A bebê planejada para curar
A bebê planejada para curar
A pequena Maria Clara é a primeira criança do País a ser submetida ao mais rigoroso processo de seleção genética disponível. A esperança é de que ela salve a irmã, Maria Vitória
Cilene Pereira e Mônica TarantinoEM FAMÍLIA
Maria Clara nos braços de Maria Vitória: solidariedade dos genes
A menina Maria Clara tem apenas uma semana de vida, mas seu nome já está registrado na história da medicina brasileira. A bebê é a primeira do País a passar pelo mais sofisticado processo de seleção genética cujo objetivo é ajudar a salvar a vida da irmã, Maria Vitória, 5 anos. Sua história, antes mesmo de ela ter sido gerada – e a de toda a sua família –, foi contada em reportagem de ISTOÉ publicada na edição 2124, de 23 de julho de 2010.
Na época, os pais, Jênyce e Eduardo Cunha, estavam começando sua luta pela cura da filha Maria Vitória. Ela é portadora de talassemia, doença causada por um defeito genético que provoca malformação na hemoglobina, a célula sanguínea responsável pelo transporte do oxigênio. A enfermidade causa anemia, branda ou severa (caso de Maria Vitória). Por isso, a menina submete-se a transfusões de sangue frequentes. A única opção de cura é o transplante de células-tronco, capazes de repovoar a medula óssea, onde as células do sangue são fabricadas. Implantadas na medula óssea do paciente, fazem com que essa “fábrica” passe a produzir células sadias.
Para que isso aconteça, porém, dois requisitos são fundamentais: as células-tronco não podem conter o mesmo defeito genético que provoca a doença a ser tratada e também devem ser compatíveis com o indivíduo que as receberá. Normalmente, elas são extraídas da medula óssea de doadores ou procuradas em bancos de cordão umbilical, duas fontes ricas nessas estruturas.
O grande problema é encontrar doadores compatíveis. E é exatamente nesse ponto que a história de Maria Clara é inovadora. Desde a década de l990, tornou-se conhecida a opção de casais terem filhos para salvar outros, doentes. A esperança é de que as células-tronco extraídas desses bebês sirvam para o tratamento dos irmãos.
A família das duas meninas decidiu diminuir ao máximo esse risco. Jênyce e Eduardo submeteram-se à fertilização in vitro (procedimento que faz a união do óvulo e do espermatozoide em laboratório). Dessa forma, é possível aos médicos avaliar o conteúdo genético de cada embrião produzido. Até hoje no Brasil, no entanto, a análise limitava-se à busca de embriões que não tivessem o defeito no DNA responsável pela enfermidade a ser curada. No caso dos embriões de Jênyce e Eduardo, pela primeira vez no País foi feita também a análise de compatibilidade.
Na época, os pais, Jênyce e Eduardo Cunha, estavam começando sua luta pela cura da filha Maria Vitória. Ela é portadora de talassemia, doença causada por um defeito genético que provoca malformação na hemoglobina, a célula sanguínea responsável pelo transporte do oxigênio. A enfermidade causa anemia, branda ou severa (caso de Maria Vitória). Por isso, a menina submete-se a transfusões de sangue frequentes. A única opção de cura é o transplante de células-tronco, capazes de repovoar a medula óssea, onde as células do sangue são fabricadas. Implantadas na medula óssea do paciente, fazem com que essa “fábrica” passe a produzir células sadias.
Para que isso aconteça, porém, dois requisitos são fundamentais: as células-tronco não podem conter o mesmo defeito genético que provoca a doença a ser tratada e também devem ser compatíveis com o indivíduo que as receberá. Normalmente, elas são extraídas da medula óssea de doadores ou procuradas em bancos de cordão umbilical, duas fontes ricas nessas estruturas.
O grande problema é encontrar doadores compatíveis. E é exatamente nesse ponto que a história de Maria Clara é inovadora. Desde a década de l990, tornou-se conhecida a opção de casais terem filhos para salvar outros, doentes. A esperança é de que as células-tronco extraídas desses bebês sirvam para o tratamento dos irmãos.
A família das duas meninas decidiu diminuir ao máximo esse risco. Jênyce e Eduardo submeteram-se à fertilização in vitro (procedimento que faz a união do óvulo e do espermatozoide em laboratório). Dessa forma, é possível aos médicos avaliar o conteúdo genético de cada embrião produzido. Até hoje no Brasil, no entanto, a análise limitava-se à busca de embriões que não tivessem o defeito no DNA responsável pela enfermidade a ser curada. No caso dos embriões de Jênyce e Eduardo, pela primeira vez no País foi feita também a análise de compatibilidade.
FINAL FELIZ
Em julho de 2010, ISTOÉ anunciou o início da luta da família Cunha
para salvar Maria Vitória. A bebê Maria Clara trouxe agora essa esperança
Trata-se de um trabalho minucioso. Foi retirada uma célula de cada um dos dez embriões produzidos pelo casal. No DNA dessas células, foram analisadas 11 regiões: duas associadas ao gene envolvido na doença e nove vinculadas à compatibilidade. Os médicos encontraram apenas dois embriões possíveis de ser implantados no útero da mãe. O primeiro não tinha o gene com defeito e era 100% compatível. O segundo também era compatível, mas apresentava marcas genéticas que podem levar a criança a ter uma anemia branda. Mas nada que a inabilite como doadora de célula-tronco para a irmã.
Nesse caso, o que vai acontecer é que tanto a nova criança quanto a irmã, Maria Vitória, teriam a forma mais leve da doença cujo tratamento não necessita de transfusões de sangue. Os médicos saberiam qual dos dois embriões foi o único a se desenvolver apenas no fim da semana passada.
Até hoje, foram realizados cerca de 500 procedimentos desse gênero em todo o mundo. “O caso de Maria Clara é uma grande vitória”, afirma o geneticista Ciro Martinhago, diretor da RDO Diagnósticos, de São Paulo, e realizador da análise genética dos embriões. De fato, somente 20% dos casos terminam no nascimento de bebês saudáveis e com potencial de serem doadores.
Depois do parto de Maria Clara, ocorrido no sábado 11, em São Paulo, foram coletadas e congeladas 950 mil células-tronco para ser usadas no transplante para a irmã, Maria Vitória. O procedimento deve ocorrer nos próximos meses. Se demorar muito, pode ser que os médicos precisem tirar mais algumas células-tronco, desta vez, da medula óssea de Maria Clara. “As chances de sucesso do tratamento para Maria Vitória são de até 95%”, diz o hematologista Vanderson Rocha, do Hospital Sírio-Libanês e chefe do setor de transplante de medula óssea do Instituto da Criança, em São Paulo.
Nesse caso, o que vai acontecer é que tanto a nova criança quanto a irmã, Maria Vitória, teriam a forma mais leve da doença cujo tratamento não necessita de transfusões de sangue. Os médicos saberiam qual dos dois embriões foi o único a se desenvolver apenas no fim da semana passada.
Até hoje, foram realizados cerca de 500 procedimentos desse gênero em todo o mundo. “O caso de Maria Clara é uma grande vitória”, afirma o geneticista Ciro Martinhago, diretor da RDO Diagnósticos, de São Paulo, e realizador da análise genética dos embriões. De fato, somente 20% dos casos terminam no nascimento de bebês saudáveis e com potencial de serem doadores.
Depois do parto de Maria Clara, ocorrido no sábado 11, em São Paulo, foram coletadas e congeladas 950 mil células-tronco para ser usadas no transplante para a irmã, Maria Vitória. O procedimento deve ocorrer nos próximos meses. Se demorar muito, pode ser que os médicos precisem tirar mais algumas células-tronco, desta vez, da medula óssea de Maria Clara. “As chances de sucesso do tratamento para Maria Vitória são de até 95%”, diz o hematologista Vanderson Rocha, do Hospital Sírio-Libanês e chefe do setor de transplante de medula óssea do Instituto da Criança, em São Paulo.
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