Se eu fosse Mark Zuckerberg, compraria a Blackberry', afirma analista que prevê morte do Facebook

Entrevista: Eric Jackson

'Se eu fosse Mark Zuckerberg, compraria a Blackberry', afirma analista que prevê morte do Facebook

Americano diz que rede tem dificuldade para incorporar tecnologia móvel

Rafael Sbarai
Facebook no iPad Mais da metade dos usuários da rede social usa o serviço a partir de celulares e tablets (Jason Alden/Bloomberg via Getty Images)
O americano Eric Jackson, analista do mercado de tecnologia, fez barulho há pouco mais de uma semana ao publicar artigo na revista Forbes em que profetizou a morte do Facebook. A história, é claro, chamou a atenção do mundo digital porque a rede social é uma das estrelas desse mercado. Basta lembrar que, há exatamente um mês, atraiu a cifra de 16 bilhões de dólares na sua chegada à bolsa. "O Facebook desaparecerá até 2020", vaticinou Jackson. Em entrevista a VEJA.com, o doutor em gestão de negócios pela Universidade de Columbia afirma que a rede social, assim como o Google, ignora o mundo móvel, para onde migram, em alta velocidade, milhões de usuários do serviço. Nesse ponto, ele não exagera: mais da metade dos cadastrados acessa a rede a partir de celulares ou tablets. "O DNA do Facebook não traz know-how para operar na era da internet móvel, mas em uma fase anterior, a da web social", argumenta. Na entrevista a seguir, Jackson detalha sua teoria e ousa dar uma dica para Mark Zuckerberg, CEO e criador da rede social. "Se eu fosse Zuckerberg, compraria a RIM (Research In Motion, fabricante dos smartphones da linha BlackBerry)."
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Eric Jackson, analista financeiro americano
Por que o senhor acredita que o Facebook desaparecerá tão rapidamente? O DNA que garante o sucesso de uma empresa em uma determinada área atrapalha sua adaptação a um cenário novo. O DNA do Facebook não traz know-how para operar na era da internet móvel, mas em uma fase anterior, a da web social. Caso não mude, o serviço pode ter o mesmo fim de Yahoo! e MySpace, que hoje são irrelevantes. A recente criação da Timeline (recurso que apresenta atividades do usuário em forma de linha do tempo) talvez seja o maior exemplo de como o Facebook dá prioridade aos computadores.
Por que é tão difícil para a rede operar na era móvel? Hoje, podemos ver que a internet é constituída por três ondas de empreendimentos digitais. A primeira engloba companhias criadas entre 1994 e 2001, que buscavam agregar conteúdos: é o caso do Google e AOL. A segunda é das redes sociais, como LinkedIn, MySpace e Facebook. A última, iniciada em 2010, se dedica exclusivamente ao mundo móvel, são negócios concebidos para funcionar onde o usuário está. É o caso do Instagram (ferramenta de edição e compartilhamento de fotos), do Foursquare (serviço baseado em geolocalização) e do Social Cam (espécie de Instagram de vídeos). O Facebook, por exemplo, não alcançou essa terceira geração.
E o futuro do Google? Também sofre sérios riscos. A busca por informações é uma abordagem comum feita em desktops e, até o momento, não vi nenhuma inovação da empresa no sentido de construir uma experiência melhor de pesquisa na área móvel. Acredito que o Siri (assistente pessoal da Apple) possa tomar terreno do Google, uma vez que já está adaptado a prestar serviços, como indicar preços e a qualidade de restaurantes. Talvez o futuro da companhia seja desenvolver carros sem motorista ou até mesmo o Google Glass, óculos de realidade aumentada.
E o Twitter, é uma 'empresa móvel'? Sim, é uma empresa genuinamente móvel. As pessoas esquecem que o microblog foi criado para promover a troca de mensagens de texto em ambientes corporativos. O modelo era o SMS, o torpedo de celulares. Logo, a mobilidade está em seu DNA. Por mais que eu considere seu serviço na web ruim, o microblog tem total condição de brigar com o Facebook nas plataformas móveis.
Na sua opinião, que caminho o Facebook deveria trilhar? Há quase dois anos, Mark Zuckerberg comentou a possibilidade de criar seu próprio celular, mas garantiu que seu objetivo era apenas desenvolver serviços para todas as plataformas móveis. Questionado se o iPad entraria neste pacote, ele foi direto: "Desculpe, o iPad não é um dispositivo móvel. É um computador." Na época, ele não se importou com a plataforma, tanto que lançou de maneira tardia seu aplicativo para o dispositivo. Ele é um gênio, criou algo incrivelmente fantástico, mas não conseguiu acompanhar as tendências digitais. Esse atraso também já aconteceu com o Google. Quando descobriu a importância da questão social na internet, já tinha visto o crescimento de um gigante, o próprio Facebook. Por isso que considero que o Google+ não terá êxito. Dificilmente a rede social do Google chegará ao nível do Facebook.
Se você fosse Mark Zuckerberg, o que faria? Eu compraria a RIM (Research In Motion, fabricante dos smartphones da linha BlackBerry), uma empresa com vasto conhecimento na produção de smartphones, além de inteligência na construção de serviços em plataformas móveis. A corporação não passa por seus melhores dias e poderia ser um investimento barato e vantajoso.
Qual é o próximo Facebook do mundo digital? Eu não acredito que o próximo Facebook seja parecido com a rede social, assim como a empresa não tinha nenhuma semelhança com Yahoo! ou Google quando foi concebida nos muros acadêmicos da Universidade Harvard. O próximo grande projeto de tecnologia atenderá um público específico – assim como fez o Instagram – e sua popularidade vai explodir como o uso do Twitter.

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