Aécio chama o jogo
Aécio chama o jogo
A união de Marina Silva e Eduardo Campos não tira do senador tucano a condição de principal candidato da oposição e o PSDB define a estratégia de campanha para os próximos meses
Izabelle TorresAÇÃO
Pesquisas mostram o crescimento de Aécio Neves,
que planeja antecipar programa de governo
Depois de voltar casado dos Estados Unidos,
na última semana o senador Aécio Neves (PSDB-MG) reafirmou a posição de
principal candidato da oposição na sucessão presidencial. Em almoço na
quarta-feira 16, o senador se reuniu com 44 dos 46 deputados federais
tucanos e traçou a estratégia para os próximos meses. As últimas
pesquisas mostram que a inesperada união de Marina Silva com o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), permitiu um crescimento
na candidatura do socialista, mas revelam também que a saída de Marina
da disputa direta eleva Aécio à condição de mais forte adversário da
presidenta Dilma Rousseff, com 21% das intenções de voto contra 15% do
pernambucano. “Ainda temos um ano pela frente, mas o certo é que as
pesquisas mostram que 60% dos brasileiros não querem a continuação de
Dilma no poder”, disse Aécio. “Tenho a convicção de que quem for para o
segundo turno contra a candidata do PT sairá vitorioso”, completou, logo
depois do almoço com os deputados. Durante o encontro, Aécio enfatizou
que os números são animadores, mas não permitem nenhum tipo de
acomodação. E, diante da movimentação feita por Campos, o mineiro
resolveu antecipar para dezembro as linhas básicas do programa de
governo que os tucanos oferecerão ao País na campanha de 2014. “Os
brasileiros querem um novo projeto e somos os mais capacitados para
elaborá-lo e colocá-lo em prática”, afirmou.
Além de antecipar o debate sobre as propostas concretas para o Brasil, Aécio planeja fazer intensificar os ataques ao PT e ao governo Dilma, e se colocar como candidato efetivamente contra o governo, sem se indispor com Eduardo Campos e Marina Silva, que procuram se colocar como alternativa ao PT, mas sem se caracterizarem como oposição. A política de boa vizinhança com Pernambuco, no entanto, não implica em facilitar a vida de Campos. No encontro, Aécio ressaltou que o PSDB não deve tolerar os palanques duplos nos Estados. Um recado ao governador paulista, Geraldo Alckmin, que trabalha com a possibilidade de ter o PSB como aliado para a sua reeleição. “Não vamos tolerar que um governador nosso esteja apoiando a candidatura de Campos”, disse um dos parlamentares presentes no encontro. “Palanque duplo é coisa de corno”, brincou um deputado de São Paulo. A mesma ideia se aplica em Minas. Os tucanos já descartam a candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), ao governo estadual com apoio de Aécio. “A grande conclusão é que temos chances de crescer muito ainda. Aécio não é conhecido de todos os brasileiros, mesmo assim aparece bem nas pesquisas. O PSDB está consolidado no papel de oposição e isso conta pontos”, diz o líder do partido na Câmara, Carlos Sampaio (SP).
Além de antecipar o debate sobre as propostas concretas para o Brasil, Aécio planeja fazer intensificar os ataques ao PT e ao governo Dilma, e se colocar como candidato efetivamente contra o governo, sem se indispor com Eduardo Campos e Marina Silva, que procuram se colocar como alternativa ao PT, mas sem se caracterizarem como oposição. A política de boa vizinhança com Pernambuco, no entanto, não implica em facilitar a vida de Campos. No encontro, Aécio ressaltou que o PSDB não deve tolerar os palanques duplos nos Estados. Um recado ao governador paulista, Geraldo Alckmin, que trabalha com a possibilidade de ter o PSB como aliado para a sua reeleição. “Não vamos tolerar que um governador nosso esteja apoiando a candidatura de Campos”, disse um dos parlamentares presentes no encontro. “Palanque duplo é coisa de corno”, brincou um deputado de São Paulo. A mesma ideia se aplica em Minas. Os tucanos já descartam a candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), ao governo estadual com apoio de Aécio. “A grande conclusão é que temos chances de crescer muito ainda. Aécio não é conhecido de todos os brasileiros, mesmo assim aparece bem nas pesquisas. O PSDB está consolidado no papel de oposição e isso conta pontos”, diz o líder do partido na Câmara, Carlos Sampaio (SP).
PALANQUES
Nova estratégia de Aécio tenta evitar que
tucanos tenham apoios duplos nos Estados
Mas não são apenas os números das pesquisas
que colocam Aécio em posição privilegiada nessa pré-disputa eleitoral.
Em todas as seis eleições diretas para presidente realizadas após a
democratização, o PSDB só ficou fora da primeira, em 1989. Ganhou duas
no primeiro turno e passou para o segundo turno nas outras três. Em
nenhum caso o partido teve menos do que 35% dos votos. Hoje, o PSDB
governa 47% da população brasileira em oito Estados – nenhuma legenda
tem dimensão comparável – e possui mais de 700 prefeitos Brasil afora.
Num país onde candidatos se fazem – e desfazem – durante o horário
eleitoral de rádio e televisão, o PSDB conta com perspectivas
animadoras. Possui sozinho direito a um minuto e 51 segundos, quase o
dobro do PSB de Campos. Se as tendências se concretizarem, o
recém-criado Solidariedade, que se inclina a fechar acordo com Aécio,
tem a oferecer um minuto a mais à candidatura tucana, além do tempo do
histórico aliado DEM, de 56 segundos, e dos 27 segundos do PPS. “Temos a
vantagem de uma estrutura consolidada e a identidade definida como
oposição ao atual governo. Não acho mesmo que estamos em desvantagem.
Pelo contrário, nossas chances aumentam sem uma candidatura polarizada”,
disse Aécio, em entrevista à ISTOÉ.
Na avaliação dos tucanos, a presença de Campos e Marina tem um efeito útil à candidatura de Aécio. A disputa concentrada apenas entre candidatos do PT e do PSDB leva o debate eleitoral à discussão sobre os legados dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Essa tem sempre se mostrado uma batalha desfavorável para os tucanos, já que Lula é o mais popular político brasileiro da história, enquanto Fernando Henrique, mesmo tendo deixado uma herança positiva, saiu do Planalto com índices negativos de aprovação. Com a entrada de novos protagonistas, tanto Campos como Marina irão competir com Dilma Rousseff pela herança de Lula com o argumento legítimo de que os dois integraram seu Ministério. Isso explica por que Aécio orientou seu exército a seguir a linha de apontar falhas do governo e lembrou que está na hora de demarcar território, condenando a ideia anterior de construir palanques duplos aos candidatos presidenciais do PSDB e PSB.
Na avaliação dos tucanos, a presença de Campos e Marina tem um efeito útil à candidatura de Aécio. A disputa concentrada apenas entre candidatos do PT e do PSDB leva o debate eleitoral à discussão sobre os legados dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Essa tem sempre se mostrado uma batalha desfavorável para os tucanos, já que Lula é o mais popular político brasileiro da história, enquanto Fernando Henrique, mesmo tendo deixado uma herança positiva, saiu do Planalto com índices negativos de aprovação. Com a entrada de novos protagonistas, tanto Campos como Marina irão competir com Dilma Rousseff pela herança de Lula com o argumento legítimo de que os dois integraram seu Ministério. Isso explica por que Aécio orientou seu exército a seguir a linha de apontar falhas do governo e lembrou que está na hora de demarcar território, condenando a ideia anterior de construir palanques duplos aos candidatos presidenciais do PSDB e PSB.
Durante o encontro da semana passada, outro
aspecto inevitável da aliança entre Marina e Campos foi considerado
vantajoso para os tucanos: o envelhecimento de todo fato novo na
política. A experiência ensina que a alegria dos recém-casados do mundo
político tem muitas semelhanças com os casamentos da vida real, quando
os cônjuges debatem os bens da família. No PSDB, aposta-se que as
diferenças políticas entre Campos e Marina devem acentuar-se nos
próximos meses. Enquanto Campos procura uma aproximação importante com o
agronegócio, coerente com seu perfil político e com o crescimento
eleitoral, Marina trabalha em direção oposta, como fez ao esvaziar a
candidatura-símbolo de Ronaldo Caiado (DEM-GO). Na oposição a um governo
que administrou uma das mais baixas taxas de crescimento, desempenho
que fará da economia um assunto obrigatório na campanha, Aécio tem mais
condição do que Campos (e Marina) de apontar as mazelas atuais da
economia. Na semana passada, quando Marina acusou Dilma Rousseff de ter
abandonado o tripé que garantiu o crescimento econômico – superávit
primário, câmbio flutuante e metas de inflação –, Aécio lembrou, com
todo direito, que essa fórmula nasceu nas fileiras do PSDB, que deve
colher os louros pela ideia.
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