A resposta de Dilma empobrece o Brasil e enfraquece a Democracia
A resposta de Dilma
Antes de cancelar sua visita aos EUA, a presidenta buscou apoio internacional, principalmente da Rússia. Saiba quais as consequências dessa decisão para o Brasil
Claudio Dantas SequeiraFALOU GROSSO
A presidenta Dilma Rousseff classificou a interceptação das
comunicações pelos EUA como um atentado à soberania nacional
Na terça-feira 17, a presidenta Dilma
Rousseff cancelou a viagem oficial que faria aos EUA, em outubro. A
decisão foi tomada depois de ela ser avisada por Barack Obama de que não
haveria tempo para a apuração da espionagem feita contra ela e a
Petrobras pela Agência de Segurança Nacional (NSA). Em nota, Dilma
classificou a interceptação das comunicações como “fato grave”,
“atentatório à soberania nacional” e “incompatível” com a convivência
entre países amigos. A iniciativa já vinha sendo amadurecida desde o
início do mês. Além de tratar do assunto com o ex-presidente Lula e o
marqueteiro João Santana, conforme apurou ISTOÉ, a presidenta chegou a
fazer consultas a outros parceiros, especialmente à Rússia, antes de
anunciar a suspensão da visita a Washington.
No encontro do G-20, em São Petersburgo, no início do mês, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo reuniu-se a portas fechadas com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, do qual obteve o compromisso de que apoiaria, inclusive nas Nações Unidas, qualquer medida de retaliação brasileira aos Estados Unidos. A atitude deixou a presidenta mais segura e confortável em tomar a decisão de cancelar a viagem. Considerado hoje o mais importante articulador da diplomacia internacional, Lavrov prometeu ainda apoiar o debate que Dilma pretende impulsionar na abertura da 68ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira 24.
No encontro do G-20, em São Petersburgo, no início do mês, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo reuniu-se a portas fechadas com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, do qual obteve o compromisso de que apoiaria, inclusive nas Nações Unidas, qualquer medida de retaliação brasileira aos Estados Unidos. A atitude deixou a presidenta mais segura e confortável em tomar a decisão de cancelar a viagem. Considerado hoje o mais importante articulador da diplomacia internacional, Lavrov prometeu ainda apoiar o debate que Dilma pretende impulsionar na abertura da 68ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira 24.
INTERLOCUTOR DE PESO
Antes de decidir cancelar a viagem aos EUA, Dilma
consultou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia,
Sergey Lavrov, de quem obteve o compromisso de apoio
O discurso da presidenta, antes focado no
efeito negativo da política cambial americana sobre a economia
brasileira, agora está moldado para angariar o máximo de aprovação
internacional à criação de um novo mecanismo de governança da internet
que possa estabelecer limites à invasão da privacidade. A ideia é
condenar o unilateralismo americano e os abusos da NSA e repisar a
necessidade de respeito ao papel da ONU na busca de soluções negociadas a
crises internacionais, como o caso da Síria.
A necessidade de reforçar o multilateralismo nunca foi tão urgente e será a diretriz principal do Itamaraty, segundo um assessor palaciano. De acordo com a mesma fonte, embora a decisão sobre a visita de Dilma a Washington seja tratada oficialmente como “adiamento”, dificilmente ela ocorrerá durante o mandato de Obama. Um detalhe deixou Dilma especialmente indignada. O material recolhido pela NSA no Brasil, além de recebido pelas agências americanas, foi distribuído aos cinco aliados preferenciais de Washington nessa matéria: Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Para o historiador americano James Green, da Brown University (EUA), o tratamento dispensado ao Brasil, um aliado de longa data, é inaceitável. “Os EUA têm de entender que, apesar de ser uma potência militar e uma economia forte, precisam atuar com menos arrogância e unilateralismo”, avalia Green.
A necessidade de reforçar o multilateralismo nunca foi tão urgente e será a diretriz principal do Itamaraty, segundo um assessor palaciano. De acordo com a mesma fonte, embora a decisão sobre a visita de Dilma a Washington seja tratada oficialmente como “adiamento”, dificilmente ela ocorrerá durante o mandato de Obama. Um detalhe deixou Dilma especialmente indignada. O material recolhido pela NSA no Brasil, além de recebido pelas agências americanas, foi distribuído aos cinco aliados preferenciais de Washington nessa matéria: Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Para o historiador americano James Green, da Brown University (EUA), o tratamento dispensado ao Brasil, um aliado de longa data, é inaceitável. “Os EUA têm de entender que, apesar de ser uma potência militar e uma economia forte, precisam atuar com menos arrogância e unilateralismo”, avalia Green.
O cancelamento da visita de Estado, porém,
pode trazer prejuízos para o País do ponto de vista econômico. Não é de
hoje que uma espécie de distanciamento entre o Brasil e os EUA tem
afetado os negócios e acordos bilaterais. E o Brasil não pode desprezar o
maior mercado do mundo e maior importador de produtos de valor
agregado, no momento em que pavimenta novamente o caminho rumo ao
desenvolvimento. As empresas nacionais que têm negócios nos EUA dão
sinais de preocupação. O professor de política internacional da Faap
Bernardo Wahl alerta que alguns movimentos no tabuleiro internacional
podem ter “consequências imprevisíveis”. O historiador Alberto Moniz
Bandeira aponta outro efeito concreto. “Com certeza, o Brasil não
comprará os caças americanos F-18”, diz. Para ele, um acordo de tamanho
potencial estratégico dificilmente poderá ser firmado agora. Na cúpula
da Força Aérea, esperava-se que a compra dos 36 aviões de combate fosse
anunciada na visita de 23 de outubro, dia do Aviador. “É um grande
choque”, disse à reportagem um alto oficial ligado ao gabinete de Juniti
Saito, comandante da FAB. Segundo o oficial, Saito ficou desapontado.
“Tudo que a gente quer agora é uma definição, seja qual for”, diz a
fonte. Ele lembra que os Mirage 2000 sairão de circulação no final do
ano. O maior temor na Aeronáutica agora é que o governo decida reabrir a
licitação, com a participação do Sukhoi, como forma de retribuir a
ajuda dos russos.
fotos: Ueslei Marcelino/REUTERS;
Senior Airman Dennis Sloan; NATALIA KOLESNIKOVA/AFP
Foto: NATALIA KOLESNIKOVA/afp
Senior Airman Dennis Sloan; NATALIA KOLESNIKOVA/AFP
Foto: NATALIA KOLESNIKOVA/afp
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