Um papa brasileiro?
Um papa brasileiro?
A renúncia inesperada de Bento XVI embaralhou a sucessão e abriu as portas para a renovação da Igreja. Do conclave, pode sair o imprevisível – até um papa não europeu
>>Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana
A reunião dos cardeais que escolhem o líder da Igreja Católica – o conclave papal – ocorre em formato parecido com o atual há mais de 700 anos, desde 1276. Vários desses encontros tiveram contornos dramáticos, ao lidar com a iminência de invasões, guerras e revoluções. O próximo conclave, que provavelmente se reunirá na segunda quinzena de março, tem tudo para ser dos mais espetaculares da história. Ele foi lançado por um fato inédito em 700 anos: a renúncia espontânea de Bento XVI. Seu desfecho é imprevisível. O gesto do papa, qualquer que fosse sua intenção, embaralhou as cartas de sua sucessão e abriu possibilidades até então consideradas remotas. Uma delas é a eleição de um papa não europeu. Seria o primeiro desde os patriarcas do cristianismo. Ele daria feição humana à ideia de uma igreja universal. Se essa hipótese for admitida pelos cardeais, ganharia força a possibilidade de escolha de um papa da América Latina – região que concentra 43% dos católicos do planeta – e, por extensão, do Brasil, onde há 150 milhões de católicos. Em números absolutos, o Brasil é a maior nação católica do mundo. Até que ponto a possibilidade de um papa brasileiro pode se tornar realidade?
>>Última renúncia de papa ocorreu em 1415
Há um fato: o conclave espelhará mais de perto a internacionalização da Igreja e a nova balança de poder em seu interior. No conclave de 1963, que elegeu Paulo VI, 69% dos cardeais votantes eram europeus. Em outubro de 1978, no conclave que elegeu João Paulo II, essa fatia recuara para 50% – e se mantém assim desde então. Mas os cardeais de outros continentes ganharam poder, ao mesmo tempo que a balança demográfica deslocou o poder católico para fora da Europa. É na América, na Ásia e na África que se concentram o maior número de fiéis e o crescimento mais promissor da fé católica.
“É possível termos um papa mais atento aos países emergentes, como o Brasil, do que à Europa”, afirmou a ÉPOCA o vaticanista John L. Allen Jr., biógrafo e um dos principais conhecedores do papado de Bento XVI (leia a entrevista). “A Igreja precisa de um papa que tenha consciência da fé global”, disse a ÉPOCA o teólogo italiano Massimo Faggioli, da Universidade de St. Thomas, nos Estados Unidos. “Precisamos de um papa que seja católico, não necessariamente europeu.” Na Europa, o cenário é de declínio acentuado de religiosidade. Hoje, o número de católicos europeus corresponde a 36,7% da população do continente. Vinte anos antes, somavam 60%.
Há um fato: o conclave espelhará mais de perto a internacionalização da Igreja e a nova balança de poder em seu interior. No conclave de 1963, que elegeu Paulo VI, 69% dos cardeais votantes eram europeus. Em outubro de 1978, no conclave que elegeu João Paulo II, essa fatia recuara para 50% – e se mantém assim desde então. Mas os cardeais de outros continentes ganharam poder, ao mesmo tempo que a balança demográfica deslocou o poder católico para fora da Europa. É na América, na Ásia e na África que se concentram o maior número de fiéis e o crescimento mais promissor da fé católica.
“É possível termos um papa mais atento aos países emergentes, como o Brasil, do que à Europa”, afirmou a ÉPOCA o vaticanista John L. Allen Jr., biógrafo e um dos principais conhecedores do papado de Bento XVI (leia a entrevista). “A Igreja precisa de um papa que tenha consciência da fé global”, disse a ÉPOCA o teólogo italiano Massimo Faggioli, da Universidade de St. Thomas, nos Estados Unidos. “Precisamos de um papa que seja católico, não necessariamente europeu.” Na Europa, o cenário é de declínio acentuado de religiosidade. Hoje, o número de católicos europeus corresponde a 36,7% da população do continente. Vinte anos antes, somavam 60%.
A figura central do conclave será o próprio Bento XVI. Oficialmente, ele não participará da escolha de seu sucessor. Na prática, dispõe de pelo menos 17 dias, entre o anúncio da renúncia e o dia em que deixará o cargo, para agir. Se escolher fazê-lo. Mesmo que não fale com os cardeais, a tradição mostra que as ideias do último papa pesam enormemente sobre os ombros dos cardeais que elegem seu sucessor. Não se espera menos de um papa ainda vivo, mesmo afastado do trono de Pedro. É razoável, diz Faggioli, supor que Bento XVI saiba, melhor que qualquer outra pessoa, com que problemas o líder da Igreja terá de lidar no futuro próximo. Por isso, faria sentido que ele abrisse espaço com sua renúncia, premeditadamente, para alguém mais adequado para este momento da Igreja – alguém com mais vigor e maior capacidade de unir e empolgar os católicos em geral. “Este papa deveria tentar juntar católicos de culturas e nações diferentes”, diz Faggioli.
Embora tenha um número reduzido de cardeais – apenas cinco com direito a voto, num total de 117 eleitores –, o Brasil está bem representado no colégio que elegerá o sucessor de Bento XVI. Dom Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo, dirige a maior arquidiocese do mundo, tem a idade considerada perfeita para este conclave (63 anos), e sua trajetória pessoal o aproxima daquilo que os vaticanistas entendem ser o perfil adequado para o momento histórico que a Igreja atravessa. Dom João Braz de Aviz, arcebispo de Brasília, tem forte presença em Roma e é outro nome frequente na lista de papáveis. Num conclave de resultado incerto, eles, assim como os demais cardeais cotados como papáveis e mesmo os outros três brasileiros que participam do conclave, podem ser escolhas improváveis – mas sempre possíveis.
>>Continue lendo esta reportagem em ÉPOCA desta semana, que traz uma reportagem especial com perfis dos brasileiros e outros nomes cotados para assumir o comando da Igreja Católica, as razões da renúncia de Bento XVI e o legado que o papa deixará.
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