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A volta ao mundo até a esquina

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A volta ao mundo até a esquina 57 Meu avô passou os últimos 14 anos de sua vida num auto-exílio praticamente absoluto. Desde que minha vó morreu, em agosto de 1998, trancou-se em si mesmo na mesma e única casa do mesmo bairro da mesma cidade em que sempre viveu. Quando o visitava, percebia que pouco naquela casa havia mudado desde nossa infância: os móveis, a velha vitrola, os quadros do casamento dos filhos na parede, a coleção de chaveiros, o filtro de barro, as orações que se acumulavam e envelheciam num velho suporte de ferro. A rotina era um circulo perfeito: nenhum empregado dentro de casa, as funções domésticas diárias, as mesmas roupas, o mesmo chinelo, os mesmos programas da tevê no fim da tarde, a missa com o mesmo padre da mesma igreja no mesmo horário de todos os sábados. À saída, pegava o mesmo lanche, do mesmo sabor, no mesmo supermercado. E voltava para casa no mesmo horário. O personagem de Anthony Hopkins em ’360′ dá a sensação de que já o vimos em algum

Dilma quer “o maior crescimento possível” em 2013 e defende redução de impostos

Dilma quer “o maior crescimento possível” em 2013 e defende redução de impostos 24 A presidenta Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira 27 que está fazendo “o possível e o impossível” para que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano seja o maior possível. Para ela, a retomada da economia mundial, principalmente dos Estados Unidos e da China, deve beneficiar o Brasil. Dilma disse ainda que não pretende fazer mudanças no comando do Ministério da Fazenda. “O Mantega [Guido Mantega] não tem a menor hipótese de sair do meu governo, a não ser que queira”. “O ano de 2013 terá um ambiente melhor, que também vai ser propício ao Brasil. Mas nós somos uma economia que pode caminhar pelos seus pés”, disse a presidenta, durante café da manhã com jornalistas. “O Brasil tem que ter crescimento sustentável e contínuo, com grau de sustentação muito alto. Este foi o ano de buscar a competitividade. É algo que teremos que fazer permanentemente a partir de agora, mas a par

Cuidado: pode ser o ovo da serpente

Cuidado: pode ser o ovo da serpente 69 “O direito de defesa vem sendo arrastado pela vaga repressiva que embala a sociedade brasileira. À sombra da legítima expectativa de responsabilização, viceja um sentimento de desprezo por garantias fundamentais.” Márcio Thomaz Bastos “Nós entregamos aos nossos juízes – individualmente considerados—  e aos tribunais, mais poder do que eles precisam para exercer suas funções.” Sérgio Sérvulo O ministro Joaquim Barbosa declara em sua entrevista de final de ano — a primeira de seu recém iniciado mandato,  que não há Poder após o Judiciário (e, aparentemente, nem antes…) e que suas decisões são  inapeláveis. Esqueceu-se de dizer, porém, que isso não as livra, as decisões, de corrigenda, quando se trata de matéria criminal.  É o caso da anistia (C.F. arts. 21, XVII e 48, VIII), e é o caso do indulto e da comutação da pena pelo presidente da República (C.F. art. 84, IX). E não é só, pois o ministro Joaquim Barbosa e seus colegas não e

Estátua de Hitler em Varsóvia cria polêmica

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Estátua de Hitler em Varsóvia cria polêmica 31 De Varsóvia ‘Ele’ (2001) em mostra em Färgfabriken, Estocolmo, Suécia. Cera, cabelo humano, terno, resina de poliéster. Foto: Paolo Pellion di Persano Através de um buraco em um portão de madeira na rua Prozna, no centro da capital, é difícil identificar o pequeno homem de costas, talvez um menino. Ele está ajoelhado e reza. Ele , o titulo da obra do artista italiano Maurizio Cattelan colocada no antigo gueto da capital polonesa, é Hitler. Na infância todos os seres humanos foram “tenros, inocentes e indefesos”, argumenta Fabio Cavallucci, diretor do Centro de Arte Contemporânea, responsável pela instalação. É incrível, mas o rabino chefe da Polônia, Michael Shudrich, acredita que a estátua de Cattelan levanta questões morais. Já o Simon Wiesenthal Center, organização mundial que promove direitos humanos e a luta contra o antissemitismo, é mais realista. Em um comunicado sobre  Ele  emitido pelo SWC lê-se: “Trata-s

Antítese 28.12.2012 09:00 Os novos atores políticos

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Política Vladimir Safatle Antítese 28.12.2012 09:00 Os novos atores políticos 142 Um dos fatos mais relevantes de 2012 foi a transformação dos juízes do Supremo Tribunal Federal em novos atores políticos. Já há algum tempo o STF virou protagonista de primeira grandeza nos debates políticos nacionais, ao arbitrar grandes questões ligadas à vida nacional em um ambiente de conflito. Por tal razão, vemos hoje um fato absolutamente inédito na história nacional: juízes do STF reconhecidos por populares. Durante décadas, a Suprema Corte era um poder invisível para a opinião pública. Ninguém via no Supremo a expressão de um poder que poderia reverberar anseios populares. Hoje é inegável que algo mudou, principalmente depois do julgamento do chamado “mensalão”, no qual o tribunal procurou traduzir em ações as demandas sociais contra a corrupção. Nesse contexto de maior protagonismo do STF, algumas questões devem ser colocadas. Fala-se muito da espetacularização do Ju

Congresso deixa de votar projetos importantes para o país

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Política Agência Brasil Câmara e Senado 30.12.2012 14:25 Congresso deixa de votar projetos importantes para o país 9 Karine Melo Repórter da Agência Brasil Brasília –  O Legislativo encerrou o ano sem avançar em projetos considerados fundamentais para o país. Para alguns parlamentares, a culpa foi do período eleitoral, que esvaziou o Congresso. Para outros, o insucesso de algumas matérias passa longe das eleições: tem a ver com a falta de consenso e de empenho do governo para garantir as votações. A relação de propostas legislativas importantes paradas é grande. Projetos que tratam de reforma política e tributária foram os mais citados entre os parlamentares ouvidos pela  Agência Brasil . Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a não votação do Fundo de Participação dos Estados (FPE) tornou-se um problema. Em 2010, o STF julgou inconstitucional a regra de partilha do FPE entre os estados e determinou ao Congresso que aprovasse outra até 31 de dezembro

“A educação colabora para a perpetuação do racismo”

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Política Carta Capital Entrevista - Kabengele Munanga 30.12.2012 08:28 “A educação colabora para a perpetuação do racismo” 187 a Adriana Marcolini Nascido no antigo Zaire, atual República Democrática do Congo, em 1942, o professor de Antropologia da Universidade de São Paulo Kabengele Munanga aposentou-se em julho deste ano, após 32 anos dedicados à vida acadêmica. Defensor do sistema de cotas para negros nas universidades, Munanga é frequentemente convidado a debater o tema e a assessorar as instituições que planejam adotar o sistema. Nesta entrevista, o acadêmico aponta os avanços e erros cometidos pelo Brasil na tentativa de se tornar um país mais igualitário e democrático do ponto de vista racial. Retrato do professor da USP Kabengele Munanga, estudioso do racismo CartaCapital:   O senhor afirma que é difícil definir quem é negro no Brasil. Por quê? Kabengele Munanga:  Por causa do modelo racista brasileiro, muitos afrodescendentes têm dificuldade