CEO Obama...ganha mais 4 anos



Nº EDIÇÃO: 788 | Capa | 09.NOV.12 - 21:00

CEO Obama...ganha mais 4 anos

O chefe do executivo da maior economia do mundo conquista o segundo mandato. É apenas o começo de seu maior desafio: consolidar o crescimento da máquina produtiva americana.

Por Tatiana BAUTZER, enviada especial a Orlando (EUA)
Os votos ainda estavam sendo contados em alguns Estados americanos quando a Bolsa de Nova York iniciou o pregão da quarta-feira 7. Horas depois do discurso emocionado de reeleição de Barack Obama, em Chicago, os republicanos apenas começavam a discutir as razões da derrota de Mitt Romney nas urnas, e o índice Dow Jones abriu em queda. Em poucos minutos, a bolsa já caía mais de 1%. Ao longo do dia, enquanto os comentaristas políticos analisavam nas redes de televisão o papel das minorias, principalmente mulheres e latinos, na vitória do presidente, e nas ruas seus eleitores provocavam amigos e conhecidos republicanos com o bordão “Mais Quatro Anos!”, o mercado só acentuou a queda. 
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"Queremos que nossos filhos vivam em uma América que não esteja atolada em dívidas,
que não seja enfraquecida pelas desigualdades" 
O índice terminou o dia em 12.933 pontos, em baixa de 2,36%, o pior desempenho do ano. O que aconteceu? A incerteza do day after voltou a dar as cartas no mercado após a vitória apertada de Obama no voto popular. A reeleição do presidente democrata e a manutenção de uma Câmara dos Representantes de maioria republicana trouxe de volta o pesadelo da recessão econômica nos Estados Unidos. Se não houver um acordo entre o Executivo e o Congresso, entram em vigor em janeiro, automaticamente, cortes de gastos e aumentos de impostos que podem chegar a US$ 600 bilhões. É esse o chamado “abismo fiscal”, uma cláusula colocada na renegociação do orçamento, no ano passado, que força a redução de gastos em caso de divergências. 
Se nada for feito, cada família americana pagará US$ 2 mil a mais em impostos no próximo ano. Obama, o CEO da maior economia do mundo, tem o desafio imediato de transpor esse abismo fiscal. Caso contrário, as consequências de curto prazo seriam desastrosas: uma volta do país à recessão, com encolhimento do PIB em 0,5% no ano que vem, e um salto da taxa de desemprego dos atuais 7,9% para 9,1%, índice altíssimo para uma economia com poucos sistemas de proteção social como a americana. O abismo fiscal foi tema da conversa de Obama com a presidenta Dilma Rousseff, na quinta-feira 7 à tarde. 
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os inúmeros desafios que o aguardam
Na conversa de dez minutos, Obama disse que, no momento, estava muito ocupado com a montagem do governo e do orçamento para o próximo ano, mas que os dois deveriam conversar mais em breve. O fim da campanha eleitoral descongela alguns assuntos da agenda bilateral. “Agora a relação volta a ser comercial”, diz um auxiliar da presidenta Dilma. Para o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, as relações entre os dois países tendem a se aprofundar com a vitória de Obama. “O Brasil já é um país importante para o governo americano”, disse o embaixador. Os dois países têm acordos nas áreas de energia, para produção tanto de etanol quanto desenvolvimento e exploração de petróleo, tecnologia de produção de alimentos e intercâmbio de educação e científico. 
Os americanos também têm grande interesse em aumentar a importação de petróleo do Brasil, e empresas do país devem participar ativamente da exploração da camada do pré-sal. A recondução do presidente à Casa Branca por mais quatro anos também foi bem recebida no meio empresarial brasileiro. “A reeleição de Obama é positiva para a América Latina em geral e, em particular, para o Brasil”, diz Luiz Gabriel Rico, presidente da Câmara Americana de Comércio, em São Paulo. “Toda vez que há uma integração entre dois países importantes, é inexorável um aumento dos investimentos.” Segundo Rico, a boa relação pessoal entre Obama e Dilma rende frutos: os investimentos diretos dos americanos no Brasil subiram de US$ 5 bilhões em 2007 para US$ 10 bilhões em 2011.
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e republicanos coloquem o país "à frente da política"
HABILIDADES DE CEO Embora o comércio entre Brasil e Estados Unidos tenha se recuperado depois da crise de 2009, os Estados Unidos perderam para a China, nos últimos meses, o posto de maior fornecedor do Brasil. Neste ano, no acumulado até setembro, o Brasil havia exportado US$ 20,5 bilhões e importado US$ 23,8 bilhões dos Estados Unidos. A recuperação da economia americana nos próximos quatro anos, portanto, tende a afetar diretamente os negócios no Brasil, atraindo novos contratos de comércio exterior e investimentos diretos nas duas mãos. O economista David J. Stockton, pesquisador do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, diz que a insegurança sobre o abismo fiscal está segurando investimentos externos. 
“Os investidores querem entender o que vai acontecer”, afirma. A falta de confiança do mercado só complica a dura tarefa de Obama: reativar o crescimento econômico e gerar empregos. O líder da potência que gera um PIB anual de US$ 13,5 bilhões e deve crescer 2,1% neste ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), terá que mostrar suas melhores habilidades de CEO para elevar esses números ainda mais. Nos últimos dois anos, apesar de a economia ter gerado 2,5 milhões de postos de trabalho, a taxa de desemprego vem recuando lentamente. O índice de 7,9% em outubro ainda está bem acima dos 5% de antes da crise. A continuidade da recuperação econômica é a esperança de Obama para ser lembrado como o presidente que tirou o país da pior crise desde a Grande Depressão. 
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Pacto no congresso: presidente da Câmara, o republicano John Boehner disse reconhecer
o recado das urnas e que busca equilíbrio entre os dois lados
Para isso, é fundamental que consiga acertar os ponteiros com os republicanos antes mesmo de começar o segundo mandato. O presidente não perdeu tempo: já em seu discurso da vitória, sinalizou sua disposição em negociar. “Quero trabalhar nos próximos meses com os líderes dos dois partidos para enfrentar os desafios que só podemos resolver juntos, como reduzir o déficit, reformar o sistema tributário, mudar as regras de imigração e livrar-nos do petróleo estrangeiro”, afirmou. No dia seguinte, ligou pessoalmente para o líder da bancada majoritária na Câmara dos Deputados, John Boehner, para iniciar a conversa. O parlamentar respondeu com declarações conciliatórias. 
“Estamos prontos a ser liderados, não como democratas e republicanos, mas como americanos.” Disse que o partido até aceitaria algum aumento de receita do governo, desde que haja cortes de longo prazo no déficit orçamentário. Parece fácil? O problema é que os democratas querem exatamente o contrário: insistem que quem deve pagar a conta são os mais ricos e querem acabar com a redução no imposto de renda implementada pelo ex-presidente George W. Bush, que reduziu a alíquota máxima de 39,5% para 35%. A queda de braço vai longe. Entre os analistas, há quem acredite que a tensão vai durar algumas semanas, mas no fim republicanos e democratas chegarão a um acordo para evitar um desastre, mesmo que não seja a solução definitiva. 
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“O mais provável é que os dois partidos entrem num acordo para evitar o abismo fiscal no momento e deixar o debate sobre a reforma fiscal para o próximo ano”, afirma Sean West, diretor para os Estados Unidos da consultoria Eurásia. O grande problema é que os republicanos terão uma arma poderosa nas mãos. Será preciso aumentar novamente o teto de endividamento do País, hoje em US$ 16,4 trilhões. Negar essa autorização significa forçar o governo a quase fechar, interrompendo fluxos de pagamentos cruciais para a economia. No ano passado, a ameaça de que isso acontecesse provocou o primeiro rebaixamento da nota de risco de crédito dos Estados Unidos. Alguns economistas acreditam que isso teve consequências de longo prazo, ao elevar o custo da dívida e ameaçar a recuperação econômica.
Depois de resolver esse problema mais urgente, Obama deve voltar-se para a construção de seu legado como presidente. Seu passo seguinte será implantar a reforma do sistema de saúde, o Obamacare. A nova lei já foi aprovada pelo Congresso, mas não foi implementada. Os altíssimos custos da saúde têm afetado a competitividade da economia. O programa foi uma das suas armas para a reeleição. O voluntário democrata Hoezee Evering, 51 anos, que trabalhava no dia da eleição num dos locais de votação em Orlando, diz que essa é uma das suas principais preocupações. “Tudo é muito caro, desde os remédios até os pagamentos obrigatórios para consultas médicas”, afirma Evering.
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Trabalho e saúde: em sentido horário, fábrica da GM, desempregados em Los Angeles e manifestação
de apoio à reforma do sistema de saúde, proposta por Obama
A LIÇÃO DE SANDY. Obama também terá como tarefa fundamental arrumar questões estruturais. A primeiro é a necessidade de elevar os investimentos, especialmente em infraestrutura. Como demonstrou a tempestade Sandy, que atingiu em cheio a maior cidade americana, Nova York, é preciso modernizar redes de energia construídas até a metade do século passado. Esses investimentos seriam suficientes para gerar empregos e contribuiriam para tornar a economia mais eficiente nos anos seguintes. Também é importante diversificar o uso de energia no país e desenvolver fontes alternativas locais ao petróleo importado do Oriente Médio. 
Embora Obama tenha ajudado indústrias tradicionais como a automobilística a superar a crise em 2009, o presidente aposta na geração dos empregos de maior qualificação, que pagam melhores salários e têm potencial de gerar riqueza com inovações. Difícil – mas não impossível – será realizar as transformações internas e ainda lidar com o aumento das tensões geopolíticas. Ao mesmo tempo em que pretende reduzir gastos militares no exterior, Obama enfrenta tensões maiores no Oriente Médio, com a turbulência na Síria provocando reações na vizinha Turquia. Há também um aumento das tensões com o Irã por conta da tentativa do país de construir armas nucleares. Uma semana antes da eleição, aviões iranianos atacaram um avião não tripulado dos Estados Unidos, que fazia operações de vigilância na região. Enfim, o CEO Obama tem uma vasta gama de decisões a tomar nos próximos quatro anos. O resto do mundo, Brasil inclusive, torce para que ele escolha as opções corretas.
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