"É impossível prever a reação do Irã"


IRÃ - 24/02/2012 16h53 - Atualizado em 24/02/2012 17h33
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"É impossível prever a reação do Irã"

Para o cientista político Richard Haas, um ataque de Israel ao Irã é provável, mas ainda é possível encontrar uma solução diplomática para a questão nuclear iraniana

JULIANO MACHADO E RODRIGO TURRER

Richard Haas, presidente do Conselho de Relações Exteriores, no Fórum Econômico Mundial, em fevereiro, na Suiça (Foto: Scott Eells/Bloomberg/Getty Images)
A hipótese de Israel bombardear instalações nucleares iranianas é cada vez mais provável, e os líderes israelenses podem tomar a decisão mesmo sem consultar seu principal aliado internacional, os Estados Unidos. “Para os líderes de Israel, é melhor agir do que esperar e arriscar-se a não fazer algo que Israel considera essencial para sua segurança”, diz o cientista político Richard Haass, de 61 anos, presidente do renomado Conselho de Relações Exteriores (Council on Foreign Relations – CFR), que edita a revista Foreign Affairs. Haas, no entanto, pondera que seria melhor insistir em soluções diplomáticas para a questão nuclear iraniana. “Eu recomendo uma ação no campo diplomático para persuadir os líderes iranianos, porque as sanções e a intervenção militar podem não convencer o Irã a mudar suas políticas”, afirma. Na próxima semana, Haas visitará o Brasil para encontros com políticos, acadêmicos e pessoas do setor financeiro. “É uma viagem para compreender melhor as conquistas do Brasil nos últimos anos, mas também para entender seus desafios”, diz Haas. “Os americanos conhecem menos o Brasil do que deveriam”.
Época – Em um artigo para o Wall Street Journal, publicado na última quarta, o analista Michael Levi e o senhor sugerem que os Estados Unidos deveriam deixar claro para o povo iraniano que tentou-se uma negociação razoável com o Irã. Essa seria uma forma de pressionar as autoridades iranianas. Os esforços do Ocidente poderiam de alguma forma superar a propaganda de Teerã em relação à imagem de grandeza que um programa nuclear representa?
Richard Haass –
Nossa proposta não pretende eliminar o programam nuclear iraniano, mas fazer uma distinção entre um programa nuclear e um programa de armas nucleares. Em essência, sugerimos que deve-se permitir que o Irã mantenha um programa nuclear, desde que as inspeções sejam liberadas, ou haja informações suficientes e robustas que assegurem ao mundo que a produção de urânio do Irã é limitada para fins pacíficos. Na nossa visão, essa é uma mensagem que pode afetar o povo iraniano, porque não tenta humilhar o Irã  e seria um caminho que não requer sanções econômicas nem uma intervenção militar. Esperamos que uma oferta dessa tenha apelo para os iranianos e para alguns integrantes da dividida liderança iraniana, que poderiam achá-la atrativa ou ao menos difícil de rejeitar diante de um quadro pior.
Época – Isso poderia funcionar dentro do Irã?
Haass –
É uma boa pergunta, mas eu não sei. É bem possível que não, dada a profunda divisão das lideranças iranianas, e pela maneira como tal oferta seria mostrada dentro do pais. Ela provavelmente seria rejeitada. Neste caso, deveríamos continuar usando as outras ferramentas disponíveis, desde sanções econômicas até uma intervenção militar. Eu preferiria uma solução diplomática. Mas se o Irã rejeitar todas as soluções ofertadas, o mundo não terá outra alternativa senão tentar as outras saídas. Neste caso, a responsabilidade será do Irã.
Época – O Irã se recusa a permitir que uma equipe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) inspecione uma instalação militar onde há suspeitas de atividades nucleares. Esse tipo de atitude de Teerã não fortalece os argumentos a favor de um ataque preventivo contra o país?
Haass –
Sem dúvida. Se o Irã impedir as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica aumentará a preocupação do mundo de que eles estão, na verdade, desenvolvendo atividades ilegais de produção de armas nucleares ou combustível para armas nucleares. Pior: vão reforçar os argumentos daqueles que defendem uma intervenção militar rápida porque o Irã estaria próximo de ter uma arma nuclear.
Época – O senhor acredita que as sanções são capazes de forçar o Irã a negociar?
Haass –
As soluções diplomáticas são a melhor alternativa. As sanções podem ser efetivas se o restante do mundo as apoiar. Esse parece ser o caso. Nos últimos tempos, as sanções enfraqueceram a moeda e a economia iraniana, afetaram a maioria de suas importações, inclusive de alimentos. Mas eu recomendo uma ação no campo diplomático para persuadir os líderes iranianos, porque as sanções e a intervenção militar podem não convencer o Irã a mudar suas políticas. O diálogo é uma boa forma de tentar mudar isso. O que espero é que os líderes iranianos mudem seu comportamento, mas isso compete a eles. Apenas as sanções, de modo isolado, não farão os iranianos mudarem o seu comportamento. Só o que podem fazer é fortalecer o argumento daqueles que não querem mudar a política nuclear iraniana.
Época – As sanções não tem um resultado limitado quando países-chave como Russia e China se negam a participar?
Haass –
A decisão de Rússia e China de não apoiarem a última rodada de sanções foi péssima e aumenta a chance de conflitos na região. Isso é a última coisa que a China deveria querer. A política externa da China vai contra os próprios interesses chineses. A Rússia tem interesse na instabilidade, porque consegue elevar o preço de produtos energéticos. Ao não apoiar as sanções, a China aumenta as chances de criar instabilidade na região, e isso pode aumentar o preço da energia. A China deveria tentar evitar qualquer situação conflituosa que elevasse o preço de combustíveis ou interrompesse o fornecimento de suprimentos. Não entendo o comportamento da China.
Época – Há uma divisão evidente dentro do governo iraniano – o presidente Mahmoud Ahmadinejad de um lado, o aiatolá Ali Khamenei do outro. Qual lado o senhor acredita que terá papel decisivo na negociações com o ocidente?
Haass –
Difícil responder. Nenhum observador ou analista estrangeiro pode saber. No meu caso, acho difícil analisar e prever o funcionamento interno do governo do Irã, porque são inúmeras autoridades divididas e uma combinação única de autoridades políticas e religiosas, assim como múltiplas organizações de segurança. Nessas horas é preciso ser intelectualmente modesto e admitir que é difícil ter qualquer opinião. Temos de admitir que há coisas que não sabemos e são impossíveis de saber. O caso do Irã é um desses exemplos impossíveis de analisar do lado de fora. Aliás, é difícil até para quem observa de dentro do Irã.
Época – O lógico para Teerã seria assumir um compromisso com o sexteto, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha, e evitar um ataque militar. É possível esperar atos sensatos do regime iraniano?
Haass –
Outra boa pergunta para a qual não há resposta (risos). Tudo que nós, governos estrangeiros, analistas e observadores, podemos fazer do lado de fora é dar a eles uma oportunidade de agir de maneira razoável. Podemos oferecer posições e políticas que não busquem humilhar o povo iraniano. Oferecer benefícios que eles possam aceitar e sintam-se inclinados a aceitar, sem adotar sanções econômicas ou intervenções militares. Mas só os líderes iranianos podem aceitar ou rejeitar as ofertas. No curso da história, eles tem tomado atitudes que simplesmente não consigo entender. Atitudes que eu não descreveria como racionais, ao menos não na minha análise de custos e benefícios. Novamente digo: é impossível prever o comportamento do Irã.
Época – Na sua opinião, qual a probabilidade de um ataque israelense contra o Irã? Os israelenses atacariam o Irã sem consultar os americanos?
Haass –
No contexto atual, ninguém deve descartar nenhuma das duas possibilidades. Porque muitos em Israel acreditam estar genuinamente ameaçados pela possibilidade de um bomba nuclear iraniana. Os líderes israelenses preocupam-se com as conseqüências dessa arma nuclear para a segurança de Israel e para o equilíbrio da região. Há pessoas em Israel que vão concluir que, apesar de todos os custos e riscos, é mais interessante para o país assumir a responsabilidade e lançar um ataque preventivo do que esperar uma posição dos seus amigos mais próximos, os americanos. Para Israel, é melhor atacar o Irã do que arriscar-se a não fazer algo que o país considera essencial para sua segurança.
Época – Falando sobre outro país conturbado: o senhor acredita que a Síria seguirá o caminho da Líbia para tirar Bashar al-Assad do poder?
Haass –
Os líbios só foram capazes de tirar Khadafi do poder por causa da ajuda da Otan. Não acredito que os opositores do regime sírio vão contar com uma ajuda dessas. Não haverá uma intervenção direta do Ocidente na Síria, muito menos uma intervenção militar. Os opositores do regime sírio vão receber, já estão recebendo, suporte militar e armas do exterior. Eles terão de assumir sozinhos a tarefa de depor Assad e lutar contra o regime.
Época – O senhor visitará o Brasil na semana que vem. Qual o objetivo da visita?
Haass –
O propósito da visita é permitir que um grupo distinto de americanos do mundo dos negócios, finanças, academia e artes conheçam melhor o Brasil. Honestamente, os americanos conhecem menos o Brasil do que deveriam. O Brasil tem uma importância grande no cenário mundial, e terá cada vez mais no futuro próximo. Quando falo em importância me refiro ao envolvimento bilateral com os Estados Unidos, a liderança do Brasil na região e seu papel no mundo. Pensamos em ter um quadro mais fiel dos desafios e problemas que o Brasil tem nos campos econômico, social e educacional. Participarei de encontros com líderes políticos, acadêmicos e pessoas do setor financeiro. É uma viagem para compreender melhor as conquistas do Brasil nos últimos anos, mas também para entender seus desafios.
Época – Em uma entrevista para a ÉPOCA, em 2008, o senhor disse não saber qual papel o Brasil desempenharia no cenário mundial. Quatro anos depois, está claro para o senhor se o Brasil decidiu seu caminho?
Haass –
Ainda não é possível saber. Não sei se é porque não entendo o Brasil o suficiente, o que acho bem provável, ou se é porque os líderes brasileiros ainda não se decidiram. Nos últimos anos o Brasil, de maneira correta, concentrou seus esforços, sua atenção e seus recursos em seu próprio desenvolvimento doméstico. Desenvolvimento econômico, social, e político. Isso faz todo o sentido e foi uma grande conquista. De agora em diante, será invitável para o Brasil assumir um papel mais relevante no mundo. Em questões econômicas, de recursos energéticos, de mudança climática. Quais objetivos específicos o Brasil vai perseguir ainda não está claro, nem de que forma o Brasil vai atingi-los. O Brasil ainda é um país emergente. Todos os países emergentes no mundo levarão décadas para assumir e definir que papel vão desempenhar no cenário mundial, quais objetivos vão desenvolver e quais compromissos vão priorizar e assumir. O Brasil ainda está na fase inicial desse processo, assim como outros emergentes, os BRIC, a Turquia. Isso é algo que evoluirá ao longo das próximas décadas.

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