BAHIA E CACHÊ ALTO COM GRANA PÚBLICA PRA GAYS
30/05/2013
às 20:46Daniela Mercury sai do armário e entra no cofre dos baianos. Ou: O lesbianismo estatal de Jaques Wagner
Ai, ai, ai, ai…
Leio
notinha no Estadão informando que a cantora Daniela Mercury, aquela que
anunciou que agora tem “esposa”, vai desfilar com seu trio elétrico e
cantar o Hino Nacional da Parada Gay de São Paulo.
Até aí,
tudo certo! É compreensível que ela tenha se tornado um “ícone” — como
se diz hoje em dia nos cadernos de cultura até quando se escreve sobre
falador de rap… — do movimento gay. Há quem diga que Daniela foi
“supercorajosa” ao assumir a sua homossexualidade e coisa e tal. Por
mim, está tudo bem.
O que é
absolutamente inacreditável, escandaloso mesmo, é saber que o governo da
Bahia, do companheiro Jaques Wagner (PT), é que vai pagar o cachê da
cantora: R$ 120 mil.
Então
vamos ver. Daniela decide anunciar ao Brasil que é lésbica. Ninguém
ficou chocado, o que é bom. Ainda que isso só diga respeito a ela mesma,
achou que todos deveríamos participar de sua celebração. OK. O mínimo
que a gente espera dos heróis de qualquer causa é algum sacrifício ou
renúncia, não é mesmo? Isso é próprio da condição.
Não existe
heroísmo no estado de gozo permanente. Aliás, em termos, digamos,
psicanalíticos, esse gozo permanente seria a negação da civilização. Mas
deixemos de lado essas especulações agora. Daniela vai subir no palco,
ser ovacionada por sua coragem e… levar R$ 120 mil dos cofres públicos
baianos.
Ou por
outra: o governo da Bahia estatizou o lesbianismo e fez de Daniela a sua
representante. O que deveria ser, então, um ato de resistência contra,
sei lá, os caretas, os conservadores, os reacionários, os cultores do
tradicional “papai-e-mamãe” (em vez do “mamãe-e-mamãe” e
“papai-e-papai”), vejam que coisa!, se transforma em oficialismo dos
mais reacionários — e agora entendo que Daniela Mercury não tenha
chamado a sua mulher de “mulher”, mas de “esposa”. Já contei aqui que,
tão logo assumi um cargo de chefia num jornal, aboli essa palavra. Eu
jamais transaria com a minha “esposa”. A gente transa (Daniela também) é
com mulher, certo?
Está aí.
Tenho escrito alguns textos sobre o caráter que o Bolsa Família vai
assumindo no Brasil. Dissemina-se a cultura de que a função do bom
patriota é esperar que o estado lhe forneça renda, moradia, emprego,
roupa, anticoncepcional, camisinha, pílula do dia seguinte, aborto. Até a
homossexualidade, como se nota, tem de ser estatizada — e lembro que a
Parada Gay já conta com farto financiamento público.
“Ah, mas
Daniela terá custos…” Pois que recorra à iniciativa privada se não tiver
como bancar a própria apresentação — ela poderia fazer esse sacrifício
porque isso é próprio dos heróis, reitero.
Notem bem:
ainda que a grana fosse paga para ela se apresentar na parada gay de
Salvador, já estaríamos diante de um completo absurdo. Sendo realizada a
festa fora da Bahia, aí já é um escracho. Ou ela virou agora
embaixadora do lesbianismo baiano?
O Brasil é
mesmo singular, é mesmo curioso — e há uma grande chance de que não dê
certo por isso. Antes mesmo de a homossexualidade ser encarada pela
maioria dos brasileiros como algo normal, corriqueiro, já virou uma
espécie de crença do Estado. E, no Brasil, isto já é uma tradição que
sempre resulta em zerda, o Estado tem a ambição de fundar a
sociedade, em vez de a sociedade fundar o Estado, que é o caminho normal
. Se não me engano, Daniela tem uma música que diz algo mais ou menos
assim: ”O canto desta cidade é meeeuuu!!!”. Já pode começar a cantar:
“O cofre da Bahia é meeeuuu…”
O Brasil ainda vai inventar o gay e a lésbica de crachá.
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