CAPITAL MUNDIAL DA CELULOSE

 CELULOSE 06/10/2010

Três Lagoas - Capital mundial da celulose (trecho)

Bem-vindo a cidade de Três Lagoas. Saiba por que de tradicional capital do gado esse município de Mato Grosso do Sul tornou-se o destino prioritário de investimentos bilionários da indústria de celulose. É também um caso emblemático para entender a transformação desse setor no Brasil e no mundo

Por Karla Spotorno, de Três Lagoas • Fotos Luiz Maximiano
Leia nesta página um trecho da reportagem de Época NEGÓCIOS. O texto integral pode ser lido na edição de outubro de 2010. Assinantes têm acesso à reportagem na íntegra, clicando aqui.
Luiz Maximiano
DE CARONA
José Luiz Esteque, empresário do transporte executivo, está tirando partido do boom da celulose com serviços para as novas indústrias
Sábado, 11 horas da manhã. O sol quente em pleno fim de inverno só aumenta o desconforto dos motoristas que tentam, em vão, achar uma boa vaga para estacionar. No centro da cidade de Três Lagoas, interior de Mato Grosso do Sul, o comércio ferve. É o melhor dia para as vendas, segundo os comerciantes que já não fecham mais as lojas ao meio-dia. Dono de uma empresa de transporte executivo, José Luiz Esteque não pode reclamar do trânsito. O aumento de 50% dos veículos nas ruas reflete o crescimento da cidade e do próprio faturamento. Os negócios geram mais de R$ 150 mil por mês para esse paulista que, há 22 anos, mudou-se de Adamantina para participar do plantio da primeira floresta de eucaliptos da antiga Champion, onde trabalhava. A empresa, que nos anos 90 foi incorporada à International Paper, planejava, na década anterior, instalar uma fábrica de celulose na cidade, localizada na divisa com o estado de São Paulo e cortada pela ferrovia Novoeste.
Por anos, Esteque entrou na floresta para guiar grupos de executivos estrangeiros e técnicos da empresa, que questionavam se aquele pedaço de terra tinha condições de receber uma indústria. A resposta positiva chegou depois de quase duas décadas e de uma série de mudanças. Em 2007, as fábricas começaram a ser construídas, fruto de um acordo entre a brasileira Fibria, maior fabricante de celulose do mundo, e a subsidiária da americana International Paper. Hoje, a cidade produz 1,3 milhão de toneladas de celulose por ano, sendo a maior parte exportada pela Fibria e o restante fornecido diretamente para a vizinha International Paper, de onde saem 200 mil toneladas por ano de papel para imprimir e escrever. A parceria entre as duas empresas cumpriu a promessa dada à cidade nos anos 80 e inseriu Mato Grosso do Sul na geografia do setor.
De capital brasileira do gado, a cidade está se transformando na metrópole global da celulose. Com os novos projetos da Fibria e da estreante Eldorado Brasil, o município vai produzir mais de 4,3 milhões de toneladas de celulose por ano a partir de 2014. É a maior produção individual de uma cidade no mundo. Para merecer o novo título, Três Lagoas vai receber do setor mais R$ 10,6 bilhões em investimentos diretos. É uma verdadeira revolução industrial em um município historicamente sustentado pela pecuária e pelo funcionalismo público da extinta Rede Ferroviária Federal.
Mas por que essa indústria decidiu se fixar em uma cidade sem nenhuma cultura industrial, nem mão de obra especializada em celulose e papel? A floresta, que começou a ser plantada pela Champion, fornece uma pista. As árvores já estavam prontas para ser derrubadas e tinham a qualidade técnica necessária para produzir a commodity. Outra razão é a fartura de terras ainda baratas e adequadas para o plantio do eucalipto no nordeste de Mato Grosso do Sul. Por ser baseada em matéria-prima agrícola, essa atividade demanda centenas de milhares de hectares agriculturáveis. Para produzir 1,3 milhão de toneladas de celulose por ano, a Fibria precisa de 125 mil hectares de eucalipto. Quanto menor a distância entre essas propriedades rurais e a fábrica, menor será o custo da operação. No caso da Fibria, a floresta mais distante da fábrica está a apenas 120 quilômetros por rodovia.
A população não tornou o impacto ambiental um assunto prioritário

Outra questão importante diz respeito à possibilidade de ampliar a capacidade produtiva. No projeto de Três Lagoas, os engenheiros da Fibria planejaram construir a maior linha de produção do mundo à época (1,3 milhão de toneladas por ano), tendo em vista a implantação de uma segunda linha (1,5 milhão de toneladas por ano). O mesmo está acontecendo na Eldorado Brasil, do grupo JBS. A equipe de engenharia já tem em vista pelo menos mais uma unidade vizinha à primeira. Carlos Aguiar, presidente da Fibria, afirma que a principal razão para investir em Mato Grosso do Sul foi realmente a disponibilidade de áreas para floresta suficientes para abastecer mais de uma unidade. Quando opta por uma região onde ainda não possui fábrica, o investidor confronta-se com questões como tratamento de efluentes, abastecimento de energia, destinação de resíduos sólidos, tráfego dos caminhões, mão de obra capacitada, fornecedores especializados, prestadores de serviços habilitados. “O retorno de uma fábrica brownfield [projeto elaborado em um lugar onde já há estrutura industrial] é muito maior do que o de um projeto greenfield. Por isso, não faz sentido ir para um lugar para construir apenas uma linha de produção”, diz Aguiar.
A vocação logística da região também pesou fortemente para cimentar os investimentos bilionários. O escoamento da produção pode ser feito por rodovia, ferrovia ou pela hidrovia Paraná-Tietê, que fica à margem da cidade. A ferrovia, que corta o centro do município, é a opção mais comum para os exportadores. De Três Lagoas ao porto de Santos, os comboios ferroviários, administrados pela ALL, levam cerca de cinco dias. Renato Ottoni, gerente industrial da Fibria em Três Lagoas, aguarda, já no próximo ano, a inauguração de um ramal ferroviário e do novo traçado da linha férrea, que passará a contornar o município. “Com o ramal, o trem entrará dentro da empresa”, diz Ottoni. O acesso a Três Lagoas também pode ser feito por estradas federais e estaduais asfaltadas, algumas delas duplicadas. A maior carência, porém, está no transporte de passageiros. Para chegar à cidade, é preciso voar até Campo Grande, distante 340 quilômetros, ou para aeroportos no estado de São Paulo, como o de Araçatuba e São José do Rio Preto, que ficam a 150 e 270 quilômetros, respectivamente. A pista do futuro aeroporto, com 2 quilômetros de comprimento, já está concluída. Mas ainda falta infraestrutura para receber os viajantes e a instrumentação. Segundo a previsão de Márcia Moura, prefeita de Três Lagoas, a inauguração deve ocorrer no ano que vem.
Mesmo sem aeroporto, o trunfo logístico de Três Lagoas pode ser considerado imbatível. Tanto é assim que o número de indústrias cresceu 40% entre 2006 e 2009, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul. Novas companhias planejam investir na região. Neste ano, a Petrobras anunciou a instalação de uma fábrica de fertilizantes ao lado do gasoduto Brasil-Bolívia, que passa pelo município, num projeto estimado em mais de US$ 2 bilhões. E a Votorantim Siderurgia e o empresário Alexandre Grendene Bartelle estão investindo R$ 180 milhões na construção de uma siderúrgica na mesma área.
Luiz Maximiano
METAMORFOSE
O progresso trazido pela indústria ainda não chegou a bairros como este, na região central de Três Lagoas. Apenas a metade das ruas do 

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