O desejo implícito nas doações políticas: a deusa Têmis, apesar de está com olhos vendados, começa a enxergar além do óbvio

29/03/2012 14h31

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Têmis, a deusa da justiça

A política assistencialista e a do “bom samaritano” sempre foram praticadas em nações pobres culturalmente, países subdesenvolvidos e nos conhecidos países em desenvolvimento, como no Brasil, onde a ignorância da população alimenta a perpetuação no poder dos que utilizam o “seu bom coração” em troca de votos.

É bem mais fácil alimentar o povo com migalhas do que torná-los independentes e livres. É mais cômodo mantê-los oprimidos na ânsia de receber essas migalhas do que possibilita-los o alimento cultural que produz todos os outros necessários à vivencia, e não à sobrevivência.

Gerônimo Cardoso

Nesta semana o Tribunal Regional Eleitoral condenou o vereador de Araguaína Gerônimo Cardoso por distribuiçãogratuita de grande quantidade de costela bovina e chambari nos bairros pobres e na cidade de Araguanã, visando a obtenção de votos na eleição 2010 quando concorria para deputado estadual. Todas as ações ainda eram transmitidas em seu programa de TV. “O Homem do Chambari”, como ficou conhecido, gastou aproximadamente R$ 318.400,00, segundo a Procuradoria Eleitoral, que afirmou ainda ser um verdadeiro “estratagema visando angariar votos nas eleições”.

Neste caso, o TRE acatou o pedido da Procuradoria e decretou a inelegibilidade do vereador por três anos subsequentes à eleição, neste caso, até 3 de outubro de 2013.

Marcelo Miranda

Outras doações também fazem parte desse cardápio, não apenas alimentício. O ex-governador Marcelo Miranda foi cassado pela acusação de ter “doado mais de 5 mil lotes e 81 mil óculos em ano eleitoral, e crido mais de 35 mil cargos comissionados com finalidade eleitoreira”. A expressividade na doação foi ironizada pelo ministro  Ayres Brito como “óculos a perder de vista”.

Valderez a Lázaro Botelho 

A ex-prefeita Valderez e seu esposo, deputado Lázaro Botelho, também foram condenados pelas práticas e multados por captação ilícita de votos durante as eleições de 2000. No ano passado, o TRE manteve a condenação por compra de votos.

Na sentença, o juízo da 1ª Zona Eleitoral concluiu que foi demonstrado o uso indevido, desvio e abuso de poder político, econômico e de autoridade em detrimento da liberdade de votos. Durante o processo, foi apurado que Lázaro Botelho, à frente da representação da Grande Loja Maçônica do Estado do Tocantins, celebrou convênio com a Secretaria de Estado do Trabalho e Assistência Social, utilizando recursos para distribuir entre os eleitores litros de leite, cestas básicas e materiais de construção, vinculando o ato à promessa de voto em favor da então candidata Valderez Castelo Branco.

Também foram obtidas provas de que durante aquela eleição foram fornecidas requisições a diversos eleitores de Araguaína para que abastecessem gratuitamente seus veículos.

Ainda em 2011, o Ministério Público Estadual ajuizou Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa contra a ex-prefeita por ter doado áreas públicas a particulares, inclusive um local de 9,2 mil m2 destinado à construção de praça. Toda doação ocorreu no apagar das luzes de 2008, final do mandato da ex-prefeita.

De acordo com a ação, houve dirigismo na doação das áreas. Os lotes beneficiaram servidores públicos, enfermeiros, farmacêuticos, filho de vereadora e, em alguns casos, a vários membros de uma mesma família. Todos foram agraciados com a mais absoluta falta de critério.

Siqueira Campos

A gestão do atual governo está sendo pautada em ações meramente assistencialistas quem não resolvem minimamente os problemas da má distribuição de renda. São cestas básicas – “Tocantins sem miséria”, “Programa mais oportunidade”, etc. onde o povo se esmera por migalhas.

Enquanto isso, a expansão do ensino público de qualidade fica a desejar. O atual governo implanta escolas de tempo integral ao invés de “educação em tempo integral”. Assim, pratica uma verdadeira enrolação enquanto a população continua madrugando nas filas do assistencialismo. Apenas os investimentos em cultura e educação poderão reverter o drástico quadro social impregnado em nossa sociedade.

A expansão do ensino público superior é uma vergonha em nosso estado frente à quase inexistente Unitins e aos poucos campi da UFT. Ressalta-se que Araguaína, como a segunda maior cidade, não tem sequer o privilégio de uma universidade pública estadual.

Portanto, enquanto a ignorância for alimentada com o descaso e a corrupção pública, pessoas que fingem serem “bons samaritanos” estarão na verdade aproveitando da fome e da miserabilidade cultural dos menos favorecidos.

Felizmente, a deusa da justiça Têmis está começando a enxergar um pouco além da venda que obstrui sua visão.