Pessoas Da difícil arte de acordar

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26/03/2012
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Da difícil arte de acordar

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Leio compulsivamente os romances de Philip Roth – os que eu ainda não havia lido – um atrás do outro. Acontece comigo de vez em quando. Fico anos acumulando livros não lidos de um determinado autor, abrindo eventualmente um ou outro para uma olhada descompromissada, um passar de olhos desavisado por páginas aleatórias, até que de repente um deles me captura e pronto, dá-se a mágica: começo a ler todos os livros desse autor com uma sofreguidão digna de um condenado. É como se eu desvendasse algum código secreto de determinado autor, e isso me proporcionasse o livre acesso a seu universo literário.  Aconteceu com Paul Auster, Marçal Aquino, Don DeLillo, John Fante, Roberto Bolaño e por aí vai (devo confessar que tal fenômeno ainda NÃO se deu com Saramago, por exemplo, com quem simpatizo muito).
Atualmente passo por uma fase Philip Roth. Lendo Pastoral Americana numa noite dessas, adormeci com a frase “Ele aprendera a pior lição que a vida pode ensinar – que ela não faz sentido”. A frase se refere a um determinado personagem do livro que, tendo vivido uma infância e adolescência gloriosas, como um grande atleta e campeão esportivo amador, um herói, acaba se depararando na vida adulta com uma tragédia pessoal que o consome e o conduz ao fracasso e à derrota, sentimentos por ele desconhecidos até então.
Durante a noite sonhei com meu pai, morto há seis meses, e no sonho ele apenas sorria para mim numa calçada da alameda Lorena, em São Paulo (não sei porque cargas d’água a alameda Lorena entrou no sonho, não tenho nenhuma ligação especial com essa rua, e nunca soube que meu pai tivesse), e eu o abraçava com o ímpeto de um filho pequeno, para quem o pai personaliza todas as idealizações e referências. Eu o abraçava com muita força mesmo, tentando matar a saudade, e dizia “que saudades, pai”, e ele apenas se limitava a sorrir.
Quando acordei li no jornal as notícias sobre a descoberta do autor das mortes de sete pessoas, entre elas crianças de uma escola judaica, nas cidades de Toulouse e Montauban, na França. Tudo indica que o suspeito, um radical islâmico, é um terrorista simpatizante da Al-Qaeda que teria matado as crianças judias para vingar crianças palestinas mortas. Que a vida não faz sentido eu já sei há muito tempo. O que eu não sabia é que naquele dia dia seria tão difícil acordar.

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