31/10/2012 - 03h30 Santo forte-SERÁ STO ANTONIO?
ruy castro
31/10/2012 - 03h30
Santo forte
Mas é claro que saí. Em 16 anos de São Paulo, tive sete empregos, morei em seis endereços, um deles próprio, comi da baixa à alta gastronomia, conquistei grandes amigos e fui casado com uma paulistana. Talvez por isso, sempre que dizia que ia ao Rio, as pessoas se preocupassem: "Mas, de novo? Você não tem medo da violência, das balas perdidas? E os arrastões na praia?".
Pelo que a TV martelava, de fato era difícil explicar que, se você não se visse num fogo cruzado entre polícia e bandidos perto de algum morro na Linha Vermelha, podia andar sem susto pela cidade --o que eu fazia dia e noite. A possibilidade de levar uma bala perdida era remota. Quanto a arrastões, só houvera um grave, em 1992, e, por acaso, num momento em que as câmeras estavam a postos na praia. Um acaso que marcou a cidade por anos.
De volta ao Rio, também há 16 anos, continuo na ponte aérea, só que ao contrário --raro não ir uma ou duas vezes por mês a São Paulo, e sempre com prazer. Mas, agora, com o Rio pacificado, a apreensão dos amigos se inverteu: "Você vai a São Paulo? E a violência? Os assassinatos, as execuções, os arrastões em restaurantes? Os sequestros-relâmpago? E se você for tirar dinheiro no caixa eletrônico e eles botarem uma bomba?".
Tento explicar que, assim como a violência no Rio era localizada, não há esse medo geral em São Paulo, as pessoas continuam levando a vida. Ou então eu é que, há séculos, abuso do santo forte.
Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados na Página A2 da versão impressa.
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