Gurgel diz que “mensalão” foi maior, mas defende “foco” da denúncia
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Gurgel diz que “mensalão” foi maior, mas defende “foco” da denúncia
Em tempos de recesso no Parlamento e no Judiciário, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tem monopolizado os holofotes da cobertura política neste começo de ano. Ganhou, em dois dias, duas manchetes. A primeira, na quarta-feira 9, quando o Estado de S.Paulo cravou que ele havia decidido pedir investigação sobre as acusações de Marcos Valério, operador do chamado “mensalão”, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A notícia foi desmentida horas depois de o jornal chegar às bancas. Em nota, o próprio Ministério Público Federal afirmou que o procurador ainda não havia analisado o depoimento de Valério, condenado por corrupção e formação de quadrilha, segundo quem recursos desviados do esquema haviam sido usados para o pagamento de contas pessoais do então presidente. O depoimento foi prestado a duas procuradoras da República durante o julgamento do “mensalão” no Supremo Tribunal Federal, quando o réu já estava condenado.
Nesta quinta-feira 10, o procurador voltou ao topo do noticiário, agora na Folha de S.Paulo. Em entrevista concedida ao jornal, Gurgel afirmou que o esquema do “mensalão” foi “maior” do que a denúncia e elogiou o “foco” das investigações preservado por seu antecessor, Antonio Fernando Souza, autor da acusação. Chamam a atenção alguns detalhes da entrevista, a começar pela definição de “foco”. Para quem não se lembra, 40 pessoas foram denunciadas, entre ex-ministros, ex-deputados, ex-marqueteiros, banqueiros, empresários e até uma funcionária “mequetrefe”, na palavra de seu próprio advogado, responsável por receber e encaminhar e-mails aos verdadeiros arquitetos do esquema. Por causa do “leva-e-traz”, ela foi acusada (e depois absolvida pelo STF) pelos crimes de corrupção ativa, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
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Ainda assim, para Gurgel, “o que constou da denúncia foi o que foi possível provar, com elementos razoáveis”. “Aquilo que foi julgado representa apenas uma parte de algo muito maior”, disse.
Na mesma entrevista, Gurgel não revelou os motivos que o levam a acreditar que o esquema foi maior do que o noticiado. Quem deveria ser denunciado e não foi? Sobre o então presidente, o procurador disse ser necessária “prova mais que robusta”. “Seria uma irresponsabilidade denunciar um presidente. É muito mais difícil.”
Gurgel não viu a mesma dificuldade, no entanto, para acusar o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) sem “prova direta”, mas com “uma série de elementos de prova” que apontam para uma participação efetiva nos crimes. “Em nenhum momento nós apresentamos ele passando recibo sobre uma determinada quantia ou uma ordem escrita dele para que tal pagamento fosse feito ao partido ‘X’ com a finalidade de angariar apoio do governo. Nós apresentamos uma prova que evidenciava que ele estava, sim, no topo dessa organização criminosa”, diz o procurador, citando a teoria do domínio dos fatos, segundo a qual quem tem influência de decisão sobre os autores do crime estaria também envolvido.
Em relação ao depoimento de Valério sobre o ex-presidente, Gurgel demonstrou cautela. Para ele, o publicitário poderia ter tentado criar “elemento de prova adicional” para anular o julgamento e ampliá-lo. “Eles queriam melar o julgamento. Eu vi essa tentativa não como dele, mas como uma tentativa que favoreceria todo mundo”, disse.
Para quem, a essa altura, se questiona em que ponto as declarações do procurador-geral mudam a história do “maior julgamento de corrupção da história do País”, um alento: na entrevista, Gurgel confessa já ter cometido o crime de “falsidade ideológica” ao conceder autógrafo fingindo ser Jô Soares. “Certa vez, um garçom perguntou se eu era o Jô. Respondi que não. Ele disse: ‘Minha colega ali está absolutamente convencida que o senhor é o Jô, então gostaria de pedir que o senhor autografasse [um papel] para ela. ‘Coloca só ‘um beijão do Gordo’. Então, eu escrevi. Esse falso [falsidade ideológica] eu cometi”.
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