-feira entre os assuntos mais comentados no Twitter.
Poderia ser apenas mais um reflexo de sua mudança de horário, de
domingo à tarde para o horário nobre, que aumentou a audiência em 62%.
Mas é também resultado de um esforço dos produtores: durante toda a
transmissão. Os telespectadores são convidados a comentar na internet.
Uma equipe interage com a audiência por meio do Twitter e escolhe as
melhores frases para exibir na tela. Até agora, foram publicadas 750 mil
mensagens sobre o The voice, segundo a empresa Tribatics, que
analisa conteúdo on-line. A ideia é que o programa esteja sintonizado
com um hábito cada vez mais comum: assistir à TV enquanto se comenta a
programação nas redes, comportamento que ganhou o nome de “segunda
tela”.
Comentar a programação da TV não é novidade. Toda roda de amigos tem alguém comentando o jogo de futebol do dia anterior. Qualquer família tem um noveleiro que falaria por horas sobre seu folhetim favorito. Até há pouco tempo, só era possível fazer isso pessoalmente, no bar ou no almoço de domingo. Isso mudou com a popularização dos computadores e da internet. Desde 2008, o número de micros em uso no Brasil mais que dobrou, para 118 milhões. Ao mesmo tempo, surgiram alternativas baratas para entrar na internet, como smartphones e tablets. O número de internautas no país passou de 56 milhões para 93 milhões. Resulta disso que o brasileiro deixou de ver TV sozinho. Agora está na companhia on-line de milhares. “A tecnologia nos aproxima por gostos. Ela agrega uma conversa antes fragmentada”, diz o pesquisador Fabio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo.
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A televisão tornou-se um dos principais assuntos nas redes sociais. “Nosso horário de pico é justamente a hora da novela”, diz o diretor do Facebook Brasil, Leonardo Tristão. O Facebook fez parcerias com canais em nove países, entre eles o Esporte Interativo no Brasil, para que eles quantifiquem e analisem as mensagens que provocam nas redes. “Saberemos que torcida participa mais ou qual o jogador mais falado e exibiremos isso na tela”, diz o vice-presidente de novas mídias do Esporte Interativo, Maurício Portela. Em outubro, a Nielsen passou a divulgar números de audiência de programas americanos no Twitter. Ele é mais usado por quem fala de TV na internet. “A TV é 50% do nosso conteúdo”, diz o diretor de parcerias do Twitter, Carlos Moreira Jr.
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As emissoras perceberam isso e testam estratégias. A Band lançou um aplicativo que dá acesso a mais conteúdo de seus programas. A Record fez uma parceria com o Twitter para torná-lo mais presente na programação. No último ano, o GNT passou a incentivar comentários sobre os desfiles que transmite, o programa Saia justa e a série Sessão de terapia. Fazem isso porque podem aumentar a audiência. Uma mensagem no Twitter é vista por 50 pessoas em média, segundo a Nielsen. Se alguém esquece um programa, pode ser lembrado que ele está no ar pelas redes sociais. Ao analisar 221 episódios de programas americanos, a Nielsen detectou que 29% deles sofriam impacto na audiência por causa do Twitter. Outro benefício para as emissoras de TV é ter retorno imediato do público. “Usamos como termômetro para ajustes”, diz a coordenadora de novas mídias do GNT, Fabiana Gabriel. É uma mudança importante na forma de operar da TV, que tinha como única medida de sucesso os pontos de audiência. A internet traz comentários sobre qualidade, gosto, opinião. “Nunca tivemos a oportunidade de ouvir tanto o público. Posso intervir num programa com ele no ar a partir dos comentários”, diz Guilherme Zattar, diretor do Multishow. “O público fica satisfeito quando percebe que é ouvido.”
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