Conheça o trabalho do Instituto ABCD: nenhum aluno pode ficar para trás


GENEROSIDADE - 10/09/2012 07h00
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Conheça o trabalho do Instituto ABCD: nenhum aluno pode ficar para trás

Instituto ensina os professores da rede pública a cuidar dos estudantes com transtornos de aprendizado e a evitar que eles acabem excluídos da escola

LUCIANA VICÁRIA
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BOM COMEÇO Mônica brinca com Gabriel em sua primeira visita ao Instituto ABCD, em São Paulo. Ele chegou ao 5º ano com dificuldades de leitura (Foto: Leticia Moreira/ÉPOCA)
Projeto Generosidade (Foto: reprodução)
O estudante paulistano Gabriel Nascimento tem 11 anos e ainda lê com dificuldade. Raramente acompanha as explicações da professora na lousa e confunde os números com três dígitos. Já no início de sua alfabetização, aos 6 anos, a família notou que Gabriel evoluía lentamente. Sem diagnóstico ou acompanhamento especial na escola pública, o menino foi ficando para trás. Aprovado até a 5ª série, Gabriel seguiu ano a ano sem compreender um texto de cinco linhas. “Chegamos a uma situação-limite. Preciso saber o que há de errado com ele para poder ajudar”, diz a mãe, Crescia Xavier. Ela suspeita de dislexia.
A família de Crescia é uma das cerca de 400 na lista de espera do Instituto ABCD, em São Paulo. A fila é até pequena diante da estimativa de crianças que não acompanham o ritmo de sala de aula: em torno de 7 milhões de crianças no Brasil. Elas vivem o drama de ser excluídas na escola, sem o diagnóstico de profissionais do sistema público de saúde. Para ajudar, o Instituto ABCD ensina professores e agentes de saúde a lidar com crianças e adolescentes com dificuldades para aprender.
O ABCD é sustentado pelo empresário carioca Patrice de Camaret, de 59 anos, dono de fundos de investimento. Seus dois filhos também tiveram problemas com aprendizado. Mesmo em boas escolas privadas, enfrentaram as dificuldades de adaptação à escola e de diagnóstico. Diante da falta de apoio no Brasil, Patrice mudou-se com a família para Londres, onde mora até hoje. Lá encontrou escolas dedicadas a crianças com dificuldades para aprender. A partir dessa descoberta, resolveu criar em 2009 uma instituição que ajudasse as crianças no Brasil. Só neste ano doou R$ 1,8 milhão à organização.
O instituto tem uma equipe de neurologistas, pedagogos, fonoaudiólogos e psicólogos das melhores universidades do país. Todo ano, debatem os novos estudos científicos e revisam práticas educacionais. Com as conclusões, atualizam a cartilha que usam no curso gratuito para professores do 1º ao 5º ano e agentes de saúde. “Temos de acabar com esse jogo de empurra. O professor acha que não pode fazer nada pelo aluno, e o agente de saúde está despreparado para lidar com a questão”, diz Mônica Weinstein, diretora do ABCD.  
Para chegar até os professores, o ABCD procura as cidades com baixo rendimento no Ideb, o índice nacional que avalia crianças do ensino básico. Neste ano, atende as cidades de Caraguatatuba, São Roque e Campos do Jordão, todas em São Paulo. Em parceria com as secretarias de Educação e Saúde, os professores passam a ter aulas extras semanalmente. A equipe do ABCD vai direto ao ponto: aborda a forma como a criança aprende, as razões que levam um aluno a não aprender e as melhores estratégias para ensiná-los.
A professora Maria da Costa Santos, de Caraguatatuba, está prestes a concluir o curso. Ela diz que, como boa parte de seus colegas de trabalho, não conhecia as características de uma criança com dislexia ou deficit de atenção. “Por não entender o que se passava com essas crianças, eu as excluía do processo de ensino, tirava delas a chance de aprender.”
Maria afirma que passou a diversificar as formas de dar aulas. Começou a buscar inspiração em jogos de tabuleiro e brinquedos infantis, estimulada pelo curso do Instituto ABCD e pelo conhecimento que acumulou sobre transtornos de aprendizagem. A cartilha do curso não sai da pasta de Maria. Ela ainda criou um grupo de discussão on-line para compartilhar as experiências com colegas de profissão. “Assumi o compromisso de ensinar a todos os meus alunos. É um desafio que tem me tornado uma professora melhor”, afirma.
Desde sua criação, o Instituto já deu cursos para 4.700 professores, que atendem 141 mil crianças. Além do trabalho local nas cidades atendidas, seus profissionais recebem as crianças nos próprios centros de apoio. Oferecem aulas de reforço, mesmo sem ter profissionais disponíveis para fazer o diagnóstico. “Essas crianças não podem esperar mais um ano na fila. Podemos fazer muito por elas antes que os médicos nos deem o laudo”, diz Mônica, do ABCD.
Ela sabe que o tempo de espera tende a piorar a situação das crianças. Ela mesma tem uma filha com transtorno de aprendizagem. Sua família, assim como muitas das que hoje atende na instituição, passou oito anos em busca de um diagnóstico. Consultou pelo menos 12 profissionais até descobrir que a filha tem discalculia, um transtorno que dificulta a compreensão dos números. “Escutei de professores que ela era preguiçosa e desatenta”, afirma Mônica. “Aquilo virou um problema familiar. Todos sofremos muito.” Segundo ela, o diagnóstico costuma ser complexo e demorado. Envolve acompanhamento da criança por uma equipe multidisciplinar, prática ainda rara no serviço público. 
Projeto Generosidade 2012 (Foto: Editora Globo)

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