Fiel lembra que acusado de matar menino confessou anos após crime
Fiel lembra que acusado de matar menino confessou anos após crime
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MICHAEL WILSON
KIA GREGORY
NATE SCHWEBER
DO "NEW YORK TIMES"
KIA GREGORY
NATE SCHWEBER
DO "NEW YORK TIMES"
O grupo de orações se reunia regularmente na igreja católica romana St. Anthony of Padua, em Camden, Nova Jersey, em cujo interior eram feitas "confissões" espontâneas e emocionadas.
Esses encontros tiveram lugar no início dos anos 1980, durante um período de alta do cristianismo carismático, que incentivava os muitos participantes a sentir a presença do Espírito Santo e descarregar o peso da culpa de seus pecados.
Nesse ambiente carregado de fé e apoio de outros crentes entrou Pedro Hernandez, que disse ao grupo de oração que tinha estrangulado um menino e deixado seu corpo numa caçamba de lixo. A afirmação é de Norma Hernandez, sua irmã, e Tomas Rivera, líder do grupo de oração que afirmou ter estado presente.
Falando no domingo em sua casa em Blackwood, Nova Jersey, Rivera falou que não cabia a ele chamar a polícia, porque Hernandez não confessou apenas a ele, individualmente. "Ele confessou para o grupo."
A história do grupo de oração pode ser crucial para reforçar os argumentos legais contra Hernandez com relação ao desaparecimento de Etan Patz, de 6 anos, em Manhattan em 1979.
Na semana passada, segundo as autoridades, Hernandez, 51 anos, foi preso porque confessou ter matado o garoto no porão da bodega do SoHo onde trabalhava, perto da casa de Etan. O garoto tinha ido desacompanhado até o ponto de ônibus pela primeira vez. Hernandez disse à polícia que colocou o corpo num saco e numa caixa, que deixou na rua.
Rivera, 76 anos, admitiu que investigadores da polícia de Nova York foram interrogá-lo na semana passada. "Os detetives me disseram para não falar nada", explicou. "Tenho que ficar de boca calada". Ele fez um gesto de quem fecha a boca com um zíper.
FALTA DE PROVAS
Num caso como o de Etan, em que não existem provas físicas que vinculem o suspeito ao crime, qualquer afirmação feita por Hernandez no passado ligada ao desaparecimento e morte do menino pode ser crucial para corroborar sua confissão.
Não há restos mortais, DNA, impressões digitais ou outras provas forenses, apenas a confissão de um homem que estaria tomando medicamentos psiquiátricos e já foi diagnosticado como esquizofrênico e sofredor de transtorno bipolar.
Hernandez alegou inocência e está sob observação no Bellevue Hospital Center em Manhattan. A polícia chegou a ele após uma informação de uma ou mais pessoas que descreveram declarações que ele teria dado no passado. Não está claro se alguma dessas denúncias veio de integrantes do grupo de orações.
O que está claro é que, se ele admitiu à igreja ter cometido o crime, isso pode ser crítico para a investigação, devido ao momento em que a confissão teria sido feita. Supostamente, foi feita poucos anos após o desaparecimento de Etan, quando Hernandez tinha pouco mais de 20 anos.
Se ficar comprovado que ele admitiu o crime na época, isso reduzirá o ceticismo suscitado por sua confissão mais recente, que pode ser prejudicada pelo tempo e por seu histórico médico.
Em vista disso, os detetives rapidamente estenderam a investigação para fora do SoHo, tentando localizar pessoas a quem Hernandez poderia ter falado sobre um crime no passado.
Um policial familiarizado com a investigação disse que os detetives já falaram com a ex-esposa de Hernandez; um segundo policial contou que na sexta-feira os detetives foram a uma residência na North 25th Street, em Camden, onde vive Norma, a irmã de Hernandez. A polícia já foi vista também entrando no porão da antiga bodega, hoje uma ótica, no SoHo. Quando à investigação sobre o grupo de oração, a polícia não revelou nada do que descobriu.
CONFESSIONÁRIO
O encontro cristão carismático em Camden do qual Hernandez participou 30 anos atrás foi descrito como sendo um espaço livre para confissões de culpa, às vezes chocantes.
O filho de Tomas Rivera é David Rivera, padre católico de uma paróquia próxima. Ele comentou que confissões públicas, incluindo algumas muito perturbadoras, são comuns em grupos carismáticos e que os integrantes desses grupos se acostumam a ouvi-las, chegando a ficar indiferentes.
As pessoas "sentem o espírito presente e confessam", ele disse. "Se ele [Hernandez] confessou no grupo carismático, até 50 pessoas podem ter ouvido."
Nascido e criado em Nova Jersey, Hernandez se mudou para Nova York na adolescência e foi trabalhar na bodega. Deixou Nova York pouco após o desaparecimento de Etan, indo viver em Camden.
Sua irmã Norma disse que hoje, olhando em retrospectiva, percebe que o comportamento dele foi incomum. "Ele não era mais o mesmo", ela explicou. "Estava sempre nervoso, sempre correndo para o banheiro --como alguém que fica nervoso e fica com dor de barriga."
Pedro e Norma Hernandez faziam parte de uma família de 12 irmãos. Norma conseguiu trabalho para Pedro numa confecção, passando tecidos com ferro quente. De acordo com o padre David Rivera, um cunhado deles, José Lopez, era membro ativo da igreja St. Anthony of Padua.
Não está claro exatamente quando Hernandez começou a frequentar a igreja, mas nessa época Tomas Rivera às vezes comandava os círculos de oração, revelou o padre atual, William J. Weiksnar.
Norma Hernandez disse que seu irmão nunca confessou na presença dela e que eles nunca falaram sobre o caso, mas o fato de ele ter confessado na igreja era visto como um segredo aberto da família.
Norma não disse que Pedro identificou o garoto que teria matado. Disse acreditar que Pedro foi ao grupo de oração na companhia de uma irmã deles, Margarita, do marido dela, José Lopez, de Rivera e outros e que fez sua declaração pouco após o término da reunião. Ela não revelou quem estava presente na época, além de Rivera.
Indagado na sexta-feira se tinha transmitido a confissão à polícia, José Lopez respondeu: "Isso não tem importância. Já foi feito. Não importa quem o fez, eu não disse nada. Minha mulher está sofrendo muito com isto, e eu não quero dar mais declarações. Não vou dizer nada."
'COISA MÁ'
O comissário da polícia de Nova York Raymond W. Kelly falou a jornalistas na semana passada que os investigadores acreditam que Hernandez tenha dito a um membro de sua família e a outras pessoas que "fez uma coisa má e matou uma criança". Não está claro se essa declaração seria a mesma descrita por Norma Hernandez.
De acordo com Norma, a confissão foi tratada como fofoca de família. Mas voltou a ser discutida pelos irmãos no mês passado, diante das escavações no SoHo para procurar os restos mortais de Etan.
As escavações geraram pistas transmitidas à polícia, disse Kelly, e parecem ter chamado a atenção de Pedro Hernandez. O jornal "Star-Ledger", de Newark, Nova Jersey, divulgou na semana passada que Pedro Hernandez telefonou a outra irmã, Luz, em Nova York, apesar de não ter contato muito estreito com ela normalmente, para falar sobre o caso de Etan Patz.
Muitos fiéis que foram à igreja St. Anthony of Padua no fim de semana disseram que não conheciam nem Pedro Hernandez nem Tomas Rivera, que, segundo o padre Weiksnar, já deixou a igreja há muito tempo.
Outra irmã dos Hernandez, Maria Lopez, perguntada sobre o assunto no domingo, se negou a dar declarações, mas pediu "orem por nós, orem por nós".
Com reportagem de AL BAKER, ALISON LEIGH COWAN e JOSEPH GOLDSTEIN
Tradução de CLARA ALLAIN
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