Reportagem de ÉPOCA sobre obra em Goiás irritou quadrilha de Cachoeira


BRASIL - 27/05/2012 10h27 - Atualizado em 27/05/2012 16h44
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Reportagem de ÉPOCA sobre obra em Goiás irritou quadrilha de Cachoeira

Diálogos capturados pela Operação Monte Carlo mostram que o bicheiro mantinha sociedade com a empresa atingida pela denúncia sobre o Parque do Mutirama

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As escutas telefônicas capturadas na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, revelam que o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o diretor da Delta Construções, Cláudio Abreu, ficaram incomodados quando ÉPOCA publicou, em agosto de 2011, uma reportagem sobre obras no Parque Mutirama, em Goiânia. Sob o título “O ministro entrou na festa”, a reportagem informava que, a pedido do Ministério Público, a Polícia Federal abrira inquérito para investigar suspeitas de irregularidades na licitação da obra, vencida pela empreiteira Warre Engenharia. A obra é financiada pelo Ministério do Turismo. O assunto é tratado em dois diálogos captados durante a operação Monte Carlo, da Polícia Federal.
Num deles, Cláudio Abreu chama a revista de “filhos-da-p...” por continuar a investigação. No dia 15 de agosto de 2011, uma segunda-feira, Cachoeira e Cláudio conversaram por volta das 11h sobre a reportagem publicada na edição da revista que estava nas bancas desde o fim de semana. Cachoeira informa Cláudio que a revista continuava investigando a empreiteira Warre. Os dois travam o seguinte diálogo: 
– (Cachoeira) O pessoal da Época ligou para o Dadá pedindo ajuda para achar mais coisas da Warre. Eles já acharam o aeroporto (inteligível) Fred, no interior do Ceará, que não desce nem jegue lá”, afirma Cachoeira.
– (Cláudio) É o aeroporto de Jericoacoara.

– (Cachoeira) É esse mesmo. Vão bater na Warre essa semana, viu? Ele perguntou o cara, o editor-geral (sic) lá, ligou para o Dadá para perguntar.
– (Cláudio) Pô, vão bater nele cara, não bate na Warre, pelo amor de Deus. Esses filhos-da-p... (leia no quadro o diálogo completo). 

arquivo21 (Foto: Reprodução)

Nesse diálogo, “Dadá” é o araponga Idalberto Mathias, um dos presos no dia 29 de fevereiro durante a Operação Monte Carlo, da Polícia. “Fred” é Frederico Costa, secretário-executivo do Ministério do Turismo, preso na semana anterior ao diálogo por irregularidades relacionadas a repasses de dinheiro a ONGs. Quando fala “diretor-geral”, Cachoeira se refere ao chefe da Sucursal de Brasília de ÉPOCA, jornalista Eumano Silva.
No mesmo dia 15, por volta das 14h30, Cachoeira e Dadá falam do mesmo assunto:

- (Dadá) O pessoal daquela construtora lá (Warre), eles querem é se blindar, é?

- (Cachoeira) ...rapaz, porque eu sou sócio deles nessa obra que saiu na Época e o sócio dele tem trinta por cento e eles têm setenta. Então eu (ininteligível), senão respinga em mim, entendeu? (leia no quadro com diálogo completo).

arquivo11 (Foto: Reprodução)

Da conversa, pode-se deduzir que, ao passar as informações para ÉPOCA, Idalberto não sabia que Cachoeira tinha sociedade também com a Warre Engenharia. O jornalista Eumano Silva conversou com Idalberto algumas vezes durante a apuração da reportagem que denunciou as irregularidades na obra do Parque Mutirama. Nos últimos três anos, Idalberto apresentava-se como funcionário da área de segurança da Delta Construções. Para a reportagem sobre o Parque do Mutirama, Idalberto forneceu informações sobre a Warre Engenharia, concorrente da Delta. ÉPOCA ignorava que Idalberto estivesse ligado a Carlinhos Cachoeira ou a qualquer outra quadrilha.
As informações que Idalberto forneceu sobre a Warre foram todas verificadas e confirmadas pelos autores da reportagem com outras fontes de informação. Os jornalistas fizeram contatos com PF, MPF e empresários de Goiânia. Naquela semana, ÉPOCA investigava novas informações sobre as irregularidades no Ministério do Turismo. A prisão do secretário-executivo, Frederico Costa, e de outros 33 investigados pela Operação Voucher, da PF, que tornara público um grande esquema de corrupção no ministério. Em janeiro de 2011, oito meses antes desse escândalo, Época já publicara uma reportagem sobre a ficha suja de Frederico Costa, promovido a secretário-executivo do Turismo no início do governo Dilma Rousseff.
A denúncia de Época sobre a obra em Goiânia surtiu efeito. No dia 10 de fevereiro de 2012, seis meses depois de publicada a reportagem, a PF prendeu em Goiânia cinco pessoas acusadas de desviar dinheiro da obra do Parque Mutirama, entre elas dois engenheiros da Warre Engenharia. No dia 12 de maio de 2012, o MPF em Goiás pediu a interrupção da obra do Parque Mutirama e o cancelamento do contrato da Warre com a prefeitura de Goiânia.
Desde o final de fevereiro de 2012, quando o bicheiro Carlinhos Cachoeira foi preso, Época antecipou várias denúncias contra sua quadrilha do bicheiro. No dia 2 de março, EPOCA.com.br publicou em primeira mão as relações de Cachoeira com políticos, descobertas pela Polícia Federal. Na reportagem “As ligações de Carlinhos Cachoeira com políticos”, apareceu pela primeira vez a intimidade do bicheiro com autoridades como o senador Demóstenes Torres (na ocasião no DEM) e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
No dia 14 de fevereiro, o Epoca.com.br revelou, na reportagem “Senador Demóstenes Torres tinha rádio exclusivo para falar com Cachoeira”, que a quadrilha de Cachoeira usava telefones habilitados em Miami para tentar evitar grampos.
No dia 13 de abril, ÉPOCA revelou os laços de Cachoeira com a empreiteira Delta na reportagem “A preferida do bicheiro”.
A sucessão de reportagens sobre Cachoeira e a empreiteira Delta Construções comprova que os contatos de Época com um dos presos pela operação, Idalberto Mathias, em nada interferiram na apuração das acusações contra a quadrilha. As conversas de Eumano Silva com o araponga, um ex-sargento do serviço secreto da Aeronáutica, sempre respeitaram os Princípios Editoriais das Organizações Globo. ÉPOCA jamais foi usada para veicular nenhuma reportagem em benefício da quadrilha de Cachoeira. Ao contrário, como mostram os diálogos e as reportagens citadas acima, os interesses da quadrilha foram diretamente atingidos pelas denúncias publicadas. As irregularidades comprovadas pelo MPF e pela PF na obra do Parque Mutirama comprovam que a reportagem de ÉPOCA estava correta. 

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