Osmar Serraglio: “Temos provas do mensalão”


ENTREVISTA - 06/07/2012 19h50
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Osmar Serraglio: “Temos provas do mensalão”

O relator da CPI que investigou a compra do apoio de parlamentares ao governo Lula rebate a versão de que o esquema é uma farsa criada pela oposição

LEANDRO LOYOLA E MARCELO ROCHA
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SEM VERSÕES O deputado Osmar Serraglio no túnel que liga a Câmara a um dos edifícios anexos. Ele afirma que a CPI dos Correios reuniu provas “quase matemáticas” do mensalão (Foto: Celso Junior/ÉPOCA)
Com o plenário quase vazio, a noite da quarta-feira era atípica na Câmara Federal, quando o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) chegou sorridente e subiu à tribuna. Conhecido tanto pela calma como pela rigidez, Serraglio fez um discurso duro, a pouco mais de um mês do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Relator da CPI dos Correios, que investigou a compra de apoio de parlamentares ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Serraglio defendeu a investigação da comissão. Atacou de forma veemente os que propalam a tese de que o mensalão foi apenas um episódio de caixa dois de campanha eleitoral. Nesta entrevista a ÉPOCA, Serraglio expõe o que considera as provas da existência do esquema e revela bastidores da investigação.
ÉPOCA – Por que o senhor diz que se aborrece quando alguém usa a expressão “farsa do mensalão”?
Osmar Serraglio –
 Porque não é a mim apenas que se desacredita, mas a um trabalho do Congresso. Eram 16 senadores e 16 deputados titulares, mais 32 suplentes. Todo esse exército trabalhou, colaborou, vigiou o trabalho da CPI. O Congresso já tem dificuldades para se firmar e, quando faz um trabalho denso, aprofundado, se diz que não houve nada do que se levantou?
ÉPOCA – A CPI dos Correios obteve provas do mensalão?
Serraglio – 
Quase que matemáticas. Tenho convicção absoluta. Tivemos peças que eram intestinas desse emaranhado. Marcos Valério e Roberto Jefferson: tudo o que eles falaram restou comprovado. Roberto Jefferson era o líder de um partido. Frequentava o poder, acompanhava, e ele mesmo fala que alertou – para os fatos que estavam acontecendo – o (então) presidente (Luiz Inácio Lula da Silva). Hoje procura se desacreditar Roberto Jefferson porque ele foi cassado.
ÉPOCA – Dizem que Roberto Jefferson foi cassado porque mentiu ao inventar a existência do mensalão. É verdade?
Serraglio –
 Isso é uma falácia. Ele foi cassado porque integrou o mensalão. Ele recebeu R$ 4 milhões.
ÉPOCA – O senhor acha que sua compreensão da CPI tem repercussão na sociedade e no Judiciário?
Serraglio –
 A sociedade se convenceu por si. É esse convencimento que, imagino, dificulta a invenção de novas versões que seriam convincentes. Você pega a defesa do (ex-ministro) José Dirceu. Quem vê o que ele fala, (parece que) ele recebia as pessoas sem saber quem eram. Como se qualquer pessoa botasse lá na agenda, e o ministro recebesse! Abre a porta e vem quem vem! Achar que alguém vai se convencer disso fica meio difícil.
ÉPOCA – O então ministro José Dirceu o procurou durante a CPI?
Serraglio –
 Não posso dizer que ele tenha pedido. Mas o filho dele (o hoje deputado federal Zeca Dirceu) era prefeito da cidade vizinha à minha. Um dia, recebi um telefonema de que o ex-ministro José Dirceu estava na cidade – isso foi muito próximo da entrega do relatório final – e queria falar comigo. Eu não fui.
ÉPOCA – Era para ser um encontro privado?
Serraglio –
 Era para ser um encontro privado em Cruzeiro do Oeste. Recebi este telefonema: “Olha, o ministro está lá, queria conversar...”. Não tivemos esse encontro. Aleguei alguma coisa, que não poderia. Imagina o relator da CPI se encontrando com um dos principais investigados?
ÉPOCA – Outros investigados tentaram falar com o senhor?
Serraglio –
 (O deputado) João Paulo (Cunha) levou documentos de Osasco. Ele entregou notas (fiscais) de pesquisa, coisa assim. As notas se autodenunciavam. A nota número um era do dia 1º (de um mês), e a número dois era do dia 30 (do mês) anterior. Havia inversão de datas, números.
"Por que Marcos Valério estava em São Paulo arrumando emprego para a ex-esposa do (então ministro) José Dirceu?"
ÉPOCA – O que o senhor acha de o ex-presidente Lula se pronunciar em relação ao mensalão?
Serraglio –
 Fico entristecido. Independentemente de ser ou não ser convencido, ele é ex-presidente da República, com apreço popular elevado, deveria se preservar. Nunca ninguém buscou evidenciar que ele (Lula) estivesse (envolvido com o mensalão). Eu não poderia responsabilizar. Como no caso de José Dirceu. Não é porque ele era ministro que, necessariamente, seria sabedor das coisas. No discurso que fiz, há muitas coisas que indicam que ele sabia. É o caso da ex-mulher dele (Ângela Saragoça).
ÉPOCA – O caso da compra do apartamento?
Serraglio –
 Do apartamento e do emprego (um sócio de Marcos Valério, Rogério Tolentino, comprou o apartamento de Ângela em São Paulo. Valério conseguiu para ela um emprego no banco BMG, outra fonte de “empréstimos” do PT para o mensalão). Por que Marcos Valério estava em São Paulo, arrumando emprego para a ex-esposa de José Dirceu? O emprego foi Marcos Valério (que arrumou), e o apartamento foi o sócio de Marcos Valério. (O ex-ministro José Dirceu) nunca soube de nada... É muito fácil, né?
ÉPOCA – A versão do governo na ocasião diz que o mensalão era um esquema de caixa dois eleitoral. O que o senhor acha?
Serraglio –
 Em meu relatório, falo que alguma parcela pode até ter sido caixa dois. Mas não dá para dizer que tudo seja caixa dois, porque a eleição foi em 2002, e esses pagamentos foram em 2003 e 2004.
ÉPOCA – Foi usado dinheiro público para pagar o mensalão?
Serraglio –
 Sim. Bem claramente, o dinheiro da Visanet (empresa de economia mista da qual o Banco do Brasil é um dos sócios). Quando era campanha da Visanet, o Banco do Brasil fazia sem plano de mídia. Absolutamente descontrolado. Lembro que tinha R$ 75 milhões em cheques, tinha um cheque de R$ 35 milhões. Depois, a auditoria interna do Banco do Brasil confirmou o absurdo. O Banco do Brasil fazia as campanhas em nome da Visanet (a agência encarregada das campanhas era a DNA, de Marcos Valério. Segundo a CPI, parte do dinheiro pago à DNA era repassada aos mensaleiros). Banco do Brasil: dinheiro público.
ÉPOCA – O PT diz que o dinheiro do mensalão veio de empréstimos tomados nos bancos BMG e Rural. Um ex-diretor do Rural disse a ÉPOCA que os empréstimos eram simulados. Os empréstimos existiram?
Serraglio – 
Não. E esse pagamento é uma simulação (recentemente o PT declarou ter pago os empréstimos). De repente, arrumaram R$ 50 milhões para pagar esses empréstimos. Agora? O que ficou provado: o dinheiro era posto lá no banco, e o banco simulava que estava emprestando. O empréstimo existia para esquentar um dinheiro que estava sendo subtraído da Visanet. A gente fez o elo.
ÉPOCA – O senhor diz que a CPI enfrentou escaramuças. Quais?
Serraglio –
 Um dos momentos mais dramáticos (ocorreu quando) nós tínhamos de entregar as informações para a CPI do Mensalão. Falei que iríamos concluir nosso relatório parcial. Havia um servidor do Senado que funcionava como uma espécie de ghost-writer: ia juntando tudo para eu apresentar. Eu tinha de apresentar o relatório parcial na terça seguinte. Na quinta-feira anterior, fui comunicado de que esse servidor não viria mais porque estava indo para o exterior. Ele me deixou na mão.
ÉPOCA – Oficialmente, 18 parlamentares estavam envolvidos no mensalão. Havia mais envolvidos?
Serraglio –
 Ficou em aberto o dinheiro que Roberto Jefferson recebeu (R$ 4 milhões). Para onde foi o dinheiro? Se Roberto Jefferson tivesse aberto a Caixa de Pandora, teríamos a identificação de mais gente. 

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