Lula, Maluf, Erundina e a campanha do PT em São Paulo
Lula, Maluf, Erundina e a campanha do PT em São Paulo
21/6/2012 23:24, Por Hamilton Octavio de Souza - de São Paulo
Os acontecimentos dos últimos dias sacudiram a modorrenta pré-campanha eleitoral deSão Paulo, a mais cobiçada metrópole brasileira. Primeiro, porque, impelidos pelo calendário, os postulantes e seus partidos acirraram os assédios e as negociatas, que envolvem, desde já, a distribuição de cargos em governos estaduais e no federal, e também intervenções nos processos eleitorais de inúmeras cidades pelo país afora, até mesmo em capitais de porte como Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre e Fortaleza.
Em segundo lugar, porque, no afogadilho das composições, na somatória do horário eleitoral, na viabilização financeira das campanhas, antes mesmo de qualquer proposta ou programa de gestão, algumas lideranças políticas deram um show variado que foi do fisiologismo explícito – tão ao gosto da modernidade – até a rara demonstração de dignidade, quando os limites do troca-troca bateram na negação da história e na aberração da decência.
O episódio que envolveu Lula, Maluf, Erundina e o candidato Fernando Haddad foi apenas o clímax de uma novela que se arrasta no submundo das barganhas. Foi a seqüência de fatos que ganhou amplo destaque na mídia, bem ao gosto do bizarro e do exótico, de um lado, e altamente pedagógico, do outro.
Antes disso, em nome das disputas para a Prefeitura de São Paulo o vale tudo já ganhara uma dimensão nacional, quando candidatos em outras capitais foram simplesmente varridos do mapa para que os acordos de cúpula pudessem garantir prioridade a São Paulo. Com o pensamento fixo em tal objetivo, nem se preocuparam em saber se os eleitores de outras metrópoles não foram privados em seus direitos democráticos na escolha de seus candidatos.
O PT de Haddad marcou um belo tento quando anunciou a candidata à vice Luiza Erundina, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), pessoa séria e respeitadíssima nos bairros populares e nos movimentos sociais. Mas nem bem teve tempo para comemorar o ganho político, pois dias depois anunciou nova composição com o Partido Progressista (PP), de Paulo Maluf. Na bacia das almas, o esquema malufista resistiu ao assédio do tucanato Serra-Alckmin (PSDB), que oferecia cargos no governo paulista, e bateu o martelo pela aliança com o PT, em troca de assento no governo federal.
Tudo isso teria sido assimilado pela sociedade (leia-se lideranças políticas, partidos, militância etc) como sendo algo “normal” no quadro político brasileiro, se a deputada federal Luiza Erundina não tivesse imediatamente chutado o balde – em alto e bom som. Ao cair fora da chapa para a Prefeitura de São Paulo, Erundina direcionou todos os holofotes sobre o nível ético do comportamento de algumas lideranças importantes, que, desprovidas de propostas e programas, insistem em “normalizar” o vale-tudo no jogo político.
No caso, o abraço de Lula e do PT encontraram pela frente não apenas o grande expoente da corrupção no Brasil, aquele que coleciona processos judiciais desde 1970, que é procurado internacionalmente pela Interpol, mas, também, a figura leal e atuante no regime dos militares, quando foi prefeito de São Paulo, secretário estadual e governador. Abraçar Maluf e o PP não tem só o simbolismo de uma fotografia, ou de um vídeo, tem também o sentido mais profundo de confraternizar com o que sobrou de mais maléfico da Arena, do PDS e da própria Ditadura Militar.
No caso, o abraço de Lula e do PT encontraram pela frente não apenas o grande expoente da corrupção no Brasil, aquele que coleciona processos judiciais desde 1970, que é procurado internacionalmente pela Interpol, mas, também, a figura leal e atuante no regime dos militares, quando foi prefeito de São Paulo, secretário estadual e governador. Abraçar Maluf e o PP não tem só o simbolismo de uma fotografia, ou de um vídeo, tem também o sentido mais profundo de confraternizar com o que sobrou de mais maléfico da Arena, do PDS e da própria Ditadura Militar.
Luiza Erundina foi aplaudida quando aceitou fazer parte da chapa de Haddad, e foi mais aplaudida quando saiu da chapa – depois que Lula e o PT optaram por Maluf.
Uma lição de dignidade tem sempre valor por realimentar a esperança.
Hamilton Octavio de Souza é jornalista.
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