ACUSAÇÃO
João Roberto Zaniboni, ex-diretor de
operações da CPTM: ele teria recebido
pelo menos US$ 200 mil em propina
As investigações sobre o esquema de corrupção que operou nos trilhos
paulistas avançam na direção de agentes públicos das gestões tucanas de
São Paulo. Integrantes do Ministério Público e da Polícia Federal dizem
que “mais de uma dezena” de executivos de estatais que passaram pelos
sucessivos governos do PSDB não só foi omissa como também participou das
fraudes e do superfaturamento de contratos firmados com o Metrô
paulista e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Documentos e depoimentos obtidos nas últimas semanas já apontam os nomes
de servidores estaduais que se beneficiaram financeiramente das
tramoias. É o caso de João Roberto Zaniboni, diretor de operações da
CPTM entre 1999 e 2003 (gestões Mário Covas e Geraldo Alckmin). De
acordo com provas enviadas por autoridades suíças, uma conta de Zaniboni
na Suíça foi abastecida com US$ 836 mil, o equivalente a R$ 1,8 milhão,
no período em que ele era dirigente da estatal. Ao menos US$ 200 mil
foram pagos a título de propina pelas empresas do cartel em troca da
obtenção da conquista de certames ou aditamentos.
Chamam a atenção do Ministério Público e da Polícia Federal a
correlação entre as decisões tomadas pelo então diretor de operações da
CPTM João Roberto Zaniboni e os depósitos feitos em sua conta fora do
País. A dinheirama ingressava logo após ele assinar aditamentos em
contratos firmados pela CPTM e empresas acusadas de integrar o cartel
dos trens. Foram ao todo cinco canetadas, que representaram uma elevação
de despesas de cerca de R$ 12 milhões ao erário paulista. O
ex-dirigente da estatal repassou, em 2007, parte do dinheiro que recebeu
para uma conta em nome da filha nos Estados Unidos. Segundo sua defesa,
o valor foi recebido em troca da prestação de serviços de consultoria
realizados antes de sua entrada no governo.
Um dos aditamentos autorizados por Zaniboni ocorreu em 20 de outubro
de 2000. Além de alterar o prazo do contrato, a manobra ampliou em 24,8%
o valor do serviço acertado com a Daimler Chrysler Rail Systems para a
manutenção de trens. Em outro aditamento, realizado em 20 de dezembro,
um acordo de prestação de serviço similar assinado com a Alstom foi
reajustado para cima em cerca de R$ 4 milhões. Na lista das empresas
beneficiadas pelos aditamentos aparecem ainda outras companhias
apontadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) como
integrantes do cartel que atuou em São Paulo.
As conexões entre João Roberto Zaniboni e a máfia dos trilhos
paulistas, conforme a investigação, não param por aí. Ao rastrearem a
origem dos depósitos em uma conta mantida por ele no banco Credit
Suisse, que leva o nome de Milmar em uma homenagem a familiares,
autoridades identificaram um depósito de US$ 103,5 mil, efetuado em 27
de abril de 2000. O valor foi transferido de outra conta do Credit
Suisse. Identificada pelo código 524374 Rockhouse, a conta pertence ao
lobista Arthur Teixeira, principal operador do esquema de corrupção. As
remessas teriam como origem os caixas do conglomerado francês Alstom e
foram efetuadas por meio de uma sofisticada engrenagem financeira, usada
também pela Siemens, como revelou ISTOÉ em julho.
SANGRIA PÚBLICA
O cartel que superfaturou contratos foi criado na
gestão do ex-governador do PSDB Mário Covas
Para não deixar rastros, a multinacional francesa e sua subsidiária
no Brasil firmaram um contrato de fachada de consultoria com a offshore
uruguaia Gantown Consulting S/A, controlada por Arthur Teixeira. Na
prática, Teixeira fazia apenas o papel de intermediário no pagamento de
propina da empresa a políticos e servidores públicos. O MP e a PF
ressaltam que, nos contratos acertados entre a Gantown e a Alstom,
aparecem licitações sobre as quais Zaniboni deu aditamentos. Na última
semana, diante das denúncias, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), declarou que “seja funcionário ou ex-funcionário haverá
tolerância zero” a essas práticas criminosas.
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